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Born to Run, de Bruce Springsteen, faz 41 anos e está mais atual do que nunca

Disco foi o responsável por estabelecer o músico como um dos principais artistas norte-americanos

25.08.2016, às 15H54.
Atualizada em 25.08.2016, ÀS 16H14

Há 41 anos o terceiro disco de estúdio de Bruce Springsteen, Born to Run, era lançado. Seus álbuns anteriores - Greetings from Asbury Park, NJ, de 1973 e The wild, the innocent and the E. Street shuffle, de 1975,  - em conjunto com Born to Run -, concederam a Springsteen um status de “novo Bob Dylan”, título que ele odiava, não por antipatia ao ídolo folk, mas apenas por considerar que não tinha a mesma importância de Dylan.

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Mas antes de conquistar esse status, Springsteen precisou provar que valia a pena, já que Born to Run era a última bala na agulha de um jovem rebelde e briguento de 24 anos, que junto com a E. Street Band, só tinha mais esse projeto antes de finalizar o contrato com a gravadora CBS/Columbia. O biógrafo do artista, Peter Ames Carlin, conta no livro Bruce, de 2013, que o disco demorou mais de um ano para ser produzido, contabilizando desde os primeiros esboços da faixa-título até a mixagem final, terminada um mês antes da data limite para a entrega.

Durante esse período, Bruce e a E. Street intercalavam as longas horas de gravação com shows pequenos que rendiam alguns dólares que eram divididos entre todos os membros do grupo. Nessa fase, Springsteen apresentou pelo menos 5 versões da música “Born to run” e duas de “She’s the one” - parte da primeira versão seria aproveitada em trabalhos posteriores -. Ainda durante todo o processo exaustivo de criação, a banda teve algumas baixas, ou porque os membros recebiam propostas melhores, ou, até mesmo, por causa do processo extenuante para chegar ao resultado pretendido pelo frontman, que chegou a demitir o primeiro baterista da formação. E claro, a pressão para entregar o projeto fez com que o músico perdesse a calma diversas vezes e exigisse que os membros da banda tocassem por horas sem parar durante a madrugada. A urgência pelo sucesso também vinha do momento que os Estados Unidos passava: Crise política, escândalos de corrupção, o fiasco na Guerra do Vietnã e uma descrença no estilo paz-e-amor que era pregado na década anterior.

Bruce precisava falar para os desacreditados e angustiados que alguém os entendia. Precisava falar à classe trabalhadora e sem esperanças, que melhorar a situação era possível. Talvez ele mesmo precisava acreditar nisso.

E essas mensagens vêm por meio de músicas como, a que abre o trabalho, “Thunder Road”, que é, sem dúvida, a música que eu queria ter escrito. Poesia pura, que começa fazendo referência ao cantor Roy Orbison, que “canta (no rádio) para os solitários”. Springsteen conta que a voz mais “rasgada” dos dois primeiros discos, foi substituída por algo mais “redondo”, porque ele admirava Roy Orbison e tentou imitá-lo nas gravações.

Em outras passagens de “Thunder Road” fica clara a vontade que o artista tinha de falar ao cidadão comum. Ele diz que sabe que Mary pensa que talvez eles não sejam tão jovens assim para deixar tudo para trás, e ainda diz a Mary que ela não é a mulher mais linda, mas que ela está bem, e que isso é suficiente pra ele, em clara alusão a necessidade de acreditar.

O disco segue com uma pegada funk divertida e repleta de metais com a presença de “Tenth avenue freeze-out”, homenagem à amizade e a formação da banda. Depois vem a apressada “Night”, falando sobre o operário cansado e explorado que extravasa e se apaixona durante a noite, sucedida por “Backstreets”, que fala sobre um romance juvenil que se desenrola em um cenário decadente.

A segunda metade do álbum começa com a faixa-título “Born to Run”, que tem uma narrativa bem semelhante a “Backstreets”. Ela já começa impactando ao dizer que as pessoas estão suando nas ruas, correndo atrás de um sonho americano fugitivo. Springsteen acrescenta elementos de uma paixão avassaladora, dizendo que quer saber se o amor é real e selvagem, como dizem. A música termina com a emblemática frase “vagabundos como nós, baby, nós nascemos para correr!”.

“She’s the one”, vem falando sobre mais uma paixão avassaladora, que soa quase como uma obsessão. A próxima é a acústica “Meeting across the river”, que conta a história de um acerto de contas por causa de mulher e dinheiro. Essa faixa apenas prepara o terreno para finalizar com “Jungleland”, mais uma obra-prima que conta a história do Rato Mágico, que se envolveu com a Garota Descalça, e ambos são perseguidos pelo vilão Homem da Lei e por outras gangues.

Springsteen influenciou Taxi Driver
A estreia de Born to Run foi marcada por um fato curioso: a gravadora havia agendado diversos shows para um público pequeno, seleto, composto por formadores de opinião, críticos musicais e artistas em geral. No intervalo antes do “bis”, Bruce Springsteen se diverte no palco contando piadas, e pergunta de forma caricata “você está falando comigo?” (“You talkin’ to me?). Eis que na plateia encontrava-se um jovem Robert De Niro, que anotava tudo que via em um bloco de papel, e o diretor Martin Scorcese. Foi ali que nasceu uma das falas/cenas mais emblemáticas do filme Taxi driver, de 1976.

E por fim, o disco foi o responsável por elevar a carreira de Bruce Springsteen a outro patamar. O que poderia ser seu último trabalho, se transformou em um marco na história da música americana e cunhou o estilo que faz o, então, jovem rapaz ser venerado até hoje: histórias de pessoas comuns, num cenário de desesperança, mostrando que há urgência em mudar.

A segunda vez que Bruce Springsteen voltou com firmeza a esse tema, foi em The Rising, lançado após os atentados de 11 de setembro. Na época, a população americana clamava por uma mensagem do “Boss”. As famílias dos mortos no atentado, que se declaravam fãs de Springsteen, receberam diversos telefonemas dele, querendo saber como estavam e se o músico podia ajudar. Bruce Springsteen é o ombro amigo na hora das dificuldades, a voz do povo e a vontade de mudança. Um artista que vai além do seu papel como alguém que entretém e leva uma mensagem. Uma pessoa que quer saber como a população comum está para contar suas histórias e dialogar com cada um. Por isso, no fim das contas, todos precisamos de um pouco de Bruce Springsteen em nós.

Ouça o álbum na íntegra

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