Música

Crítica

Paul Simon - Stranger To Stranger | Crítica

Décimo-terceiro disco de Simon mostra o veterano longe de se cansar, com melodias e seções rítmicas cheias de peso e energia

20.06.2016, às 14H07.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 16H37

Para alguém tão icônico e experiente como Paul Simon, enxergar o mundo e traduzi-lo em forma de boa música não é necessariamente uma tarefa difícil, já que ele esbanja talento e competência e tem feito isso há mais ou menos uns 50 anos. Mas mesmo com tanta bagagem nas costas, até um gigante como Paul Simon pode se ver diante de dificuldades para entender o mundo de hoje.

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E essa turbulência é justamente o clima que permeia Stranger to Stranger, um disco deliciosamente tenso e calcado no ritmo: estouros de baterias, percussões e maracas dão o tom tumultuado da obra, que representa de maneira brilhante a visão inquieta de Simon para os absurdos e contradições da vida moderna.

Ele sabe que já fez muito, já revolucionou muito e já influenciou muito - e muita gente. Mas também sabe que as possibilidades são inesgotáveis quando se tem uma mensagem clara a ser dita. E com uma forma definida na cabeça, Simon desenvolve "The Werewolf", "In A Parade" e "Street Angel" com um excesso incomum, mas que funciona muito bem porque a estrutura é clara, a melodia é precisa e a execução apenas reforça a intenção: Paul Simon quer levar você para um passeio fora da sua zona de conforto.

Em alguns momentos as palavras são cantadas rapidamente, com angústia e pressa, como se traduzissem uma correria que não tem fim em vidas que, de repente, só correm mas não chegam a lugar algum. E esse tipo de detalhe é um dos caprichos mais bem-vindos em Stranger To Stranger: o compromisso com a mensagem e todos os sinais que ela pode dar. A estética de Simon aqui não é mais aquela serenidade de "Rhythm Of The Saints" ou "Graceland" (ou mesmo "Surprise"), mas sim elementos que espelham os novos tempos, com um toque de nostalgia que não vira armadilha.

Stranger to Stranger tem sim, algumas lindíssimas canções típicas de Simon com seu violão inconfundível e seu bom humor literário - "In The Garden Of Edie", "Insomniac’s Lullaby" -  mas não espere ouvir "Sounds Of Silence". Aqui a pegada é outra, e estas músicas servem de amortecedor para o resto de um disco tenso e carregado, mas que ao mesmo tempo vira um veículo para Simon se reposicionar perante o mundo, e se mostrar calmo mesmo quando tudo parece desabar. Ele sabe que precisa correr, mas não quer se apressar. Já viveu demais e quer aproveitar cada momento sem desperdiçar um segundo de vida sequer.

“Everyday I’m here and I’m grateful”, ele diz abertamente em Cool Papa Bell, como se cantasse sobre um jogador de baseball. Mas é bem provável que seja sobre si mesmo, e mesmo com o mundo complicado que o rodeia - e a todos nós - ele ainda não está pronto para parar.

 

Nota do Crítico
Ótimo

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