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Crítica

Bob Dylan - Triplicate | Crítica

Dylan sai do óbvio e mostra que não fez só mais um disco de covers

05.04.2017, às 15H22.
Atualizada em 05.04.2017, ÀS 16H08

Continuando sua exploração - no bom sentido - do grande Songbook Americano, Bob Dylan lança Triplicate, seu terceiro álbum repleto de covers que passeiam por verdadeiros hinos do pop dos Estados Unidos: "Day In Day Out", "Stormy Weather", "As Time Goes By", "The Best It Yet To Come" e tantas outras.

O interessante aqui é como Dylan tem o cuidado (ainda bem!) de não fazer uma simples releitura de canções que já foram gravadas à exaustão, mas ele empresta a estes clássicos sua característica única de interpretar. À primeira vista pode até soar como uma certa falta de respeito ao clássico em questão, mas na verdade é justamente o contrário: para fazer o que todo mundo já fez, Dylan não faria. O que ele alcança aqui é sublime em termos de adaptação de um material eterno ao seu estilo também imortal.

E aí que está a graça de Triplicate. Apesar de seguir o mesmo conceito de Shadows In The Night e Fallen Angels, o novo álbum cava mais fundo no fértil terreno aberto por Frank Sinatra e tantos outros insuperáveis intérpretes lá atrás. Não que “There’s A Flaw In My Flue” ou “Braggin’” não sejam tradicionais, mas ajudam Dylan a sair do óbvio e a provar que ele não está fazendo “mais um disco de covers”, mas sim conduzindo você pelo jeito dele de apreciar a música daquela época. E aqui a interpretação dele faz toda a diferença.

Mesmo quando sua voz escancara sinais de cansaço - e não são poucos estes momentos - ele faz você perceber nuances quase novas em cada música. Em "Day In Day Out" ele até se permite sorrir e te convida a curtir junto com ele, em "The Best Is Yet To Come" o arranjo brilha com as delicadezas da guitarra límpida e cristalina e os metais fazem sua lição de casa direitinho para honrar as grandes orquestras dos anos 50 e 60. Nelson Riddle, Billy May e Don Costa ficariam orgulhosos.

O mais gratificante é perceber que as interpretações são sinceras e claramente dedicadas. Dylan é uma lenda que não precisa de caça-níqueis, então o que se ouve aqui é genuíno. É um artista honrando suas influências, seu passado, as raízes da música de seu país. E o melhor: se divertindo enquanto faz isso.

Quem se der ao trabalho de ouvir “comparando” com Frank Sinatra estará perdendo seu tempo. Essa não é a ideia de Dylan e muito menos a pretensão do álbum. Quem pegar o espírito e souber captar a delicadeza de um dos artistas mais icônicos de todos os tempos em seu momento de emocionada intimidade vai ter um disco triplo inteiro de deleite pela frente. Triplicate faz jus ao tamanho de sua ambição. Ouça algumas faixas do novo disco abaixo.

Bob Dylan novo disco Triplicate
Nota do Crítico
Ótimo

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