Os jogos de escape room, no qual você deve sair de um local em um determinado tempo, representam um raro caso de gênero que transcendeu a barreira entre o digital e o analógico. Sucesso nos smartphones e em navegadores, em títulos como The Room, a moda passou para o mundo real - só em São Paulo, já são pelo menos 25 salas temáticas com este tipo de experiência.

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Ilustração da sala Inverso do Universo, da Puzzle Room

Mas os escape games reais e digitais têm em algo em comum além de sua popularidade? Existe alguma similaridade em sua elaboração? “Um pouco. O propósito é similar, mas quando se fala no escape game do mundo real, criamos as salas pensando que um grupo de pessoas irá desafiá-la e os enigmas e efeitos no mundo digital são mais fáceis de serem criados do que em um ambiente real e interativo”, diz Rodrigo Matrone, game designer e sócio do Puzzle Room no Brasil.

Criada em 2014 na República Tcheca, a empresa se expandiu para a Suíça e para o Brasil, onde existem duas unidades. A empresa desenvolve todos os seus jogos com uma equipe local, inspirada em cenários como a antiga penitenciária do Carandiru, em São Paulo. Aqui, mais de 15 jogos já foram desenvolvidos e alguns ainda serão lançados.

A elaboração destes jogos, normalmente, consistem em mistérios interconectados e espalhados pela sala - solucionar um leva ao próximo, até chegar ao final. Mas nem sempre é fácil desvendá-los. “Algumas pessoas ficam ao menos 10 minutos só imaginando como seria estar preso em uma cela de um presídio brasileiro. Isso acontece em função da profundidade, inteligência e coerência que conseguimos colocar nas etapas dos jogos”, diz Matrone.

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Rodrigo Matrone, game
designer e sócio do
Puzzle Room no Brasil

A maior diferença entre a elaboração de um escape game virtual para o real, claro, é o cenário, já que as salas presenciais promovem uma experiência lúdica. “O jeito de pensar cada enigma é um processo complexo e nada fácil”, explica o game designer. Cada sala leva de 2 a 3 meses para ser elaborada, dependendo do tema.

Nos jogos de escape presenciais, este profissional é responsável por encabeçar o projeto e definir a mecânica do jogo, tomando cuidado com elementos como balanceamento, detalhes do roteiro, história, tecnologia e cenário. “O processo de criação é feito por uma junção de conhecimentos e referências, e cada jogo é modelado de um jeito. Há jogos que começamos pelo final e outros pelo nome da sala. Mas só após uma boa fase de testes é que o jogo está pronto para ser lançado”, detalha Matrone.

Durante a experiência, a diversão é importante para os jogadores, mas o especialista diz que a interação precisa ser intuitiva e engajadora, com aspectos técnicos que não são colocados em um jogo digital. “Todos os envolvidos na criação entendem de tudo um pouco. Games digitais, marcenaria, eletrônica, robótica e muito conhecimento geral, além de curiosidade sobre materiais e reações”, enumera Matrone, revelando que as salas envolvem tecnologias como sensores e microprocessadores.

Entretanto, os jogos digitais servem de referência - Matrone diz que já utilizou elementos de Resident Evil para compor salas. “Mas o principal é entender o negócio e saber o que realmente as pessoas estão buscando”, ressalta.