A primeira aventura no Brasil

A nova publicação

Perry Rhodan é a série de ficção científica mais vendida e mais numerosa do mundo.

Criada em 1961 pelos alemães K. H. Scheer e Clarke Darlton (Walter Earnstin), já ultrapassou os dois mil episódios em seu país de origem.

Chegou ao Brasil em 1966, como Operação Astral, o volume 14 da coleção Galáxia 2000, traduzido de uma edição francesa que agrupava sob um único título os dois primeiros episódios: Missão Stardust e A terceira potência. O livro foi creditado apenas a Scheer. No entanto, Darlton havia escrito o segundo volume.

A série propriamente dita só seria lançada em 1975, aqui, pela Ediouro, uma marca da Tecnoprint, do Rio de Janeiro. Deu as caras como uma espécie de teste de mercado. O logotipo era semelhante ao da edição alemã - Perry Rhodan nas letras desalinhadas, sobre um fundo branco. Em seguida, os livros assumiram um formato que lembrava a publicação norte-americana da Ace, editada a partir de 1968 pelo Mr. Science Fiction, Forrest J. Ackerman, uma das mais importantes personalidades do mundo da ficção científica. Tinha um logo característico, com Perry Rhodan escrito num formato semicircular, debruçado sobre as ilustrações em geral assinadas por Grey Morrow (falecido em 2001, aos 68 anos). Muitas capas desse desenhista apareceram na versão da Ediouro. É curioso que Ackerman fosse um grande fã do título, enquanto Morrow não a apreciava.

A Tecnoprint publicou cerca de 150 livros da epopéia, antes de interrompê-la. Em meados da década de 1980, a mesma editora relançou Perry Rhodan a partir do número 200, A rota para Andrômeda, com novo formato e recuperando um rótulo empregado pela editora na década de 1960, Futurâmica espacial. Os títulos faltantes também foram publicados.

O novo formato, imitando o original alemão, admitia ilustrações internas e coluna de cartas - o que antes não acontecia. A publicação era distribuída em bancas e permitia a compra de números atrasados por reembolso postal. Infelizmente, foi interrompida em 1991 no número 536.

O retorno ao Brasil

Agora, após anos tentando interessar a uma editora brasileira, o Perry Rhodan Fã Clube do Brasil, criado em 1992 e presidido por Alexandre Pereira dos Santos, conseguiu um milagre: o relançamento de Perry Rhodan em nosso país, agora vendido apenas sob assinatura. O feito prova o que os fãs de ficção científica podem conseguir, quando determinados. Rodrigo de Lélis, editor-chefe da nova edição realizada pela editora mineira SSPG, tornou-se o primeiro fã a editá-la no Brasil, uma honra invejada por muitos.

Antes disso, a Tecnoprint havia vislumbrado algum interesse em relançar a série - a partir da sugestão do escritor Octávio Aragão. Chegaram a contactar o autor deste artigo, para atuar como consultor. Aparentemente, a própria editora se esquecera de que um dia havia publicado as aventuras espaciais, e com grande sucesso. Os fãs chegaram primeiro, de qualquer maneira.

Mundo Partilhado

A leitura atenta dos primeiros ciclos de Perry Rhodan trai a influência de autores da golden age da ficção científica norte-americana, nascida e criada nas revistas especializadas surgidas a partir de 1926, com a Amazing stories de Hugo Gernsback.

Os autores mais influentes são provavelmente E. E. Doc Smith, o inventor da space opera, A. E. van Vogt, com suas histórias de mutantes e entidades mentais coletivas, e Isaac Asimov com suas insuperáveis tramas de escopo galáctico.

Ao longo das décadas, outras perspectivas foram agregadas à saga de Rhodan e seus amigos, tornando a série uma das mais complexas obras literárias do século XX, dentro daquilo que se convencionou chamar de shared world ou mundo partilhado, em que vários autores escrevem dentro de um mesmo contexto.

O escopo do rótulo é tão vasto que admitiu séries dentro da série, com seqüências de histórias interligadas, como a dos Especialistas da Divisão III ou a dos Colonos de Fera Cinzenta.

Fãs brasileiros

O primeiro grupo conhecido de fãs de Perry Rhodan surgiu em 1988, como parte integrante do Clube de Leitores de Ficção Científica (fundado em 1985). Faziam parte Sérgio Roberto L. Costa, Maria Ângela C. Bussolotti, Caio Cardoso Sampaio, e eu mesmo. No mesmo ano, foi editado o primeiro fanzine brasileiro dedicado ao tema, O Rhodaniano, em São Paulo. A publicação encerrou o seu Primeiro Ciclo em junho de 1988, e retornou para um Segundo Ciclo em 1996, com circulação irregular.

Em 1991, Alexandre Pereira dos Santos e seu irmão Daniel, criaram o Informativo Perry Rhodan, fanzine que precedeu a fundação do Perry Rhodan Fã Clube do Brasil.

Em 17 de setembro de 1994, a Sociedade Brasileira de Arte Fantástica realizou em São Paulo a I RhodanCon, a primeira convenção nacional voltada para a série alemã. Os irmãos Santos foram os Convidados de Honra, e foi exibido o primeiro filme de Perry Rhodan, mission Stardust (também conhecido como Orbito Mortal), de 1968. Dirigida pelo italiano Primo Zeglio, esta produção germano-italiana é um filme-B estrelado por Lang Jeffries como Rhodan. A projeção foi a primeira destinada diretamente aos fãs brasileiros, graças ao rhodaniano Caio Cardoso Sampaio.