Jack Kirby, um dos maiores nomes dos quadrinhos dos Estados Unidos, co-criador de Quarteto Fantástico, X-Men e Capitão América, ajudou involuntariamente a CIA - agência de inteligência estratégica e ação internacional dos EUA - a resolver a Crise dos Reféns no Irã em 1979. A participação de Kirby foi relatada em uma reportagem recente da revista Wired, que vai virar filme.

O caso começou em 4 de novembro daquele ano, quando manifestantes anti-americanos invadiram a embaixada dos EUA em Teerã, capital do Irã, mantendo todos os funcionários como reféns. O incidente diplomático só se resolveria em 20 de janeiro de 1981, quando os mais de 50 reféns foram finalmente libertados.

1

None

O que não se sabia até pouco tempo era que alguns funcionários da embaixada haviam conseguido fugir do prédio no dia da invasão, e estavam num esconderijo em Teerã. A CIA manteve esta informação - e o plano de resgate destas pessoas - em sigilo até recentemente.

O plano foi literalmente cinematográfico. O agente Tony Mendez propôs a idéia de disfarçar-se como um produtor de cinema irlandês que estaria visitando Teerã para escolher locações de uma superprodução. Para convencer o alto escalão da CIA, Mendez planejou perfeitamente a operação, inclusive com detalhes da sua produtora fictícia: escritório, cartões de visita e até currículos falsos para toda a sua equipe.

Faltava o filme. Mendez tinha um contato em Hollywood que sabia de uma produção não-realizada que fecharia perfeitamente com locações no Irã: Lord of Light, adaptação de um romance de ficção científica de Roger Zelazny que se passava num planeta inóspito recém-colonizado, que aproveitaria bem o visual desértico do Irã.

É onde entra Kirby, que havia feito todos os desenhos conceituais para o filme. O produtor Barry Geller havia inclusive tido a idéia de uma parque de diversões temático baseado no filme, para o qual Kirby também imaginou - à moda de seus desenhos megalomaníacos - uma montanha russa de 90 metros de altura, uma central de controle mantida por robôs, um domo com o dobro da altura do edifício Empire State e carros Maglev.

Apesar de todo entusiasmo, o filme foi por água abaixo quando um funcionário da produção foi preso por maracutaias financeiras.

Porém, com roteiro e desenhos bastante críveis na mão, a CIA tinha tudo para comprovar às autoridades iranianas o propósito de sua entrada no país. A produtora fictícia encontrou os funcionários da embaixada refugiados da crise e conseguiu trazê-los de volta aos EUA a partir de um elaborado jogo de identidades secretas que ludibriou os iranianos. A operação estratégica resultou mais cinematográfica do que Lord of Light.