Música

Crítica

Calvin Harris - Funk Wav Bounces Vol. 1 | Crítica

Escocês entrega pop de qualidade, deixa zona de conforto e instiga público com sonoridade cheia de grooves

30.06.2017, às 14H39.
Atualizada em 05.07.2017, ÀS 15H01

Calvin Harris há um bom tempo figura entre os nomes mais bem pagos da música eletrônico. O DJ que já não está tão ligado ao segmento sempre apostou em parcerias com nomes conhecidos da música pop/hip-hop e conseguiu levar a ideia de David Guetta a outro patamar, deixando para traz alguns dos principais elementos da e-music e criando faixas radiofônicas, grudentas e que se encaixam bem nas pistas de dança.

Calvin Harris novo disco Funk Wav Bounces Vol. 1

Agora, com Funk Wav Bounces Vol. 1, Haris dá um passo além, desconstruindo algumas de suas principais apostas sonoras, dando evidência a elementos orgânicos e entregando a pegada perfeita para o verão do hemisfério norte (posteriormente do hemisfério sul). O produtor, mais uma vez, reuniu um time bem conhecido do pop, mas não só para emular a sonoridade de cada um deles - o que Steve Aoki deve fazer em Kolony -, mas para estimular esses cantores a entregar performances que se encaixem no clima/conceito pensado para o álbum.

E só por isso Harris merece destaque. No entanto, com uma rápida olhada na lista de convidados é possível ver nomes como Frank Ocean, Pharrell, Katy Perry, Snoop Dogg, John Legend, Future, Ariana Grande entre outros, sem que isso sifnique mais do mesmo, já que suas vozes e veias musicais não dominam o disco, mas sim trabalham para levar o conceito do álbum - uma mistura entre o funk orgânico e o calor do verão - adiante.

Logo de entrada, as duas primeiras faixas "Slide" e "Cash Out", chegam como um sopro do vento quente do litoral. "Cash Out", especialmente, mostra algo que será ouvido por diversas vezes no disco, o início "acelerado", uma quebra no meio da faixa, e um arranjo de piano (instrumento orgânico) que faz o corpo dançar quase automaticamente. Assim, Harris entrega algo completamente fora de tudo que já havia produzido antes em conjunto com performances honestas e cheias de groove de ScHoolboy Q, PARTYNEXTDOOR e D.R.A.M., algo que permeia praticamente todas as participações do projeto.

No decorrer das faixas é possível notar que o álbum se sustenta muito bem, com variações de arranjos e momentos criados para tocar no rádio do carro, no escritório ou em qualquer lugar no qual o seu único desejo seja aproveitar um momento descompromissado. E isso se deve, principalmente, por causa das nuances finas que se ajustam sem sobressaltos e que são colocadas de forma precisa em pontos importantes de cada faixa. Algo que garante sensações diferentes a cada nova audição.

Entre os principais destaques do disco que tem tempo total de 37 minutos (duração ideal para manter a vontade de ouvir mais) está "Rollin". Faixa que apresenta arranjos simples, com elementos sonoros que lembram a infância e, mais uma vez, coloca a sonoridade do piano em conjunto com sintetizadores que conversam de forma precisa, sem drops ou quebras desnecessárias. Uma faixa com a função clara de gerar a sensação de uma viagem calma e tranquila.

Porém, como nem tudo pode ser perfeito, o disco perde um pouco de sua intensidade em "Holiday", possivelmente pela forma como Snoop Dogg entrega seus vocais. De qualquer forma, a participação de John Legend e Takeoff, mais o arranjo sonoro criado por Harris, ainda são capazes de manter a vibração do projeto viva. "Skrt on Me" segue pelo mesmo caminho, perdendo um pouco do conceito sonoro ao tentar misturar uma sonoridade que emula algo latino mais a voz de Nicki Minaj alterada por um vocoder.

"Feels", ainda bem, coloca tudo no lugar e mostra alguns dos principais segredos e artimanhas para se fazer uma boa música chiclete. Os vocais característicos de Pharrell, a sonoridade leve, para tocar em qualquer lugar e hora. Nesse momento a aposta de Harris em um padrão para suas criações fica ainda mais audível: As faixas começam aceleradas e seguem para um tempo diferente - quase sempre no centro da música -. No caso de "Feels", a quebra acontece graças ao riff de guitarra que valoriza e destaca ainda mais a ideia.

"Faking It" abre o segmento final do disco, com uma sonoridade mais sincopada e marcada, ela faz com que um clima diferente surja durante a audição e coloca novamente em destaque o trabalho com a alternância de cadências rítmicas, detalhe que mantém a atenção na faixa durante todo o tempo. Isso mostra outra aposta diferente de Harris, já que, ao contrário da fórmula que aposta em drops e graves extremamente pesados para que o público se mantenha focado, o produtor cria mudanças quase subliminares que garantem que as faixas não soem como algo pasteurizado e sem surpresas. É algo que empolga, principalmente vindo de alguém que costuma dominar as pistas e estações de rádio ao redor do mundo.

Por fim, o disco encerra com a singela "Hard to Love" que conta com vocais de Jessie Reyez (facilmente confundida com Macy Gray). A última faixa, apesar de sua simplicidade, também conta com uma evolução de elementos sonoros que colabora com a boa dinâmica do disco.

Por fim, Funk Wav Bounces Vol. 1 é uma forma de valorizar os ouvintes, graças a elementos que vão além do convencional quando se pensa em música pop e, principalmente, mostra um produtor/DJ e seus convidados acertando quase tudo com uma criação fora da zona de conforto. Um disco que chega como um sopro de novidade real para o pop - afinal de contas Harris já deixou a EDM para trás há algum tempo - e evidencia que ele não só está antenado com seu público, mas também com a necessidade de puxar sonoridades para frente.

Um belo acerto, de certa forma ousado, e que pode concretizar a mudança de ares do produtor, fazendo com que ele saia - em definitivo - do segmento da música eletrônica e se posicione como uma estrela do pop - ouça o disco na íntegra.

Nota do Crítico
Ótimo

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