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Mock documentaries são documentários feitos sobre algum assunto que não aconteceu. A expressão serve para denominar um estilo de ficção que finge ser real. Eles são até concebidos respeitando a estrutura clássica do gênero, mas normalmente possuem um tom humorístico. Xifópagos e roqueiros (Brothers of the head, 2005) é um mock documentary, mas com uma pequena e interessante diferença: ele foi realizado de forma séria. A produção foi feita com extrema competência e realismo para que o espectador desavisado acreditasse em tudo que é apresentado na telona.
O roteiro escrito por Tony Grisoni (roteirista de Medo e Delírio) é baseado nos livros da trilogia Helliconia de Brian Aldiss sobre a vida dos gêmeos siameses Barry e Tom Howe. Eles são interligados por uma pele do abdômen. O documentário é um registro da entrada deles para o mundo do rock, sexo, drogas, álcool, fama e ganância dos empresários. O filme acompanha os dois irmãos desde o seu nascimento até a sua descoberta por Zak Bedderwick (Howard Attfield), um empresário musical. Fica evidente que sua intenção é explorar a curiosidade mórbida sobre a aparência dos dois irmãos. Ele os leva para uma mansão nos arredores de Oxford, onde eles começam a desenvolver suas aptidões musicais e formam uma banda, The Bang Bang. A partir daí são mostrados os ensaios, as composições e os shows em pequenos bares. Tudo isso é mesclado com o dia-a-dia dos dois irmãos, seus momentos alegres, de sofrimento e o relacionamento com as outras pessoas. Diversos truques são usados para dar credibilidade a narrativa, que é costurada com imagens antigas e atuais. Foram usados até atores diferentes, mas bastante parecidos fisicamente para representar os personagens quando jovens e envelhecidos. Cria-se também um filme ficcional sobre a banda que estaria sendo dirigido por Ken Russel, o diretor da opera rock Tommy. Ele, inclusive, aparece para comentar sobre o seu suposto filme. Outros depoimentos e entrevistas incluem pessoas que realmente trabalham no meio musical. Todo esse apuro dá uma idéia de se tratar de uma produção investigativa e jornalística. Keith Fulton e Louis Pepe são co-diretores do filme. Eles foram os responsáveis pelo ótimo documentário Lost in la Mancha sobre as filmagens de Don Quixote, filme do cineasta Terry Gilliam que nunca chegou a ser concluído. No caso de Xifópagos e roqueiros a dupla investe pesado no clima dos anos 70. Psicodelia e imagens granuladas ajudam a dar esse tom com uma edição poética. Fica a impressão que a banda é mais um exemplo de astros da época que, por alguma tragédia, perderam a trajetória de sucesso. Todos os elementos se fazem presentes, como as drogas, a vida desregrada, o sexo e o amor travestido em uma jornalista (Tania Emery) que se apaixona por um dos irmãos. Uma clara alusão a Yoko Ono, dita por muitos, ser a responsável pela separação dos Beatles. Nesse momento a produção ganha depoimentos de médicos sobre uma possível cirurgia para separar os irmãos e as causas físicas e emocionais. Os protagonistas foram interpretados eficientemente pelos irmãos gêmeos Harry e Luke Treadaway, que se entregam ao papel, colaborando para atmosfera trágica dos eventos. Ao final ficamos com a impressão que os motivos da desgraça estão muitos mais ligados aos seus conflitos internos do que na deformidade. Semelhante a vida da maioria dos ícones da música.
Ano: 2005
País: Inglaterra
Classificação: 16 anos
Duração: 93min min