Em seu quarto álbum de carreira, três anos depois do lançamento de Esmeraldas, Tiê retornou com Gaya, um disco doce e pegajoso, investindo no pop sem nenhuma parcimônia. A aposta veio, não só nas melodias, arranjos e batidas, como nas diversas participações especiais, que incluem vocal de Luan Santana e composição de Bruno Caliman. Para uma cantora que trouxe participações mais rock n’ roll em seu último álbum (como David Byrne e Tim Bernardes), a escalação dos novos nomes em seu trabalho é quase que um afirmação da transição de seu som.
“Mexeu Comigo”, single que foi revelado em maio, é a abertura de Gaya. Começando o álbum muito bem, Tiê já solta um belo vocal em cima de um piano marcante, e um lindo arranjo de cordas. A combinação dos três elementos funciona perfeitamente e demonstra bem o que esperar do disco. A diferença maior é que o som vai ganhando mais batidas eletrônicas e se distancia da sonoridade mais doce de sua faixa de abertura.
Gaya traz Tiê mais solta e bem resolvida com o estilo adotado. Sua voz flui e combina muito bem com uma das melhores qualidades do álbum: a produção. Música atrás de música, Adriano Cintra e André Whoong surpreendem nos arranjos e instrumentações, cheios de toques eletrônicos, que chamam atenção. Em “Pra Amora”, o disco tem seu auge: a letra, melodia e arranjo encaixaram perfeitamente, e pra arrebatar a música finaliza com um coral infantil muito carismático, para botar sorriso em qualquer um.
Em “Duvido”, Tiê canta com Luan Santana uma composição improvável de Rafael Castro. A faixa é boa, e a cantora segura bem, mas o cantor não disfarçou seu estilo sertanejo e a faixa acaba sofrendo com isso, com um pé fundo demais no brega. Já para o meio do CD, a melhor parte, a cativante “Tudo ou Nada” traz uma ótima letra, com o refrão “tudo pode acontecer, inclusive nada”, com o cativante vocal da mexicana Ximena Sariñana.
Outro aspecto que chama atenção em Gaya é a capacidade da vocalista em fazer composições modernas e grudentas com um toque de nostalgia que chega a remeter bastante a Roberto Carlos, principalmente em “Oi”. O mesmo pode ser dito do hit “Amuleto”, onde Tiê canta a composição de Bruno Caliman, autor de músicas de Bruno e Marrone, Raça Negra, Fernando & Sorocaba, Jorge e Mateus, e mais. A combinação da sonoridade moderna e retrô funciona muito bem, e combina com suavidade com a qual Tiê canta, sempre certeira. A faixa ainda traz as ótimas participações de Jesse Harris (produtor de Norah Jones) no violão e de Alexandre Kassin (que já colaborou com Caetano Veloso, Gal Costa, Los Hermanos, Erasmo Carlos e mais) no lap steel guitar.
Ao fim do álbum, Tiê traz a bela “Vida”, com vozes de Assucena Assucena e Raquel Virgínia, do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira, e Filipe Catto, fechando o trabalho com um belo e melancólico arranjo vocal.
Tiê fez bem em apostar no pop sem perder a identidade, e Gaya mostra uma clara transição a um novo som para o futuro. O que quer que seja, a cantora soube mudar com muita fluidez, e tudo indica que ela se garante nesta jornada para o futuro.