Se a influência de Dark Souls é medida pela quantidade de jogos que usam seus elementos de uma forma ou de outra (olá, Nioh), a Deck13 é pioneira. A desenvolvedora alemã não esconde sua admiração pelo trabalho da From Software e a maior prova disso é Lords of the Fallen, game de 2014 que traz uma releitura dos conceitos estabelecidos na trilogia conhecida por sua dificuldade com uma repaginada ocidental nos tutoriais e instruções. The Surge, novo título do estúdio, reúne os aprendizados desta empreitada e traz um desafio mais atraente.

O jogo vem sendo chamado de "Dark Souls sci-fi" desde que foi anunciado, e a alcunha é justificada. Tivemos a oportunidade de jogar uma build do game no último dia 5 e, basicamente, não há maneira melhor de descrever o jogo do que a propaganda sugere.

Enquanto a alma é igual a dos jogos da From, o exterior é diferente. Com alguns toques pontuais na jogabilidade (mais sobre isso adiante), a Deck13 conseguiu dar cara própria ao game, mas o que mais distancia The Surge de sua inspiração é a troca da fantasia medieval pela ficção
científica.

Em um mundo, a humanidade esgotou recursos naturais e a sociedade é organizada em um sistema no qual as pessoas são altamente oprimidas, The Surge se inicia com o protagonista Warren, funcionário de uma fábrica de construção de robôs na qual todos os trabalhadores recebem implantes mecânicos para executar suas tarefas. Após um desastre que destruiu o local, ele acorda e descobre que a maioria de seus colegas e os robôs apresentam um comportamento hostil. 

Por sorte, Warren também é equipado com os mesmos implantes, o que lhe permite acoplar peças mecânicas a todas as partes de seu corpo. Com isso, o roteiro abre o espaço para se adaptar um sistema de equipamentos similar ao de um jogo de temática medieval, com partes robóticas no lugar de uma armadura entre peitoral, braços, pernas e capacete.

The Surge começa sem muita enrolação. Ao contrário de Lords of the Fallen e seu cuidado excessivo em atrair jogadores que viram a cara para Dark Souls, esta nova empreitada é mais confiante de que você saberá o que fazer logo nos primeiros momentos - ou seja, menos tutoriais e menos explicações desnecessárias. Ainda bem.

Os iniciados na seita de Hidetaka Miyazaki vão se sentir em casa assim que pegarem o controle, já que estão adaptados todos os conceitos que, unidos, fizeram de DS tão popular: o combate mais cadenciado e calcado na barra de fôlego, o posicionamento estratégico dos inimigos para surpreendê-lo ao entrar em um cenário, os chefes de dificuldade elevada, os pontos de salvamento escassos (e que ressuscitam seus oponentes a cada vez que você salva) e uma "moeda" que você perde ao morrer, mas tem a chance de recuperar se retornar ao ponto onde pereceu.

A destreza de Warren também é medida pela quantidade de peças que ele veste - quanto mais equipado, mais pesado -, mas, na média, ele é mais veloz do que os guerreiros de Dark Souls. A movimentação do personagem, em modo padrão, seria um meio termo entre DS e Bloodborne, game de Miyazaki fundamentado em defesa pela esquiva. E os ataques, em vez de fortes e fracos, são horizontais e verticais.

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A agilidade é um ponto importante na movimentação de The Surge, ainda que você decida construir um personagem mais parrudo. Em nosso teste, a destreza se provou fundamental para derrotar o chefe que finalizava a build, um tanque bípede que acumulava energia ao sofrer golpes e, quando a barra estava completa, atirava mísseis teleguiados. Nessa hora, era necessário dar mais um golpe para que a máquina entrasse em curto circuito e, enfim, pudesse tomar dano.

Boa parte das tentativas de se defender dos golpes da máquina gigante foi inútil, mesmo com meu personagem em um nível muito mais alto do que o necessário para aquela etapa do jogo. Só consegui derrotá-lo ao usar um golpe que encaixa com o botão de impulso (o equivalente ao rolamento em DS), o que fazia Warren deslizar no chão e atacar com um golpe vertical.

Sistema de equipamentos

A maior mudança nas lutas de The Surge em relação a suas inspirações está na possiblidade de poder mirar em uma parte do corpo específica. É possível bater em partes desprotegidas dos inimigos, causando mais dano. Quando a vida do oponente está baixa, você pode realizar uma execução, destruindo o corpo do adversário a partir do membro selecionado.

Com o mesmo método, você também pode roubar armas e peças de armadura dos inimigos. Mas, para fazê-lo, é preciso mirar na armadura, a fim de enfraquecê-la e separá-la do inimigo na hora da execução. Algumas peças, entretanto, estão destruídas além de um ponto de recuperação, mas podem ser recicladas em materiais que servem de base para remontar a mesma peça, intacta, em um posto médico (o equivalente da fogueira em The Surge).

Sendo assim, a mecânica de bater em partes é uma faca de dois gumes, dando a você a chance de vencer seu oponente mais rápido, ou obter uma arma/armadura desejada, de acordo com a parte do corpo em que você mira.

Além dos equipamentos e do nível geral, elevado com o acúmulo de pontos de energia (as "almas" de The Surge), também há habilidades específicas que podem ser atribuídas ao personagem, como absorver energia mais rapidamente ou ganhar mais vida com itens de cura.

Por fim, os equipamentos e habilidades exigem um gasto de níveis de energia, que é análogo ao nível do personagem. Por exemplo: se você estiver no nível 20, a soma de todos os seus equipamentos e habilidades não podem ultrapassar o nível de energia 20. É mais um ponto que você precisará prestar atenção na hora de gerenciar o seu personagem.

Em uma época na qual os jogos inspirados por Dark Souls são capazes até de transcender sua influência, The Surge terá em seu maior desafio a tarefa de mostrar que não é mais do mesmo. Apesar de ter muito a provar, com um tema ainda não explorado por esse gênero e mudanças pontuais na jogabilidade, há uma boa chance de sucesso.