Música

Crítica

David Bowie - The Next Day | Crítica

Após dez anos de reclusão, David Bowie permanece em forma

12.03.2013, às 15H20.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H54

Foi preciso uma década para David Bowie deixar a redoma. Os filmes e as esporádicas aparições que fez durante este tempo não foram o suficiente para saciar a necessidade de uma legião de fãs. O álbum The Next Day encerra esta espera e mesmo que não seja o ápice da carreira do cantor, é um exemplo de seu talento incomum.

O frisson do retorno começou com a revelação de "Where Are We Now?", uma característica balada de Bowie. Ainda que faça referências claras a sua estada em Berlim e até a clássica "Heroes", não faz jus ao legado camaleônico, muito menos às músicas que foram criadas àquela época - a melodia é tão batida e morna quanto qualquer outro som melancólico pop atual. Mesmo dentro de The Next Day a faixa é descartável, apenas um aperitivo para os seguidores ardorosos, ávidos por um suspiro que seja.

Mais adiante, "You Feel So Lonely You Could Die" traz a mesma batida lenta, mas com um tom de crescimento gradual que combina perfeitamente com a letra, carregada de significado. Mais do que uma escolha, a solidão é inerente ao homem moderno; "I can see you as a corpse (...) You've got the blues, and people don'' like you. You will leave without a sound or a God", diz Bowie, que ainda leva pra si o desinteresse do próximo, mesmo de fronte ao desespero do semelhante: "I hear you moaning in your room. Oh, see if I Care. please, please, make it soon".

Se a escolha do single inicial não foi boa, o mesmo não pode-se dizer da música que dá nome e abre o álbum. "The Next Day" segue o mesmo caminho de citações e lembranças da carreira de Bowie, mas opta por uma pegada de rock clássico, guitarras rasgadas e o vocal principal em eco, realçando a sensualidade do Camaleão. Melhor que ela somente "The Stars (Are Out Tonight)", típico single feito para multidões, perfeita para a audiência jovem desinteressada em contexto ou mensagem - ainda que em nenhuma das 14 músicas Bowie deixe de pingar sua identidade.

O pop setentista toma conta na parte final do disco, com "Dancing Out In Space" e "How Does The Grass Grow". A primeira começa com uma percussão seca, seguida pelos acordes prolongados de uma guitarra que introduzem a voz de Bowie. Os backing vocals brincam com a letra menos inspirada do álbum, mas compõem uma das músicas mais melódicas. "How Does ..." mistura o cordas com um sintetizador para trazer um tom quase new wave ao disco.

É evidente que a inspiração de The Next Day veio não só de álbuns como Heroes e Ziggy Stardust, mas de toda a década de 70, o melhor período criativo da carreira do cantor. As tradicionais misturas rítmicas de Bowie continuam, suas letras são tão fortes quanto as antigas, mas não conseguem impactar tanto quanto estes clássicos. E mesmo que se limite às referências, o novo disco traz um pacote repleto de grandes canções, palatáveis para saudosistas e introdutórias para uma nova geração de ouvintes.

Nota do Crítico
Bom

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