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Lollapalooza Brasil | Arctic Monkeys, Jane's Addiction, Gogol Bordello, Foster the People, Racionais MC's e mais

Festival fecha sua primeira edição no Brasil com muita variedade na programação

09.04.2012, às 16H06.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H41

COBERTURA EM VÍDEO (2 dias)

Foster the People

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Foster the People

Thievery Corporation

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Thievery Corporation

Gogol Bordello

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Gogol Bordello

Friendly Fires

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Friendly Fires

Jane's Addiction

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Jane's Addiction

Skrillex

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Skrillex

Arctic Monkeys

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Arctic Monkeys

O segundo dia de Lollapalooza Brasil se mostrou bem mais interessante em sua programação, já que não contava com um headliner tão poderoso como o Foo Fighters, dando espaço para uma variedade maior de bandas.

Comecei a maratona com muito sol na cabeça no show de Gogol Bordello, no palco Butantã, que logo no começo da tarde elevou os padrões que definem um show incrível. Já às 14h a arena estava lotadíssima e animada, convertida em uma festa cigana da melhor estirpe e até bem longe do palco todos dançavam com muita empolgação. O clima era contagiante e para os que não sabiam as letras, valia gritar qualquer coisa mesmo, já que as músicas de Gogol Bordello são uma mistureba só.

O vocalista Eugene Hütz não parava quieto em nenhum momento e era auxiliado na festa pelo violinista russo Sergey Ryabtsev e pelo MC e percussionista equatoriano Pedro Erazo. Vestindo uma camisa de uniforme dos garis do Rio de Janeiro (enquanto Hütz vestia uma colorida calça de capoeira), Erazo fez um empolgado discurso em portunhol, encorajando a união de todas as etnias, da América Latina à Ucrânia, e depois de tomar o microfone não largou mais, cantando até o fim como backing vocal e interagindo com a plateia. Os destaques foram "My Companjera", "Start Wearing Purple" e "Break the Spell", retomada no final para fechar o show com o apelo, "Come on São Paulo, break the spell!".

Depois de um show tão intenso, nada melhor que rumar para o palco Cidade Jardim, onde o Thievery Corporation comandava uma apresentação bem mais leve e relaxada, com sua sonoridade que incluia trip-hop, raggae, dub e ska. Pela segunda vez no país, a banda customizou seu show com vários vocalistas diferentes, revezando um rapper, uma dupla de estilo jamaicano e duas cantoras, sendo que uma era brasileira. Além do clima muito gostoso que se instaurava na plateia, foi essa customização que mais chamou atenção e deixou vontade de assistir ao show da banda também em outros países para ver como eles se adaptam.

Electro, dance e pop

Impressionava a grande plateia que o Friendly Fires atraiu para seu show, no palco Butantã, entre fãs e curiosos. No entanto, seria necessário algo mais que as dancinhas do vocalista Ed Macfarlane para empolgar o público, que logo começou a se dispersar. Também não ajudava que o áudio de seu microfone estava mais baixo do que deveria.

Parecia que faltava uma certa ousadia da banda, e quem já assistiu às transmissões online de festivais gringos sabe que os shows do Friendly Fires normalmente não são muito corretos. Todas as músicas foram muito bem executadas, com uma banda de apoio que expandia o trio formado por Macfarlane, Jack Savidge e Edd Gibson. Os que se mantiveram atentos e estavam mais próximos ao palco conseguiram se divertir e dançar muito com o electro pop do grupo e foram os sucessos de seu primeiro álbum, "Paris" e "Skeleton Boy", que mais contagiaram a arena. Do segundo álbum, Pala, os singles "Hurting" e "Hawaiian Air" empolgaram menos mas ainda tiveram alguna adesão. Ficou a impressão de que aquele show ganharia uma atmosfera muito mais especial em um lugar fechado ou à noite, com o auxílio de iluminação e mais recursos visuais.

Do outro lado do Jockey, Foster the People conseguiu surpreender até ao seu próprio vocalista ao provocar uma reação tão calorosa na plateia. Era visível a alegria no rosto de Mark Foster cada vez que o público cantava junto seus principais sucessos (mesmo com apenas um álbum no currículo) e foi esta recepção que, aos poucos, fez com que a banda fosse se soltando e usando todos os cantos do palco para interagir com o público.

Com uma certa timidez no início da apresentação, a banda tocou uma sequência contínua até a quarta música, "I Would Do Anything For You", quando Foster anunciou que aquele era o último show da turnê pela América do Sul e por isso era muito especial, já que temos a reputação de ser a melhor plateia do mundo, causando comoção geral, já que brasileiro adora ser elogiado. Em seguida, tocaram "Broken Jaw", que terminou com um ótimo crescendo instrumental, "Love" e o single "Call It What You Want", um dos momentos em que o público mais dançou. Outro destaque foi a ótima "Don't Stop (Color on the Walls)", que lembra levemente New Order, em alguma de suas camadas de sintetizador.

O show ficava muito interessante e dinâmico pela variedade de instrumentos usada por Mike Foster, que tocou teclado, guitarra, percussão, cowbell e até maracas. Com apenas 12 músicas no setlist, a banda encerrou com seu maior hit, "Pumped Up Kicks", adicionando um segmento eletrônico no final da música, transformando o hit pop em uma grande balada. Se despediram contentes, Mark Foster jogou as maracas pra galera, e deixaram o palco.

Boas músicas e monotonia

MGMT fez jus a sua reputação de péssimos shows com uma das apresentações mais monótonas do festival. Antes de começar, uma grande multidão aglomerava-se no palco Butantã para ver a banda de Benjamin Goldwasser e Andrew VanWyngarden, mas conforme o show se desenrolava - especialmente depois de "Electric Feel"-, só se observava gente deixando a pista e ninguém chegando. O show chato e nada empolgante parecia que pelo menos teria um bom desfecho, com o hit "Time to Pretend", mas a banda não podia deixar aquilo acabar bem e tinha que tocar mais uma. Aturando muita chuva e vento, a plateia se empolgou mais com os relâmpagos do que com a banda.

Mais tarde, no mesmo palco, o Jane's Addiction também não obteve muito sucesso com sua plateia e foi outro caso de deserção, deixando sobrar lugares até na grade. A banda fez uma entrada cênica ao som de Pink Floyd nos amplificadores, e abriu com "Underground", último single de seu novo álbum, The Great Escape Artist, trazendo um pouco do visual do videoclipe para o palco, com dançarinas burlescas penduradas por cabos e balançando suas longas saias.

Mesmo em hits como "Just Because" e "Been Caught Stealing", a banda não conseguia se conectar totalmente com seu público e Perry Farrell, apesar de empolgadíssimo, parecia viver em outro mundo (especialmente quando víamos um close de seu rosto no telão). Toda a excentricidade da cenografia e da performance (em "Twisted Tales", um ator mascarado de branco entrou carregando um grande saco, enforcou uns bebês bonecos e depois enforcou a si mesmo) dava a impressão de que a banda estava se levando a sério demais. Dave Navarro com certeza é esse tipo de artista, com seu visual impecavelmente trabalhado - ao menos as guitarras não decepcionam. Toda aquela pretensão estética, ao tentar dar muito significado às canções, parece tê-las deixado ainda mais vazias. Seria mais interessante abandonar todos os aparatos e retomar um rock mais cru, como no começo de sua carreira - ao menos o show descrito na noite anterior por Dave Grohl, em sua adolescência, parecia mais atraente.

Um encerramento britânico

O Arctic Monkeys subiu ao palco pontualmente às 21h30 e já causou comoção na abertura com "Don't Sit Down Cause I've Moved Your Chair", de seu mais recente álbum. Na sequência, "Teddy Picker" (de Favourite Worst Nightmare, 2007) mostrou que são das antigas que o público gosta mais. Apesar da ótima recepção das canções de Suck It And See, com "The Hellcat Spangled Shalalala" e "Library Pictures" (com suas guitarras poderosíssimas!) já no começo, foi com o hit "I Bet You Look Good On the Dancefloor" que a arena inteira pulou e cantou unida.

A apresentação foi muito competente e focada totalmente nas músicas, mas com poucas interações com a plateia. E são justamente esses momentos de conexão que levam um show a outro nível - e denunciam que uma banda ainda precisa de mais alguns anos de estrada para conseguir se conectar verdadeiramente com 60 mil pessoas. Todo o espaço do palco foi mal-aproveitado, sem passeios pelas extremidades ou e pouco uso da passarela em frente. Tudo indicava que em "Pretty Visitors" Alex Turner finalmente daria a devida atenção ao público (que, sob chuva e vento, merecia um carinho especial), quando largou a guitarra e ficou apenas no vocal, mas isso não aconteceu.

A sorte do Arctic Monkeys é que suas músicas são mesmo muito boas e fazem todo o trabalho por si só, com quase todo o setlist tendo uma boa adesão do público - culminando em "Fluorescent Adolescent" e na linda "505", que fechou o show trazendo lágrimas aos olhos de muitas menininhas. Expandir um pouco mais sua presença de palco e mostrar mais dedicação aos fãs seria tornar aquilo que é ótimo em uma experiência arrebatadora.

Skrillex

Por Fernando Scoczynski Filho

Apresentando-se no palco Perry lotado e com vários curiosos nos seus arredores, Skrillex tocou o sua marca registrada, o dubstep. As músicas começavam com uma base eletrônica, aumentando sua intensidade aos poucos, até que, após uma pequena pausa, entrava o infame uso exagerado do wobble - técnica de oscilação rápida dos sons graves que, acompanhada de batidas ridiculamente pesadas, era responsável por todos os momentos em que a plateia mais pulou. Basta ouvir uma música qualquer de Sonny Moore para identificar essa progressão básica, e no show não foi diferente. Seja sampleando um reggae, um electro-pop retrô ou "Light My Fire" (The Doors), é sempre o mesmo: momentos de menor intensidade que aumentam aos poucos, uma pequena pausa e, então, o ataque do wobble, acompanhado do delírio do público. É claro que Skrillex não "toca" nada disso - somente altera ao vivo as músicas pré-gravadas -, mas faz uma performance enérgica, dançando constantemente e, de vez em quando, gritando os obrigatórios "Brazil!" e "Put your hands up!". Sem surpresas.

A soma desses fatores funcionou, no sentido de que agradou à plateia, e provavelmente nenhum fã saiu reclamando. Foi um show bem escolhido pelo festival, no momento certo, aproveitando o auge da notoriedade do artista. Mas tudo que Skrillex faz é tão similar e previsível que levanta questões quanto ao mérito do show, e quanto ao tempo que levará para o público esquecer dele e partir para o próximo hype.

Racionais MC's

Por Marcelo Druck

No último show do Lollapalooza, todos foram 157. Racionais MC's fez um show irretocável para poucos e sortudos. Inicialmente escalados para tocar ao mesmo tempo que Arctic Monkeys, o conjunto atrasou cerca de uma hora e se recusou a autorizar a transmissão pela TV e Internet. Dessa forma, apenas quem estava lá pôde curtir um setlist quase perfeito que abrangiu os principais momentos da carreira - de “Homem na Estrada”, “Jesus Chorou”, “Negro Drama”, até “Marighella”, seu último lançamento. Porém, faltaram algumas de suas músicas mais conhecidas como “Diário de um Detento” e “Qual Mentira Vou Acreditar?”.

O atraso de mais de uma hora transformou, na prática, o Racionais MC's na atração de encerramento do festival. Para colocar a plateia no clima, KL Jay fez um DJ set misturando black music, soul e MPB. Assim, quando Mano Brown, Edy Rock e Ice Blue entraram no palco, junto de cerca de vinte músicos de apoio, houve desenvoltura de banda no auge e um entrosamento invejável com o público, que cantou todas as músicas de forma apaixonada.

Brown mostrou toda sua veia política e polêmica, arrancando risos e aplausos do público. Elogiou o senador Eduardo Suplicy, presente na plateia, fez um discurso inflamado sobre como sua geração só queria “votar no Lula para mudar o país” e ainda foi irônico com o show do Arctic Monkeys, que acontecia ao mesmo momento: durante o intervalo de algumas músicas, falou rindo, “Som bom esse, hein”. Foi um show memorável para os fãs de rap nacional e, mesmo com o desfalque das músicas mais conhecidas, não seria exagero afirmar que foi um dos melhores momentos do festival - e só para quem estava lá.

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