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Linkin Park | A última grande banda de rock da história?

Grupo conduziu o nu-metal para lugar além do esperado e apostou em misturas para se manter comercialmente relevante

27.07.2017, às 18H42.
Atualizada em 27.07.2017, ÀS 20H28

Após a morte repentina de Chester Bennington (41), no último dia 20 de julho, a discografia do Linkin Park deve passar por diversas análises, tanto das letras quanto da sonoridade. Com isso, um novo capítulo na história da banda deve ser iniciado, já que o legado e o impacto dos 21 anos do grupo no show biz vai poder ser aferido de uma forma mais completa e complexa. Como parte das análises mais imediatas, os dados que mais chamam a atenção versam sobre o impacto do grupo que - possivelmente - pode ostentar o título de uma das últimas grandes bandas de rock dos últimos tempos - se não a última -. Sim, talvez isso pode parecer um pouco confuso para os mais puristas, mas os números do grupo não mentem, seja lá qual for a época analisada.

Linkin Park a última grande banda?

Para falar sobre esse impacto que a música dos norte-americanos teve/tem no mundo, é necessário ressaltar seus dois primeiros discos (mais um EP) que, praticamente, abriram espaço para um novo gênero, converteram massas de fãs ao redor do mundo E construiu o alicerce para que todas as apostas em mudanças sonoras feitas posteriormente pudessem acontecer sem sobressaltos.

Logo de cara, para quem estava entrando em sua juventude no início dos anos 2000, a banda significa, possivelmente, o primeiro contato com algo visceral, que tratava de temas próximos e muito pessoais (que agora ganham um significado ainda mais amplo) e que foi capaz de colocar nas rádios vocais rasgados em conjunto com um som pesado. Vale lembrar que justamente a facilidade em se identificar com um grupo de músicos com cara de nerd que, em um primeiro momento, não se encaixava muito bem em nenhuma tendência de moda/estilo ou som, era algo realmente palatável para grande parte dos jovens da entrada do milênio. As pessoas até esbravejavam contra o LP, mas é sempre importante lembrar que, o que transformar arte em números/vendas é a identificação de uma grande porcentagem de pessoas com um tema, imagem, som ou tudo isso junto. O Linkin Park entregou o combo perfeito com todas essas necessidades de forma verdadeira, agressiva e bem trabalhada, mesmo com o pouco tempo para trabalhar/gravar/produzir Hybrid Theory, lançado no fim de 2000, nos Estados Unidos, e no final de 2001 no Brasil.

O 1º projeto vendeu, só nos Estados Unidos, mais de 11 milhões de cópias e ultrapassou a marca mundial de mais de 30 milhões. Possivelmente, nenhuma outra banda de rock no planeta conseguiu bater esses números depois deles. Meteora, que chegou três anos depois, já contava com o grupo estabelecido nas rádios, na MTV, e também com uma enorme base de fãs ao redor do mundo. Me recordo de trabalhar em uma pequena loja de CDs e vender em média 25 cópias do Meteora por semana, durante meses. Foi algo que nunca mais vi acontecer durante o período em que fiquei lá.

E sim, esses dois discos pavimentaram o caminho para a afirmação de que a banda pode ter sido o último supergrupo de rock que a gente viu [nos moldes que a indústria criou há décadas atrás] e isso pode ser provado com números. Phil Freeman, em artigo para o Stereogum, cria uma base de dados justificando essa afirmação e mostra que desde o primeiro disco do LP, todos os seus álbuns chegaram ao primeiro lugar no ranking da Billboard (com exceção para The Hunting Party, que chegou ao 3º lugar). Em conjunto com o venda massiva a banda também era capaz de lotar estádios nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina e isso ficou muito claro durante a última passagem deles pelo Brasil quando uma massa de pessoas ficou até o final do Maximus (evento que tem o rock pesado como tema) só para ver a performance da banda. Vale lembrar que isso aconteceu após o lançamento de singles que não conversavam com seus momentos mais raivosos. Freeman destaca que o primeiro passo em direção à relevância musical começou com Hybrid Theory "um disco extremamente inteligente, bem elaborado e efetivamente construído para causar impacto nas rádios [...]".

Todos estes detalhes e apostas sonoras que ficaram impregnados na mente dos fãs dos primeiros anos do grupo também foram expandidos junto com o surgimento de uma nova base de seguidores, que passou a acompanhar o LP à medida que as mudanças sonoras iniciadas no terceiro disco, Minutes to Midnight, se tornaram ainda mais consistentes. No entanto, antes desse passo em direção a uma pegada menos agressiva, o grupo ainda apostou na mistura pura entre sua música e o Hip-Hop de Jay-Z com o EP Collision Course, que ostenta a marca de ser o 2º projeto de pequena duração da história a atingir o topo do chart da Billboard. Essa mudança de ares, ainda com o peso sonoro da banda em conjunto com as rimas de Jay-Z, sedimentaram - de vez - os números de vendas e garantiu o lugar na indústria musical que permanece até hoje, sem grandes surpresas.

Chester
É impossível falar sobre pressão e força sem comentar sobre a voz de Chester que, principalmente nos dois primeiros álbuns, era algo acima da média de tudo que apareceu no florescer da cena nu-metal. O produtor dos dois primeiros discos, Don Gilmore [em entrevista à Billboard], confessa ter ficado abismado com a qualidade vocal do frontman que, desde o primeiro ensaio mostrou que tinha algo diferente. “Eu fui a um ensaio, Chester começou a cantar e eu fiquei tipo, ‘Meu deus, isso é realmente especial. Eu nunca tinha visto ninguém cantar daquela forma incrível em uma sala de ensaios. Ele realmente não estava cantando assim nas demos e eu só pensei que, se ele conseguir cantar dessa forma em estúdio, então a gente pode ter a chance de fazer algo”. Gilmore ainda ressalta que “[...] naquele primeiro ensaio ele eclipsou toda a banda. Ele era uma força vocal tão grande que me deixou muito animado com o projeto e me fez querer, muito, trabalhar com eles”. E desse momento surgiram os dois principais discos da carreira do Linkin Park.

Por fim, o grupo depois disso fez história com shows ao redor do mundo, criou seu próprio festival nos Estados Unidos e pôde guardar muitos outros momentos memoráveis na estante. Em todo caso, o legado que fica para os fãs é a obra de Chester/LP que, como todo artista, fez algo que não se deteriora, mas ganha novos significados à medida que o tempo passa e outras situações são anexadas às suas criações.

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