Música

Crítica

Bob Dylan - Tempest | Crítica

Uma visita ao passado recente com toques de inovação

06.09.2012, às 02H04.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H34

Três anos depois de seu último disco de inéditas e apenas 15 anos depois de sua volta triunfal com Time Out of Mind, Bob Dylan mantém a qualidade e revisita baladas épicas em Tempest, 35º álbum da carreira.

Assim como em seus quatro últimos discos de estúdio (Love & Theft, Modern Times, Together Through Life e Christmas In the Heart), Tempest foi produzido pelo próprio Dylan, sob o pseudônimo de Jack Frost. Gravado no estúdio de Jackson Browne, Dylan contou - assim como em Together Through Life - com a participação de David Hidalgo, integrante do Los Lobos, além de sua atual banda de turnê. Para os não iniciados, a voz de Dylan pode assustar. Mas quem acompanha sua carreira sabe do desgaste ocorrido nas últimas décadas. No fim das contas, ele se adaptou ao timbre gutural para cantar com a ênfase de um andarilho que vivenciou muita coisa e agora compartilha essa experiência.

Parte das canções deste novo trabalho parece resumir com maestria a recente discografia do cantor. "Duquesne Whistle" lembra o jazzy Love & Thef; "Narrow Way" respira o ar do blues dos anos 50 de Modern Times; "Early Roman Kings" é um blues pesado e vagarosos diretamente influenciado por Muddy Waters e Bo Didley e que parece ter saído de Together Through Life. Bob Dylan deixou de lado a gaita e investiu em letras densas e extensas. "Tin Angel", por exemplo, tem nove minutos e lembra muito as baladas sangrentas tradicionais do folk, incluindo uma melodia monótona e constante; "Pay In Blood" segue a mesma linha lírica, mas apresenta a vingança dylanesca em uma sonoridade dançante - aqui, há um quê de Rolling Stones. Bob surpreende com duas canções diretamente influenciadas pelas balada dos anos 50/60. "Soon After Midnight" parece ser um cover ao mesmo tempo sereno e triste de uma canção da Motown. "Long and Wasted Years" é um belíssimo country-soul que lamenta o fim de um grande amor.

Quando começaram os boatos de um novo disco de Dylan, as expectativas se firmaram principalmente em duas canções. "Tempest" reconta em quase 14 minutos a epopéia do navio Titanic e sua última viagem, ocorrida há cem anos, no dia 14 de de abril de 1912. Na enorme - e um pouco cansativa - narrativa do cantor, até o ator Leonardo DiCaprio, ou apenas “Leo”, é citado. A outra música que muitos ansiavam era "Roll On John", o tributo ao amigo John Lennon, assassinado em 1980. Dylan reconta com emoção parte da vida de John e utiliza alguns versos do ex-beatle para compor sua tocante homenagem.

Tempest conseguiu mesclar os caminhos percorridos por Dylan em seus discos do século XXI com músicas que sugerem o novo rumo que ele quer para sua arte. Nós o agradecemos por continuar.

*Pedro Couto é jornalista e escreve o Dylanesco, blog especializado em Bob Dylan.

Nota do Crítico
Bom

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