Alanis Morissette em São Paulo | Crítica

Não há maternidade que mude o jeito de Alanis Morissette se comportar no palco. O reflexo da chegada de Ever, seu filho de dois anos, se restringe às letras do novo disco e aos cartazes com o nome do primogênito que alguns fãs levaram ao show realizado em São Paulo, nesta segunda-feira (3). Durante 1h40 de apresentação, a canadense experimentou novas composições, balançou as famosas madeixas morenas e empolgou de fato quando retornou quase dez anos no tempo e bradou os sucesso dos álbuns Jagged Little Pill e Junkie.

Com quase 40 minutos de atraso, apoiado por uma banda com quatro músicos e um cenário que lembra a capa de Havoc and Bright Lights, Alanis entrou no palco do Credicard Hall, pegou seu microfone ainda no chão e começou a cantar "Woman Down", segundo single de seu novo álbum. Empolgado com a entrada da artista, o público também a acompanhou nos primeiros versos de "All I Really Want" e "You Learn". Em constante contato com os fãs e se movimentando freneticamente, a cantora agradecia a presença de todos constantemente e segundos depois de terminar a terceira música do show, pediu a guitarra para cantar "Guardian". Primeiro lançamento de Havoc e com a pegada pop rock conhecida dos fãs, foi a música recente mais cantada pelos quase seis mil presentes.

Passado o entusiasmo do primeiro contato, o público começou a ficar mais disperso quando "Flinch", "Right Trough You" e "Hands Clean" completaram o primeiro ato da apresentação. Depois de cantar "So Pure" com a atenção voltada para os fãs do gargarejo, Alanis mudou a pegada e apresentou "Edge of Evolution", faixa recheada de sintetizadores e guitarras mais rasgadas, que provaram funcionar melhor no palco do que no disco recém-lançado. Tal qual um bom setlist, seguido de uma experimentação vem um grande sucesso. "Agora, tocaremos essa música pela primeira vez", brincou Alanis, antes de começarem os acordes de "Ironic", balada de 1996, de Jagged Little Pill, que levou a canadense de uma vez ao estrelato, tornando-a um dos símbolos pop da década. E então, pela primeira vez, o público em peso cantou o refrão, ficou de pé e como um todo aplaudiu efusivamente.

A música título do último álbum mostrou que a cantora ainda possui uma das vozes mais belas do cenário pop e preparou o público para mais um hit noventista: "Head Over Feet", também de Jagged. O famoso solo de gaita foi admirado pela plateia do início ao fim e toda vez que ele terminava, mais uma onda de aplausos. O terceiro ato começou com a melosa balada "Lens", mas ganhou corpo com outro antigo sucesso, "You Oughta Know", que levantou os presentes para a última música antes do bis, "Numb" - melhor trabalho de Havoc and The Bright Lights e único momento em que a banda se sobressaiu, principalmente pelos solos na bateria e o ritmo incessantes das guitarras. Atendendo aos tradicionais pedidos de volta, Alanis retornou para dar mais um gosto dos anos 90 com "Hand In My Pocket" e "Uninvited". Mas não havia música mais oportuna que "Thank You" , de Junkie, para fechar o show.

A presença dos antigos sucessos é carta marcada em shows como esse, perfeitos para fãs, nem tanto para admiradores de música em geral. A boa composição do setlist permitiu a presença de quase todos esses hits e ainda alguns bons exemplos do mediano Havoc, bem recebidos pelo público, principalmente com "Numb" e "Guardian". Alanis Morissette continua com uma bela voz, a mesma performance desengonçada e elétrica no palco, mas não está na melhor fase criativa da carreira. Por sorte e talento, ela tem um período brilhante, o qual pode revistar constantemente e é capaz de trazer bons shows como os que passarão pelo Brasil em setembro.

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