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Crítica

Rammstein : Paris | Crítica

Filme-concerto mostra a banda de perto e funciona como aperitivo para quem não pôde vê-los ao vivo

31.03.2017, às 13H32.
Atualizada em 02.04.2017, ÀS 22H55

A experiência de um show no cinema não poderia ter melhor representante do que o Rammstein. Grupo alemão que presa pela teatralidade de seus atos, com cara de ópera de estádio, e que carrega um peso musical muito forte, lançou em apresentação única nos cinemas do mundo o filme-concerto Rammstein: Paris, com direção de Jonas Åkerlund (que já trabalhou com Madonna, Moby, Beyoncé, Coldplay, U2 entre outros nomes da música) - veja trailer.

O diretor, em nota, declarou que tentou captar a essência da banda no show filmado no Paris Bercy, em 2012, com 30 câmeras e mais de um ano de edição. E podemos dizer que, de certa forma, conseguiu.

De entrada, não dá pra negar que a energia que um show do Rammstein libera ao vivo é única e muito potente. Logo, para chegar minimante próximo disso, é necessário que a equipe da sala de cinema no qual o filme será transmitido saiba como calibrar bem o sistema de áudio. Caso contrário, a distância será sentida já na primeira nota. Isso, infelizmente, aconteceu na sala na qual fui, o som não estava distribuído de uma forma interessante.

Mas, em todo caso, vamos ao filme. Com 98 minutos, sala cheia e com uma única chance de ser visto nos cinemas do mundo (o lançamento aconteceu em uma única data), a produção começa com cortes frenéticos, algo justificado por Åkerlund que comentou ter pensando a edição do show da mesma forma que se pensa em um clipe. Assim, os cortes, em alguns momentos, te levam para um outro patamar ao assistir a apresentação. E principalmente no início, são rápidos, sucessivos e acelerado.

Entre as coisas boas que a chance de ver a banda em uma tela dá, ser capaz de olhar com atenção detalhes dos figurinos e também da estrutura que um show do Rammstein precisa, merece destaque. E isso enfatiza ainda mais o quão cinematográfico é o grupo, mostrando uma preocupação com cada número apresentado e com a forma como as músicas soam. Também é interessante, na sala de cinema, estar com os fãs que aplaudem a cada final de música, alguns querendo bater cabeça, mas se controlando, afinal de contas uma sala de cinema não te ajuda muito a curtir tudo que um show como esse pode proporcionar.

Após o primeiro momento mais acelerado a produção ganha partes mais lentas e o uso do slow motion em conjunto com algumas montagens agrega muito a estética cinematográfica, até porque a forma como a banda trabalha com o fogo merece ser vista em todos os detalhes. Fogo, fogo, fogo, microfone pegando fogo, guitarras pegando fogo, explosões, fogos de artifício, tudo que um espetáculo que vai além da música precisa ter.

Grande parte das imagens captadas durante show são esteticamente únicas, bem selecionadas e criam uma mistura entre o belo e o agressivo, entre o violento e o suave que coloca em foco desde a mise-en-scène de cada integrante - que dá vida a um personagem - até a forma como as músicas são apresentadas. E claro, “Du Hast”, umas das faixas mais conhecidas da banda, fez todo mundo bater cabeça, sentado, mas com vontade. E isso levanta uma questão bem pertinente sobre a banda: Que outro grupo do rock atual pode usar tanta teatralidade, criar números artísticos no palco e ainda permanecer respeitado como o Rammstein? Eu desconheço. Afinal de contas, quem mais atravessaria uma passarela sendo conduzido como cachorro e posteriormente simularia masturbação e penetração no palco sem que isso fosse interpretado de uma forma obscura? Sem dúvida, o fato deles serem europeus colabora bastante para a liberdade artística que mostram no palco, e é muito bom ver isso em grandes proporções.

Um dos grandes momentos da produção acontece quando eles saem do palco principal e vão para uma pequena plataforma no meio do público, deixando o show focado somente no som que fazem. Sem explosões, sem efeitos, apenas a música no meio da galera, e é de arrepiar. Ao final desse ato, a apresentação ganha alguns momentos mais calmos e a edição também se torna menos intensa, o que dá mais força para a obra e conecta de maneira mais direta a plateia com o que está sendo mostrado. Esse novo ritmo permite ver, com perfeição, a expressão da banda depois de uma maratona musical e dá ao filme um de seus pontos altos justamente por capturar de forma delicada a sensação do grupo. Até porque, no final das contas, quando pensamos em um filme musical, os acertos sempre vão estar no encontar o ritmo exato da edição e, nem sempre, tem a ver com o ritmo da música.

Ao final desse momento, quando os integrantes do Rammstein deixam o palco, não tem como não ficar arrepiado com a maneira como eles demonstram respeito pelo público, sem dar as costas para audiência, e com uma reverência focada. No momento de se desperdir dos fãs, só isso importa. Esse é um filme-concerto, não um filme da Marvel, mas para quem esperou até o final dos créditos, a banda ainda voltou para mais um momento de entrega no palco, se despediram ajoelhados e, enfim, encerraram.

No final das contas, a sensação de mostrar um show no cinema, ao menos para o Rammstein, não alcança toda a força que o grupo mostra em suas apresentações ao vivo. Claro que o volume e a engenharia de som da sala pode ter sido um fator decisivo, porém, após pouco mais de uma hora e meia vendo cada detalhe e o cuidado com que a apresentação é pensada só fica a sensação de que acabou tudo muito rápido e que o projeto poderia durar mais uma hora, tranquilamente.

Nota do Crítico
Ótimo

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