Música

Artigo

The Killers | Os 10 anos de Sam’s Town

Disco iniciou a mudança do grupo do cenário indie para os grandes estádios

30.09.2016, às 13H24.

Parece que foi ontem, mas - sim! - já se passaram 10 anos do lançamento de Sam’s Town, segundo disco e pequena obra-prima do The Killers. A banda que conquistou o mundo indie em 2004 com os mega-blaster-hits "Mr Brightside" e "Somebody Told Me" conseguiu passar quase ilesa pela prova sinistra do segundo disco e fez um álbum que também gerou alguns de seus maiores sucessos.

None

Agora, para comemorar o aniversário, o Killers anunciou que vai re-lançar Sam’s Town numa edição especial em vinil duplo, e a gente aproveita a ocasião para relembrar o álbum.

2006 foi um ano interessante para o indie rock. A competição estava ficando cada vez mais difícil, com algumas das maiores bandas da época tendo lançado grandes discos um ano antes - Oasis com Don’t Believe The Truth, White Stripes com Get Behind Me Satan, por exemplo - e outras grandes bandas lançando seu primeiro disco naquele momento, como o Arctic Monkeys com seu primeiro e aclamado Whatever People Say I Am That’s What I’m Not, o Kooks com Inside In Inside Out e o Fratellis com Costello Music. Strokes era febre e outras bandas também passavam pela prova do segundo disco, como Keane com Under The Iron Sea, Scissor Sisters com Ta-Dah e Razorlight com seu álbum homônimo, só pra lembrar alguns.

E no meio de tudo isso, como competir? O Killers resolveu abandonar a imagem de bons moços do tempo de "All Those Things That I’ve Done", os cabelos engomados e o visual clean de Hot Fuss e embarcar num visual mais sujo, mais rock ‘n roll. Em Sam’s Town eles já estão barbudos, posers, querendo se mostrar mais adultos, mais roqueiros, mais maduros e ainda mais “revoltados” e contestadores do sistema.

Mas eles são de Las Vegas, e essa pose de roqueiros mal-encarados era tão fake quanto a Torre Eiffel do Casino Paris. E estranhamente, é nesse ponto que o The Killers se mantém coerente: eles são um meio termo entre o indie e o pop/rock grandioso de arena do U2 - e se assumem assim, com comportamentos e sonoridades que encontram sua graça neste meio de caminho. (Basta ouvir o Battle Born com suas apoteoses forçadas e lembrar da jaqueta de penas da era Day & Age).

E no caso de Sam’s Town, isso é o mais legal. Até a capa do disco já esfrega na nossa cara essa proposta da banda: Sam’s Town é o nome de um casino de Las Vegas, é verdade, mas não é um dos famosos e chiques que ficam às margens da Sunset Boulevard, que a gente está acostumado a ver nos filmes. Este é um fora do centro, tosco e decadente, e tem tudo a ver com a imagem “mal-encarada” e poser que eles assumiram para o segundo álbum, como quem quer dizer que não é mais aquele rostinho bonito do primeiro disco e agora quer contrariar o status quo. Não somos o Mirage, somos Sam’s Town. Yeah!

Perfeito, então. Que seja. E se a grandiosidade não é a mesma dos Stones, ela funciona mesmo assim, basta colocar uma camada de guitarras distorcidas em cima do que a gente sabe fazer e pronto. Dito isso, Sam’s Town é um excelente disco pop disfarçado de hard rock.

O disco abre com a faixa-título e já mostra logo nos primeiros acordes que a história aqui é bem diferente da contada em Hot Fuss. Descobriram a distorção e a sujeira, e os refrões continuam berrados e triunfantes, mas agora temos muuuuuita guitarra pra embalar tudo isso.

Liricamente, Brandon Flowers continua oscilando entre o romântico inveterado quase brega de “Read My Mind” e o idealista nostálgico que, com uma lógica parecida com o que os Beatles fizeram em "Penny Lane", descreve “causos” de Sam’s Town com aquele olhar longínquo e bate no peito, orgulhoso, que aquele é o seu lugar.

E logo de cara, eles gentilmente recebem você: “We hope you enjoy your stay”, dizem os anfitriões ao “abrir as portas” de Sam’s Town, e quando o disco acaba, eles se despedem: “We hope you enjoyed your stay”. A ideia não é nova (Sgt Pepper’s, alguém?), mas funciona muito bem no conceito do disco, mesmo sendo uma dose inesperada de polidez para os caras que agora eram os “malvados” da rua.

E depois é só pedrada. "When You Were Young" virou um “hino” - note as aspas - da banda, feito sob medida para enlouquecer estádios lotados com seu riff inconfundível e "Bling" tem uma das melhores linhas de baixo que a banda já fez. "Read My Mind" é um ápice de sentimento e delicadeza, um dos melhores e mais sinceros depoimentos de Flowers decorado com o instrumental que progride até o ápice final, se juntando com o desespero da melodia para montar uma das melhores músicas pop daquele ano.

"For Reasons Unknown" virou uma das melhores performances ao vivo da banda, com sua pegada pulsante e "Bones" é o momento mais grandioso do disco, onde eles retomam o exagero de teclados e - pasme! - até um naipe de metais para criar um quase orgasmo sonoro nos refrões finais. E é bizarramente romântica com sua imagem de duas pessoas se abraçando tão intensamente que até podem sentir os ossos uma da outra.

Dez anos depois, é interessante reparar de novo nos detalhes e altos e baixos de Sam’s Town e ver que ele está envelhecendo bem. É um momento mágico e de grandes conquistas para o Killers, com todos os seus defeitos e qualidades, porém tão sincero que agrada e convence. Não sei se daqui a 10 anos vai manter a mesma força, mas até lá, ainda temos um longo caminho pela frente.

Ouça o álbum na íntegra.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.