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Crítica

Gorillaz - Humanz | Crítica

Gorillaz lança festa em forma de disco e quebra qualquer expectativa sobre o som do grupo

28.04.2017, às 12H23.
Atualizada em 29.04.2017, ÀS 01H07

Um bom tempo se passou entre o último álbum do Gorillaz, The Fall (2010) e Humanz que chegou hoje às lojas e serviços de streaming. E bem, se você está esperando um reencontro lindo cheio de lembranças do passado é melhor tirar o cavalinho da chuva. Damon Albarn e Jamie Hewlett foram além e praticamente criaram um álbum para quebrar expectativas e isso é muito bom do ponto de vista artístico, talvez não do musical. O disco conta com uma dúzia de convidados e cada uma das 19 faixas têm a influência desse convidado. A identidade do Gorillaz aparece em poucos momentos e isso gera uma surpresa atrás da outra.

Gorillaz Humanz novo disco

Logo de entrada o que chama a atenção é o grave pesado e os elementos eletrônicos usados em todas as suas possibilidades, elementos que agregam camadas e sonoridades distintas para cada faixa. A primeira música do disco, “Ascension” que conta com a participação de Vince Staples, chega com uma influência pesada de hip-hop, mas sem ficar longe do espectro do pop. E assim o álbum segue pelas próximas faixas. “Strobelite” com Peven Everett e “Saturnz Barz” com Popcaan, compõem uma entrada não tão marcante e deixa claro como a influência dos convidados do disco é forte em cada uma das músicas. Meio no esquema de “Participa do meu disco e a gente cria juntos”. Até por isso tanto material ficou de fora para ser trabalhado para um possível próximo lançamento do gupo.

A primeira surpresa do projeto acontece em “Momentz” que conta com a participação do De La Soul. Essa faixa, sem dúvida, pode ser tudo que você espera de uma música, menos algo com os vocais dos rappers de Nova York e isso é bem bacana. A música ainda não dá identidade ao disco, mas surpreende justamente pelo peso eletrônico utilizado na produção sonora. Criação que já funciona para as pistas de EDM mesmo sem receber nenhum tratamento posterior.

A música seguinte é a primeira capaz de dar um tempero real para o projeto, “Submission” com Danny Brown & Kelela ganha muito com os vocais de Kelela, que dá um puxada para o pop, novamente com um som cheio de graves fortes e marcados que a partir desse momento destaca a linha condutora do disco. Após isso é possível perceber que a ideia principal de Humanz esta justamente na mistura entre hip-hop e elementos eletrônicos.

“Charger” com Grace Jones, coloca um tempero romântico no disco, graças ao ritmo menos intenso e boa atmosfera.  Em seguida surge a já conhecida “Andromeda” com D.R.A.M e “Busted Blue”, enfima a primeira criação sem nenhuma participação. “Carnival” com Anthony Hamilton é mais uma aposta para o remix perfeito. A música apresenta um vocal potente e um excelente trabalho rítmico. A melhor do disco e não tem nada  de carnaval. “Let Me Out” com Mavis Staples & Pusha T surge com o maior número de referências à maneira como o Gorillaz fazia música, essa vai ajudar os fãs a matar a saudade do “antigo” Gorillaz.

“Sexy Murder Party” com Jamie Principle & Zebra Katz começa com elementos de reggaeton e segue para uma pegada mais cluber, tem tudo a ver com a ideia de festa mais sexy e poderia facilmente fazer parte de um disco da Rihanna,ou outra artista pop, graças ao seu ar pop e bem produzida. A quebra de objetivos continua com “She´s My Collar” com Kali Uchis, faixa simples com a pegada old Gorillaz, “Hallelujah Money” com Benjamine Clementine, foge de todo o conceito criado durante o álbum e se destaca mais pela letra do que por qualquer outro elemento. A edição simples do disco fecha com “We Got The Power” com Jehnny Beth, criação com mensagem positiva, sonoridade mais festeira, alegre e animada, o disco fecha bem a experiência de esperar o Gorillaz por tanto tempo e mostra que realmente a ideia de uma festa com vários estilos ligados por graves pesados tem a premissa de tocar a exaustão nas rádios do mundo todo e possivelmente vai conseguir.

A edição Deluxe ainda conta com mais cinco faixas que acabam desconstruindo um pouco do conceito do álbum como um todo. Logo de entrada “The Apprentice” com Rag’ n’ Bone Man, Zebra Katz & Ray BLK segue para um caminho mais R&B, muito mais próximo do som que Bone faz do que qualquer outra produção já criada pelo grupo de Albarn. “Halfway To The Halfway House” com Peven Everett poderia ter sido cantada por Sade, sem medo. Ela parece ter sido criada para a voz da cantora. Uma música de sonoridade simples, que ganha elementos rítmicos no meio e conquista os ouvidos, não por ser incrível, mas por ser capaz de construir um bom clima. “Out of Body” com Kilo Kish, Zebra Katz & Imani Vonshà, aposta novamente em uma sonoridade que poderia estar facilmente no disco de outra pessoa. Tove Lo ou seriam perfeitas pra isso. Ela mantém o clima de festa e entrega caminhos sonoros diferentes. O álbum caminha para seu final com a balada “Ticker Tape”  com Carly Simon & Kali Uchis, a música mais diferente do álbum, com certeza, e encerra com “Circle of Friendz”  com Brandon Markell Holmes, faixa para cantar abraçado com os amigos e encerrar a experiência auditiva como se você estivesse em um bar depois das três da manhã.

Por fim, o Gorillaz entrega um álbum com muitas faixas, mas que não cai na armadilha de ser cansativo, possivelmente pela mistura entre sonoridades tão diversas. E justamente por isso o projeto pode ser chamado de coletânea/Mix Tape (Drake feelings), ou algo parecido já que apesar da linha que une o material - elementos do hip-hop e da música eletrônica - as faixas têm muito das pessoas que participam e em alguns momentos quase nada do Gorillaz. Logo, o grupo merece os parabéns pela coragem de investir em sonoridades distintas, mas ainda vai ser necessário algum tempo para saber se esse álbum irá marcar, de alguma forma, o mercado da música e os fãs. Humanz é uma boa oportunidade para conhecer novos artistas e abrir um pouco mais os horizontes de quem gosta do grupo, mas provavelmente não é, nem de perto, algo capaz de refletir um caminho sonoro que indique os elementos que o Gorillaz já utilizou em seus outros projetos. Ouça o disco abaixo.

Conheça os principais remixes de Humanz

Nota do Crítico
Bom

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