O Sigur Rós é um caso musical raro dentro do mundo sonoro. Um grupo islandês que canta em uma língua fictícia e que rompeu as barreiras de seu país para se tornar sucesso global, não merece outra descrição.
A banda que esteve no Brasil em 2001, retornou ao país para apresentação única e mostrou que esse tempo sem aparecer por aqui, talvez fosse necessário. Formada atualmente por Jónsi Birgisson, Goggi Hólm e Orri Páll Dýrason, o Sigur Rós mostrou para um Espaço das Américas lotado uma apresentação que coloca em destaque a sonoridade e a dinâmica entre os músicos, já que o show conta somente com a presença do trio no palco.
Em todo caso, quem presenciou a apresentação Uma noite com Sigur Rós, teve a chance de vê-los com toda a sua estrutura e em uma performance embasbacante. A apresentação passa por todas as fases do grupo e une de forma delicada a voz de Jónsi - limpa, de falsete potente e hipnotizante - a um jogo de luzes que gera um tipo de transe coletivo que tem início na primeira nota.
O lugar criado pela delicadeza e intensidade das luzes que passeiam pelo palco em conjunto com o compasso da música que domina todo o ambiente é assombrosamente diferente e único. Isso em conjunto com a forma como a sonoridade chega aos ouvidos e a aposta em silêncios prolongados garante uma experiência que só pode ser reproduzida ao vivo, ali na sua frente. São nuances e camadas que se sobrepõem de maneira tão peculiar diante do público que, mesmo que você já tenha visto um show dos islandeses na TV, será impossível sentir de outra forma.
Todos esses quesitos colocam em destaque a característica marcante do trio que amplia a "vida sonora" das faixas presentes em seus discos quando apresentam o repertório no palco. São arrepios constantes graças ao som ajustado em uma frequência sonora que estimula a audiência de dentro pra fora. Algo que em 2001 - no primeiro show do grupo nos Estados Unidos - chegou a causar desmaios na plateia.
Mas, na apresentação brasileira, parecia somente o resultado de delicadezas que tiram o ouvinte do seu lugar-comum e o transfere para o mundo sonoro que a banda criou. É único, é potente, conecta e é direito.
Com isso em mente, o show segue uma dinâmica própria e cria atmosferas que se alternam de acordo com as mudanças de luz capazes de converter o ambiente em um espaço expandido ou simplesmente moldar um momento particular, no qual todas as pessoas estão paradas, olhando o palco e sem esboçar nenhum movimento.
É um show de intenções, com pausas aproveitadas, carregadas e que deixam nítida a ansiedade do público em aplaudir o final de cada número. Proatividade quebrada por Jónsi que internaliza cada suspiro, cada momento sem som para trazer o próximo estrofe cheio de vida, transformando o tempo do aplauso em contemplação coletiva. Algo tão impressionante que, em alguns momentos, faz ser possível perceber as pessoas segurando a respiração para não quebrar o silêncio duro que se torna dono da sala. Sem dúvida uma experiência completa.
Com todos esses elementos à vista, o Sigur Rós entrega um show de contemplação verdadeira, se comunicando somente por sua música e a audiência parece entender isso muito bem esperando que a oportunidade de repetir essa sensação não leve mais 16 anos.
A última turnê?
Sem lançar um disco de inéditas desde Kveikur (2013), mas já trabalhando em novos materiais, vale ter em mente que um retorno do trio ao Brasil pode levar um bom tempo. De acordo com o baixista do grupo, Georg Hólm, em entrevista recente, a banda não deve mais fazer turnês extensas e seguir um modelo de shows como o da também islandesa Björk. Só resta aguardar.
