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História do Rock no Cinema - parte 13: Filmes dos anos 70

Zabriskie Point, Corrida Contra o Destino, The Song Remains The Same e mais

19.08.2007, às 22H30.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H27

Zabriskie Point

A década de 70 começou refletindo os acontecimentos do final da década anterior, como é o caso de Zabriskie Point, dirigido por Michelangelo Antonioni e lançado em 1970. Esta é a única produção totalmente americana do cineasta italiano. O foco é o movimento de contracultura americana, mostrado através de dois personagens: um universitário idealista que participa de movimentos estudantis e uma jovem militante radical. Após o cerco da universidade por policiais, o rapaz foge por ser acusado de matar um policial e encontra na estrada a garota, que está se dirigindo para uma reunião de uma grande empresa. É um road movie, que tem como cenário o deserto americano e Zabriskie Point, uma bela área no Death Valley construída por milhares de anos de erosão. No local acontece a cena chave do filme, uma espécie de celebração ao amor livre.

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Na época um grande fracasso de bilheteria, ignorado pelo movimento de contracultura e atacado pela crítica, que o achou confuso, ganhou depois o status de cult. A trilha sonora é um dos pontos mais lembrados da produção, que reúne nomes como Pink Floyd, Greateful Dead, Rolling Stones e Jerry Garcia, tanto que o disco foi relançado em 1997 com algumas faixas extras. Perto do final, há uma belíssima seqüência, um casamento perfeito entre imagem e a música do Pink Floyd - mais precisamente, "Careful with that axe, Eugene" (que na trilha do filme ganhou o nome de "Come on number 51, your time is up"). Uma composição da banda para piano, não utilizada no filme, foi posteriormente retrabalhada na canção "Us and Them", do disco Dark Side Side of the Moon.

A trilha sonora, aliás, era para ser exclusiva do Pink Floyd, que a compôs especialmente para o filme. De última hora, entretanto, Antonioni decidiu incluir músicas já prontas de outros grupos. Como resultado, muitas gravações originais do Pink Floyd nunca entraram no filme, embora tenham sido compostas especialmente para ele.

Corrida Contra o Destino

Um outro road movie que se tornou cult é Corrida Contra o Destino (Vanishing Point), de 1971, dirigido por Richard C. Sarafian. Conta a história de Kowalski, que trabalha entregando carros e precisa levar um automóvel de Denver até São Francisco. Como anda em alta velocidade, é perseguido por policiais nos quatro estados que atravessa. Recebe a ajuda de um radialista cego, que dá indicações sobre a polícia no seu programa. Por isso, acaba virando uma espécie de herói da contracultura e chama a atenção de toda a mídia para a perseguição. Alguns flashbacks mostram que foi militar, policial, piloto de corrida, mas sempre devido a problemas ou acidentes era obrigado a deixar a ocupação. Isso dá a idéia que ele seria uma pessoa que não tinha nada a perder, mas em nenhum momento é explicado porque Kowalski nunca desiste de andar em alta velocidade ou não se entrega para a polícia. O próprio personagem pouco fala durante a história.

A trilha sonora é composta por diversas músicas muito boas, mas não tão famosas, exceto "Mississipi Queen", do Mountain. Há composições de Delaney & Bonnie (que aparecem no filme) e Kim Carnes. Uma curiosidade: a música instrumental "Freedom of Expression", do desconhecido J. B. Pickers, também parte da trilha, foi utilizada na abertura do "Globo Repórter". O filme influenciou diversas outras produções, como Thelma e Louise e até o clipe do Audioslave para a música "Show Me How To Live", que segue o enredo do filme. A banda Primal Scream homenageou o filme em 1997, no seu disco Vanishing Point, em especial na canção "Kowalski", que contém algumas falas do filme, como uma espécie de trilha sonora alternativa.

Ensina-me a Viver

Um dos filmes mais marcantes dessa década foi Ensina-me a Viver (Harold and Maude), dirigido por Hal Ashby e lançado em 1971. Conta a história de Harold, um jovem alienado que mora numa grande mansão com sua mãe dominadora. Por brincadeira, simula falsos suicídios e visita funerais de pessoas que não conhece. Num desses funerais conhece Maude, uma senhora de 79 anos que é oposto dele, energética, impulsiva, adora viver. Uma bela relação de amizade se forma entre os dois. A trilha sonora é toda composta por canções de Cat Stevens (que também aparece numa cena), no melhor momento de sua carreira.

The Song Remains The Same

Desde seus primeiros discos, havia a intenção de registrar os shows do Led Zeppelin para um documentário sobre a banda. Uma filmagem foi realizada em 1970, mas a luz foi considerada ruim e o material foi posto de lado. Em 1973 foi assinado um contrato com o diretor Joe Massot para a realização do filme, todo financiado com dinheiro da banda. Peter Grant, o empresário do grupo, ficou responsável pela produção. Foram filmadas apresentações em Baltimore e no Madison Square Garden. Também foram gravadas "seqüências de fantasia", cenas com o objetivo de mostrar a personalidade dos integrantes da banda. Por exemplo, a seqüência de Robert Plant o mostra como um cavaleiro que luta para salvar uma donzela, a de Jimmy Page tem o guitarrista escalando uma montanha para se encontrar com o sábio da capa do quarto disco do grupo. Em 1974, Peter Grant demitiu Massot por estar descontente com o andamento das filmagens. No seu lugar foi contratado Peter Clifton, que sugeriu recriar o show do Madison Square Garden em estúdio para filmar closes e tomadas melhores. Mais filmagens ocorreriam em 1975, mas foram canceladas devido a um acidente de carro com Plant. Também ocorreram desavenças com Peter Clifton, que quase teve seu nome retirado dos créditos antes do lançamento. Mesmo assim ele foi convidado para a estréia; Joe Massot, não, mas acabou comprando as entradas de um cambista e entrou mesmo assim.

O filme, chamado The Song Remains The Same, foi finalmente lançado em 1976, com atraso de 18 meses e muito acima do orçamento previsto. A banda ficou totalmente insatisfeita com o resultado, os shows foram gravados no final de uma turnê exaustiva, estavam longe de serem as melhores performances do Zeppelin. Além disso, a qualidade do filme não era das melhores. O empresário declarou que era o vídeo caseiro mais caro da história. Quase todos os críticos falaram mal do resultado final. Mas nada disso impediu que fosse um grande sucesso de público, por um motivo muito simples: era o único registro visual oficial de uma das maiores bandas da história do rock. Isso só mudou em 2003, com o lançamento do DVD da banda que mostra shows nos melhores momentos de sua carreira.

No Brasil, o filme foi lançado nos cinemas com o ridículo título de Rock é Rock Mesmo, mas a edição disponível em DVD mantém o título original.

Kiss e o Fantasma do Parque

Mesmo sendo um filme para televisão, não poderia deixar de ser citado Kiss e o Fantasma do Parque (Kiss Meets The Phantom of The Park), de 1978, uma produção da Hanna-Barbera. Filmado no auge da popularidade do grupo, quando tinham até quadrinhos publicados pela Marvel, foi o programa mais visto do ano na TV. A história se passa num parque de diversões, onde um cientista louco, que culpa o Kiss por seus infortúnios, cria robôs malignos que substituem os integrantes do grupo num show no parque. Para combatê-los, os integrantes da banda precisam utilizar seus superpoderes (sim, superpoderes) gerados através de talismãs. Como se percebe, a trama é uma besteira só, mas não é só isso. A interpretação dos membros do Kiss é nula, quando não risível, o resto do elenco também não ajuda, e os efeitos especiais são toscos até mesmo para a época. Enfim, uma grande diversão para fãs de filmes de trash. Infelizmente não foi lançado em DVD (até a banda tem vergonha do filme), mas podem ser encontradas na Internet cópias feitas de velhos VHS lançados na década de 80.

Ritmo Alucinante

O rock brasileiro da década de 70 geralmente é algo pouco comentado, como se não tivesse acontecido nada entre Mutantes e as bandas dos anos 80, no máximo Raul Seixas. Prova contrária disso é Ritmo Alucinante - A Explosão do Rock no Brasil, de 1975, dirigido por Marcelo França. É um documentário sobre um festival no Rio de Janeiro organizado por Nelson Motta e que tinha somente artistas nacionais. É o primeiro "Hollywood Rock", mas muitas vezes não é reconhecido como tal. Com certeza é um dos primeiros festivais no Brasil. Mostra as apresentações de Raul Seixas, Rita Lee & Tutti Frutti, Erasmo Carlos, Celly Campelo, O Peso e Vímana. Esta última banda, que tocava rock progressivo, apesar de nunca ter lançado nenhum disco, foi muito comentada após seu fim devido ao sucesso posterior de seus integrantes: Lulu Santos, Lobão e Ritchie. O filme é um dos pouquíssimos registros em vídeo da banda.

Entre as apresentações há entrevistas com músicos, para situar o espectador sobre a carreira deles. Erasmo Carlos aparece reclamando da censura. Também mostra os problemas enfrentados para realizar o festival num país de terceiro mundo. É uma produção que merece urgentemente uma edição em DVD. Enquanto isso não rola, tem um versão online aqui.

No próximo artigo: filmes sobre anos 70

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