De todas as séries populares da indústria dos jogos, a que nunca conseguiu me conquistar foi God of War. Eu tentei repetidas vezes. Joguei os três títulos da trilogia original da Sony Santa Monica e apesar de reconhecer muitas qualidades presentes, outras franquias da Sony como inFamous e Uncharted me prenderam muito mais.

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A jogabilidade, apesar de repetitiva, tinha seus momentos. O design de fases, confrontos e principalmente os chefões eram bons, e os jogos mostravam bem a capacidade dos consoles da Sony. Entretanto, nada disso era o suficiente para me deixar querendo jogar mais. O combate não era tão divertido e Kratos nunca foi um personagem interessante. Sua personalidade consistia basicamente de ficar com raiva, gritar e matar.

É fácil entender por que ele se tornou um ícone popular, um símbolo da marca PlayStation, mas num nível narrativo, o protagonista era completamente unidimensional. Sem investimento emocional em sua história, foi impossível realmente entrar na experiência.

Em outras palavras, God of War nunca me animou. Mas isso mudou na E3 2016.

A apresentação de um novo God of War na conferência da Sony era algo que havia sido indicado por rumores e relatos alguns dias antes da E3. O fato de o anúncio ter acontecido não foi surpresa, nem a presença de Kratos. O momento em que o novo jogo começou a despertar a minha atenção - e pelas reações em redes sociais, a de muitos outros críticos da franquia - foi quando a câmera girou mostrando a perspectiva a perspectiva.

A câmera automaticamente passa uma sensação diferente, mais íntima e próxima do personagem. O restante da demo, especialmente no que diz respeito à interação com o filho, continuou a surpreender. Ao segurar sua raiva quando o menino não acerta a flecha no alce, Kratos mostrou mais profundidade e personalidade do que em todos os outros jogos combinados. Foi totalmente inesperado, e algo muito bem-vindo.

"Kratos vê seu ódio como uma doença e teme que isso aconteça com seu filho," disse o diretor do jogo, Cory Barlog em entrevista ao Omelete na E3 2016. Esse é o tipo de declaração e ideia que jamais seria associada a God of War, e é por isso que o novo jogo é tão interessante.

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A Santa Monica já deixou claro que as lutas gigantes estarão lá, que as brigas não vão parar, mas agora o foco não é mais em vingança e sim na paternidade. "Ter um filho permite que ele tome novas atitudes. Que tenha uma segunda chance na vida. Ele quer ser melhor... mas isso não significa que ele deixará de ser quem é. Pense nesse game como o filme Os Imperdoáveis. Kratos tem essa última missão pra cumprir. Mas não é de vingança - é como um pai," Barlog adicionou.

O que a Santa Monica parece ter percebido é que a trilogia original de jogos deixou Kratos na posição perfeita para ser o veículo para uma ótima história. Barlog, que virou pai recentemente, admitiu em entrevistas que o personagem era raso e que seu retorno para a franquia veio justamnete porque ele quis mudar isso e quebrar com as convenções do que é esperado de um God of War.

O que ficou claro já na primeira demo é que conceitos clássicos como a fúria espartana ainda estão lá, e podem ser usados na jogabilidade e batalhas contra monstros, mas eles tem um propósito maior. Kratos agora despreza sua ira e quer buscar algo diferente. Ele encontrou em seu filho a chance de ser humano novamente, do mesmo jeito que os desenvolvedores encontraram a chance de criar algo novo. Há uma inegável camada de metacomentário que fala e quebra os paradigmas que giram em torno do deus da guerra. 

Também é fascinante ver como a Santa Monica está inteligando essa narrativa com o gameplay. Há um botão totalmente dedicado ao filho de Kratos, e o que ele faz vai mudar de acordo com o contexto do que está acontecendo no jogo. Automaticamente, a presença de um acompanhante comandado por inteligência artificial, junto com o fato de sua função na jogabilidade ser algo variável, adicionam um grau de variedade totalmente novo à franquia.

O novo God of War ainda vai ter batalhas, violência e cenários grandiosos. Coisas que vão agradar aos fãs da franquia e dar a eles mais deuses para matar. Mas por outro lado, a perspectiva que Barlog e seu time estão trazendo para o jogo é o ar fresco que a série precisava. Depois de quatro jogos no PlayStation 3 e dois no PSP, era hora de algo novo. É possível que algumas pessoas não curtam o novo estilo, mas é admirável ver os desenvolvedores se arriscando e buscando criar algo mais profundo na nova geração de consoles.

Eu sinto que a Santa Monica não vai descartar as partes boas de God of War. Os chefões, as fases incríveis e as lutas de tirar o fôlego estarão lá, mas veremos algo parecido com o que a Naughty Dog fez com Uncharted 4: A Thief's End. O que sempre funcionou estará lá, mas aquilo que faltava - no caso de Uncharted, motivações fortes para o Drake e em God of War, uma personalidade mais completa para o Kratos - pode justamente se tornar a maior qualidade do jogo.

God of War será exclusivo de PlayStation 4 e ainda não tem data de lançamento.