Os brasileiros do Far From Alaska, três anos depois de seu primeiro álbum - modeHuman -, mantém a boa pegada sonora e entregam Unlikely, projeto cheio de nuances, atmosferas e que mostra a que veio desde a faixa de abertura, "Cobra".
Vale lembrar que o projeto, antes mesmo de chamar a atenção pela música, já leva o olhar para o conceito, graças a opção por títulos curtos para as faixas (quase todas com nomes de animais). Junto com esse quesito, a estrutura mostrada em todas as faixas - sonoridade crescente, com punch, guitarras pesadas e pitadas sintéticas - conduz o disco para um resultado encorpado e entrega uma experiência auditiva estimulante, que mantém o ouvinte atento o tempo todo. Com certeza, a opção e a coragem de apostar em mudanças de cadência em conjunto com uma sonoridade tão sincopada já valem o disco. Mas ai ainda entra a atenção aos detalhes de produção (realizada por Sylvia Massy) que deve agradar bastante os amantes do rock e também ampliar bastante a base de fãs da banda potiguar - instalada em São Paulo desde 2015.
Voltando à tracklist: As três primeiras faixas do álbum ("Cobra", "Bear" e "Flamingo") chegam como um chute na porta e funcionam como um excelente cartão de visitas, deixando em primeiro plano todos os quesitos que dão identidade ao projeto. Porém, após essa entrada arrebatadora, "Pig" surge com uma pegada que não destoa do universo sonoro do disco, mas entrega um resultado com nuances mais próximas do pop. Detalhe que interrompe a viagem iniciada com a trinca inicial.
"Elephant" tem momentos que emulam Alanis Morissette, com notas e ritmo vocal. A faixa entrega um refrão potente, capaz de redefinir toda a sensação que a faixa causa em seu primeiro momento. A brincadeira com cadências rítmicas é algo que valoriza muito o trabalho do FFA, justamente por mostrar a capacidade de entregar atmosferas diferentes em uma mesma faixa e sem perder o conjunto sonoro que embala Unlikely.
Em seguida, "Monkey" é outra aposta que surpreende. O início mostra um caminho diferente, com uma sonoridade menos distorcida, mas cria o caminho para o riff que explode no refrão - talvez o mais pesado do disco - e que deve fazer muita gente pular no show, com fone de ouvido ou na sala de casa. É simples, pesado e empolgante na medida certa. O disco caminha por "Pelican" e segue para "Pizza" que conta com algumas nuances eletrônicas já utilizadas no restante do disco.
O projeto segue por "Armadilo" e "Rhino" que funciona de forma muito interessante, graças a sua sincope sonora em conjunto com o vocal que alterna entre momentos de calmaria e gritos acelerados. E mais uma vez, o trabalho com a cadência rítmica chama a atenção, a alternância garante a cada faixa um caminho diversificado e gera novidade para os ouvidos em todas as audições. "Slug" chega com um timbre já conhecido dos fãs de rock, ("That Was Just Your Life", faixa do Death Magnetic do Metallica). É impossível fugir dessa identificação, mas o grupo não sai do mundo sonoro que construíram para e isso, no final das contas, é o que vale. Por fim, "Coruja" surge para encerrar a jornada com a mistura de um pouco de tudo que a banda utilizou no decorrer do álbum.
O segundo trabalho do Far From Alaska deixa em evidência que o grupo está trilhando por um caminho bem definido, com sons característicos, ganhando muito mais com a atenção aos detalhes e, principalmente, entendendo como trabalhar momentos diversos dentro de uma mesma música e de um projeto (algo que poucos grupos sabem e conseguem fazer). Unlikely é um álbum que coloca em 1º plano a vontade e o punch da banda e equilibra essa visceralidade com cuidado técnico e atenção. Uma boa aposta para quem quer um rock que expande sonoridades e não desaponta. Ouça Unlikely na íntegra.
