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Crítica

Linha de Ação | Crítica

Mark Wahlberg e Russell Crowe estrelam neonoir explicativo e politicamente correto

14.03.2013, às 19H24.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H41

"Detetives particulares ainda existem?", pergunta um personagem para Billy Taggart, o ex-policial vivido por Mark Wahlberg em Linha de Ação (Broken City). Envolvido numa suspeita de execução há sete anos, Taggart deixou de ser um homem da lei em Nova York para espionar adultérios - e assim tornar-se o anacrônico anti-herói de aluguel deste neonoir do diretor Allen Hughes (Do InfernoO Livro de Eli).

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Os policiais noir clássicos, que no cinema vão dos anos 1940 aos 1950, envolvem homens que, seduzidos pelo perverso (o crime, o dinheiro, o sexo), revelam uma inesperada honradez. O chamado neonoir exacerba algumas dessas questões de integridade - seja a psicanalítica de Chinatown, a existencial de Blade Runner ou a puramente carnal de Veludo Azul - e com Linha de Ação não é diferente.

Mas como estamos em tempos politicamente corretos, o longa de Hughes se concentra menos na perversão e mais na honradez. Manjamos desde o começo que Taggart está atrás de redenção. Essa oportunidade surge quando o prefeito (Russell Crowe,ótimo no papel) desconfia que está sendo traído por sua mulher (Catherine Zeta-Jones, sussurando como uma boa mulher fatal) e contrata Taggart para espioná-la. O detetive particular confirma as suspeitas, mas depara também com um mundo de negociatas às vésperas da eleição municipal.

O que se desenrola aqui é um noir pós-Occupy, que defende o interesse público contra as corporações e se alinha com as políticas democratas (direitos das minorias) contra o discurso republicano (o importante é conter gastos). Nesse cenário, em que o conflito entre o velho e o novo dá o tom - o político velhaco jogador de squash contra os "defensores de gays" -, Billy Taggart é só mais um anacronismo, o católico beberrão no jantar dos atores indie.

Sempre coube bem em Mark Wahlberg esse tipo de papel, o filho de imigrantes dos bairros periféricos de Nova York que termina assumindo uma responsabilidade maior do que ele consegue carregar (e que tem em Caminho Sem Volta sua expressão mais bem acabada). Só que Billy Taggart não vai entrar para nenhuma galeria de detetives brilhantes - e a culpa é basicamente do roteirista Brian Tucker.

Porque outro sinal dos nossos tempos, além da correção política, são os roteiros "escritos demais". Em Linha de Ação todo diálogo é funcional (quando Taggart diz que a bolsa da esposa está "do lado da coleção de pimentas", por exemplo, é pra sublinhar que o cara tem uma mulher latina, ele vem "do gueto"). Tudo é milimetricamente conectado, não há acasos ou rebarbas, e essas ligações precisam ficar claras para o espectador médio - daí o texto explicativo que Tucker coloca na boca de Wahlberg. É a morte da dedução.

Chega a ser cômico o momento em que Taggart se revolta (aquela cara de interrogação que Wahlberg faz) diante de um suspeito que se comunica por meias-palavras. Ele solta, indignado: "Quando foi que as pessoas deixaram de falar frases completas?". O suspeito suspira e entrega tudo mastigado, talvez porque saiba que Mark Wahlberg não é um Humphrey Bogart e Billy Taggart não é um Philip Marlowe.

Linha de Ação | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
Linha de Ação
Broken City
Linha de Ação
Broken City

Ano: 2013

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 109 min

Direção: Allen Hughes

Roteiro: Brian Tucker

Elenco: Mark Wahlberg, Russell Crowe, Catherine Zeta-Jones, Jeffrey Wright, Barry Pepper, Alona Tal, Natalie Martinez, Michael Beach, Kyle Chandler, James Ransone, Griffin Dunne, Britney Theriot, Odessa Sykes, Luis Tolentino, Tony Bentley, Andrea Frankle, William Ragsdale, Chance Kelly, Justin Chambers, Ric Reitz, Lydia Hull

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