Na noite da última sexta-feira (8), o palco do Circo Voador, no Rio de Janeiro, recebeu um show de diversidade com o projeto "Salada das Frutas". Liniker e os Caramelows, As Bahias, a Cozinha Mineira e Tássia Reis fizeram suas apresentações para um público animado e, literalmente, purpurinado.
Fotos: Felipe do Vale
A abertura do evento aconteceu em clima de protesto pela morte do estudante Diego Machado, motivada por homofobia, dentro do campus de uma Universidade, no início desta semana. O mestre de cerimônia ressaltava que gays eram mortos todos os dias apenas por quererem amar, e o público respondia com aplausos.
O discurso de abertura representou bem o clima das apresentações que estavam por vir. As primeiras a subirem no palco foram As Bahias e a Cozinha Mineira, banda liderada por uma dupla de cantoras transexuais que, com uma pegada de tropicália, levantou a bandeira do poder de decisão que todos têm sobre o próprio corpo. A dupla escolheu um setlist autoral, coroado com um cover em homenagem à Gal Costa, e conseguiu envolver o público com seu carisma e coreografias.
Cheia de atitude, a rapper Tássia Reis veio na sequência. A cantora de Jacareí, interior de São Paulo, subiu ao palco e empoderou a platéia com letras sobre aceitação e autoestima. A voz poderosa, a cabeleira ruiva que era utilizada como parte da performance, sendo jogada de um lado pro outro, e o figurino ousado, um collant cavado e decotado sobre uma meia calça "destroyed", traziam à lembrança a diva Beyoncé.
Assim como a americana, Tássia, também mulher e negra, esbanjava segurança e cantava as dificuldades que enfrentava sempre de cabeça erguida. Junto da backing vocal Lívia Mafrika, enfrentou com bom-humor pequenos problemas no som. Como a própria rapper disse: "mataram no peito" e convidaram a plateia a "ralar a bunda no chão" com versões funkeadas de "Formation", de Beyoncé, e "Baile de Favela", com as devidas modificações na letra, para passar a a mensagem de respeito à mulher. Tássia Reis conseguiu ter o público nas mãos e entregou para Liniker em grande estilo, com todos cantando sua letra.
A atração mais aguardada da noite, Liniker e os Caramelows, subiu ao palco por volta de 1h30, sob uma chuva de aplausos e gritos eufóricos. A faixa escolhida para abrir a apresentação foi "Remonta", que dá título ao primeiro CD que ainda está por vir. O paulista de Araraquara é um furacão no palco com o combo: potência vocal, afinação, gestos, olhares e danças; é impossível desviar as atenções dele. Uma das músicas mais celebradas do show foi "Caeu", acompanhada por um coro ensurdecedor pela plateia.
Durante a performance de "Zero", Liniker pediu que as luzes do palco fossem apagadas e os presentes acendessem seus celulares. Logo, um mar de luzes surgiu na plateia lotada, que, apaixonada, entoava o refrão "deixa eu bagunçar você". Este clima de celebração do amor sem preconceitos embalou toda a noite, em uma clara demonstração da luta diária de todos os participantes da "Salada das Frutas" pela quebra das barreiras interraciais e homoafetivas.
Um dos pontos altos, e que já se tornou um clássico nas apresentações de Liniker, foi a "benção da lacração", em que o show se transforma em uma espécie de culto e os fãs são levados a "aceitar o lacre em sua vida". O setlist seguiu com "Louise do Brésil" e "Tua", e Liniker se disse surpreso por todos estarem cantando suas faixas mesmo antes do CD ser lançado.
A "lacração" chegou ao fim com todos os artistas reunidos no palco cantando "Olhos Coloridos", exaltando a beleza da diversidade e com sabor de missão cumprida.
