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Entrevista

Homem de Ferro 3 | Omelete entrevista Shane Black e Kevin Feige

Diretor do filme e presidente da Marvel falam do "estresse pós-traumático" de Tony Stark

06.03.2013, às 17H41.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

Nesta semana em que o Homem de Ferro celebra seu aniversário de 50 anos, publicamos a nossa primeira entrevista com Robert Downey Jr. sobre o terceiro filme da série. Agora é hora de conversar com Shane Black e Kevin Feige - respectivamente o diretor do longa e o presidente do Marvel Studios.

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Segundo eles, a jornada de Tony Stark neste filme "volta ao básico" e é também um caso de estresse pós-traumático. Entenda o porquê na entrevista exclusiva abaixo.

Robert Downey Jr. disse que ele e Jon Favreau, o diretor dos dois filmes anteriores, te procuravam, Shane, durante o primeiro Homem de Ferro, então você já está envolvido com tudo há algum tempo...

Shane Black: Mas só porque eu conhecia Robert de Beijos e Tiros. Ele e Jon vinham emburrados procurando formas de resolver um problema no roteiro, e me perguntavam coisas. Não acho que eu tenha contribuído com nada muito importante, embora Robert tenha sido gentil de mencionar minha ajuda. Na verdade nem lembro direito. Só lembro que eles me procuraram e a gente comeu algo juntos. Já eu acho que Jon me ajudou muito com o que ele fez antes de mim. Como ele também é ator [no terceiro filme], poderia ter chegado cheio de ressentimento. Mas não, ele foi o cara mais bacana do mundo, e extremamente valioso quando eu precisei de sugestões dele.

Como o projeto se desenhou em termos de roteiro? Vocês definiram a premissa bem cedo ou mudou muito ao longo do processo?

Kevin Feige: Começamos a nos encontrar com Shane em abril ou maio de 2011, na época em que estávamos fazendo a mixagem de Capitão América. Já tínhamos pilares do que queríamos: uma história com Tony Stark em foco, com sua vida destruída, ver como ele lida com um arquirrival sem poder contar com a armadura, devolvê-lo à caverna, metaforicamente, com uma caixa de tralhas, como no primeiro filme. Tudo isso permaneceu e foi desenvolvido, e essa é uma das razões de termos nos conectado com Shane. Porque se fosse algo do tamanho de Os Vingadores, com Nick Fury no meio, acho que Shane não se interessaria e não seria a pessoa certa para o trabalho. Mas para aprofundar a jornada de Tony Stark ainda mais do que no começo do primeiro filme, Shane era o cara. Levou oito ou nove meses para [a trama] evoluir até chegar ao que temos hoje.

Claro, ao longo do caminho vocês precisam dar algo para os fãs, incluir o filme num universo maior. Como vocês buscam esse equilíbrio?

SB: Acredito que [dar atenção para] base de fãs é trabalho da Marvel. O meu é ser um fã do Homem de Ferro, e eu sou desde jovem. Então eu procuro fazer o que me agrada e torço para que o resto dos fãs também goste. Essa é a ideia. Por exemplo, um dos prazeres, pra mim, é pegar um vilão dos quadrinhos e recriá-lo no filme de uma forma ligeiramente mais realista, de um jeito que ele seja reconhecível e, ao mesmo tempo, diferente. Como o Coringa de O Cavaleiro das Trevas, que não é o Coringa das HQs, mas tem elementos que permitem que você o reconheça. Essa era a nossa tarefa. Os fãs amam o Mandarim, e nós não queríamos um estereótipo potencialmente racista, tipo Fu Manchu, com o punho cerrado. Chegamos a uma versão do Mandarim que nos agrada. Ele é o desafio perfeito, o vilão ideal para o Homem de Ferro, mas sem o peso do estereótipo que a HQ poderia trazer.

A ideia de um terrorista midiático, ou de um terrorista para a nossa era midiática, é bem interessante. Esse foi um dos elementos que te atraiu, Shane?

SB: Pensávamos nisso desde o começo, sim, numa interpretação do Mandarim para o mundo real. Ele não vem do espaço nem nada. Os anéis dele são só anéis. São exibicionismo. São a parafernália que ele ostenta na guerra. Ele estuda Sun Tzu, estuda tática de insurgência. Ele se cerca de dragões, símbolos de guerreiros, iconografia chinesa, porque quer representar esse tipo de protótipo de terrorista. Um cara que, como o Coronel Kurtz de Apocalypse Now, pode ter sido um americano, um britânico, alguém que um dia supervisionou atrocidades, trabalhou para serviços de inteligência, e enlouqueceu. Alguém que agora se cerca de pessoas que têm em comum apenas o ódio contra a América. Então ele é o terrorista perfeito, mas também é esperto. Ele esteve no mundo dos serviços de inteligência. Sabe usar a mídia. Trazer isso para o mundo real foi bem divertido para nós.

Quando Homem de Ferro começou, parte do apelo era justamente esse realismo, e com o tempo fomos apresentados a Asgard e extraterrestres. O elemento fantástico alterou Tony Stark ou o mundo em que ele vive?

KF: A única conexão real que queríamos com Os Vingadores neste filme era o efeito psicológico sobre Tony. Ele vem da ciência, sempre se achou o máximo, e agora foi ao espaço e quase terminou morto por alienígenas, encontrou um deus com seu martelo e um cara que o pai de Tony conheceu em 1945. Então no começo deste filme, vemos Tony simplesmente construindo armaduras, colocando-se na armadura, que é onde ele se sente seguro. E boa parte deste filme é sobre Tony aprendendo a se tornar Tony Stark novamente fora da armadura.

SB: Ele se encontra em um mundo onde, de repente, sem sua armadura, não há maneiras de competir com o que ele depara. Ele se sente desconfortável no começo do filme por saber que, a não ser que ele construa o humano perfeito, ele será superado por esses caras que são literalmente deuses. Então como competir quando as armaduras são tiradas dele?

KF: Mesmo em Os Vingadores, você pode ter loucuras vindo do espaço, desde que os personagens respondam a isso, emocionalmente, de um jeito verdadeiro, real. Mesmo nos quadrinhos, aliás, essa é a diferença entre importar-se com um super-herói e não se importar, dependendo se a reação emocional dele é crível ou apropriada. Certamente, o que Tony enfrenta com base nos eventos de Os Vingadores é bem real, como um estresse pós-traumático.

Quando vocês perceberam que não dava pra tentar ser mais grandioso que Os Vingadores?

SB: Eles me disseram isso logo de cara, e eu concordei. Isso foi a base da nossa primeira reunião.

KF: Seria enxugar gelo. Não teria sentido. Queríamos levar Tony de volta ao básico, metaforicamente colocá-lo de volta numa caverna e ver como ele se sai com pouco material. Essa era a ideia no começo com Shane. Sem Nick Fury, sem Viúva Negra. Esses eram os parâmetros, e Shane e Drew [Pearce, roteirista] deram vida a isso.

Comentamos com Robert o fato de ele improvisar e mudar o roteiro na hora da filmagem, nos dois primeiros filmes. Como foi neste terceiro?

SB: Bem, ele se manteve fiel ao roteiro, mas o roteiro não era escrito tão adiantado assim... [risos] Às vezes o texto era escrito com um ou dois dias de antecedência, mas sempre tínhamos definido o que seria a cena. Frequentemente tínhamos os diálogos todos escritos, todas as piadinhas, e brincávamos de acrescentar coisas. Entregávamos o texto para Robert e ele respondia: "Hmm, ok, posso até dizer essas falas, mas acho que podemos fazer melhor". Eu dizia: "Legal, já temos que rodar, mas vamos adicionar; o que você quer?". E sentávamos para conversar, discutir o que poderia acrescentar. Às vezes Drew colaborava e juntava. Era um processo em andamento, mas o roteiro estava sempre lá. Foi como na época em que eu trabalhei com Bruce Willis, quando Bruce costumava improvisar. Pega o que está no roteiro, conversa com Bruce e filma. Sempre tínhamos o texto base, e se dava pra acrescentar, ótimo. A experiência que tivemos aqui é que Robert quase sempre tinha algo a somar. Era Robert, Drew e eu por 20 minutos numa sala antes de filmar, quase sempre melhorando o que tínhamos antes.

Nos filmes fica parecendo que o Homem de Ferro tem uma nova armadura a cada cena. Agora já passamos da Mark XLVII e ainda tem o Patriota de Ferro. Como vocês chegaram a isso e o que essas novas armaduras podem acrescentar?

KF: Até Os Vingadores, vimos sete ou oito armaduras, e queríamos avançar neste filme. Um dos efeitos que Os Vingadores teve sobre ele é que Tony está construindo muito mais do que antes. O Patriota também é meio que uma resposta a Os Vingadores. O governo reformula o Máquina de Combate, porque acredita que saiu francamente constrangido dos acontecimentos de Os Vingadores - quando uma equipe insana precisou salvar o dia. O governo sente que precisa de um herói seu, então pinta de azul, branco e vermelho a armadura que o exército já tem. O presidente tira fotos com o Patriota, o Tony só fica olhando... "Você passa tempo demais na sua oficina e precisamos de alguém em quem confiamos", diz o governo para Tony. O Patriota de Ferro surge assim. E é algo que saiu dos quadrinhos, uma coisa ao mesmo tempo bacana e espalhafatosa. Obviamente não usamos Norman Osborn nem nada [das HQs sobre o Patriota], mas isso nos permitiu dar uma importância a Rhodey. Seguimos com a história dele, cuja fidelidade se divide entre seu amigo [Tony] e o governo.

Vocês podem comentar o brinquedo que vazou revelando uma armadura espacial?

KF: Posso dizer que eu tinha vários [bonecos] Batman "Ataque na Floresta" no meu tempo, e não lembro de ver o Batman atacando nenhuma floresta, então...

E sobre a sequência do ataque ao avião presidencial, o Força Aérea Um, o que vocês podem dizer?

SB: Drew e eu decidimos bem cedo que queríamos sequestrar alguma coisa e botar pessoas caindo do céu, com o Homem de Ferro diante desse cenário. O desafio era evitar a tela verde e colocar pessoas caindo de verdade, mas isso provavelmente seria antiético... Daí descobrimos que o time de skydiving da Redbull estava disposta a saltar de um avião e ter suas mochilas de paraquedas apagadas digitalmente. É bem emocionante quando você vê as pessoas saltando de terno, porque roupa de paraquedista é sempre aquele macacão amarelo. Quando você vê uma mulher de saia caindo é bem assustador.

KF: Durante uma semana, mais ou menos, fizemos de oito a dez saltos por dia. Foi sensacional, o material ficou incrível.

007 - Contra o Foguete da Morte teve uma cena assim, foram três semanas de filmagem que acabaram reduzidas a oito ou nove minutos no filme.

KF: Nós chegamos a falar bastante de 007 - Contra o Foguete da Morte porque aquela sequência é bem espantosa, exceto pelo fato de que você consegue enxergar os paraquedas, e quando eles cortam para as inserções não funciona muito bem. Queríamos fazer aquilo, mas que funcionasse. E temos uma armadura de Homem de Ferro, o que é uma vantagem sobre Roger Moore.

Como Drew Pearce se envolveu com o filme?

KF: Contratamos Drew antes de Shane, não tínhamos um diretor ainda. Drew Pearce havia feito para a gente um roteiro ótimo de Fugitivos, um filme que acabamos não fazendo.

SB: Parecia ótimo mesmo.

KF: É tão ótimo que acabamos não fazendo... Mas contratamos Drew para fazer Homem de Ferro 3, porque estávamos nos reunindo com vários diretores, e a maioria não trabalhava como roteirista e diretor. Quando nos reunimos com Shane, percebemos que ele era o cara perfeito para o trabalho, e obviamente sabíamos que ele também é roteirista. Não queríamos deixar Drew de lado, não era justo.

SB: Mas meio que deixamos.

KF: Deixamos. Nós dissemos: "Shane, então, por que você não fica com a vaga? A propósito, já temos um roteirista". E Shane pensou: "Como assim?". Sei que ele pensou, mas foi diplomático o suficiente para não dizer. Acho que ele resmungou um pouco, e no fim das contas eu acho que Drew e Shane são hoje almas gêmeas.

SB: Nós nos reunimos e eu disse [para Drew]: "Ok, basicamente, não sei por que você está aqui". Ele respondeu: "Acho que eles esperam que a gente escreva juntos". E normalmente não é assim que nascem grandes parcerias. [risos] Mas vamos lá. E logo percebi que esse cara tinha uma afinidade com o material, e nós dois ficamos amigos e andávamos juntos de um lado para o outro todo dia discutindo o roteiro.

KF: Na quarta semana de produção, mais ou menos, estávamos numa reunião e eles lançavam ideias e rumos, e Shane disse: "Sabe, inicialmente eu pensei que Drew Pearce fosse o diabo que você contratou, e agora eu o acho ótimo, acho mesmo". Drew não estava na sala nessa hora, por isso eu sei que [a opinião de Black] era verdade.

A partir de agora, que justificativa vocês usam para Tony Stark simplesmente não ligar para os Vingadores pedindo ajuda?

KF: Essa é uma boa pergunta... Como nos quadrinhos, acho que você não precisa ficar justificando. Se você lê uma HQ solo de Homem de Ferro, eles não passam toda página explicando onde estão os outros heróis da Marvel. O leitor meio que aceita que há momentos em que eles estão sozinhos e há momentos em que estão juntos. Acredito que o público do cinema vai entender também. Dito isso, há uma linha de diálogo aqui ou ali para [justificar] isso. E também é parte da natureza de Tony querer, depois que explodem a casa dele, investigar as coisas por conta própria.

Tony sabe que o Agente Coulson está vivo na série da SHIELD?

KF: Se Tony sabe? Não.

Shane, há outros personagens da Marvel com quem você sente afinidade? Talvez fazer um filme com censura alta...

SB: Sempre pensei que certos personagens poderiam ser adaptados de maneiras legais. Quentin Tarantino meio que secou a fonte com Django Livre, mas eu sempre achei que daria para fazer uma versão anos 1970 do Pantera Negra, com várias tensões raciais da época. Eu adorava Nick Fury - Agent of Shield, na época do [Jim] Steranko. Não rola mais, porque Sam Jackson tem 60 anos e hoje faz uma figura patriarcal, mas eu adorava Nick Fury quando era jovem. As HQs de Steranko em Tales of Suspense, acompanhadas dos oito primeiros números do gibi solo Nick Fury, são algumas das melhores já feitas.

Agora na Fase 2 dos filmes da Marvel vocês sentem que há uma obrigação de incluir novamente cenas pós-créditos?

KF: Pensamos caso a caso. Não quero estar no cinema até o final dos créditos com mais duas pessoas e de repente nada acontecer. Gosto do fato de que treinamos pelo menos parte das pessoas a esperar por essa pequena recompensa, mas você está certo: isso servia a outro propósito antes. Era parte da surpresa: "Olha, os filmes estão conectados!". A cena do Shawarma [depois de Os Vingadores] foi uma ideia que tivemos e filmamos depois da pré-estreia só porque achamos que seria divertido. Não haveria nada pós-crédito, até então. Então fizemos algo mais rápido e solto, porque as pessoas já estariam esperando. Honestamente, a ideia de Homem de Ferro 3 é dizer que esses personagens podem existir por conta própria. Mas, como eu disse, é muito chato esperar oito minutos de créditos finais e não ter nada depois...

Homem de Ferro 3 estreia em 26 de abril.

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