Música

Entrevista

Above & Beyond - O mainstage com sentimento e jornadas musicais

Grupo se apresentou no ULTRA Rio

17.10.2017, às 11H34.
Atualizada em 17.10.2017, ÀS 12H00

Above & Beyond é um dos projetos eletrônicos mais interessantes e estimulantes do gigante universo da música eletrônica. Ao entregar produções que evoluem de forma muito peculiar e apostar em temáticas mais abrangentes para suas composições, que apresentam não só elementos do Trance, mas também do Progressive e pitadas do que existe de melhor no Pop, o trio formado pelos ingleses Jono Grant e Tony McGuinness, mais o finlandês Paavo Siljamäki consegue quebrar algumas das principais barreiras do mercado musical quando se pensa em shows para grandes públicos.

O trio começou a trabalhar junto no início dos anos 2000 e, atualmente, após quatro discos de estúdio, e dois acústicos, estão preparando o lançamento de Common Ground para janeiro de 2018. O A&B foi uma das atrações do Ultra Rio no último final de semana e, sem dúvida, é um dos poucos pontos fora da curva a ser escalado para um mainstage fazendo um som diferente e infinitamente mais melódico do que as faixas que compõem os principais palcos dos festivais ao redor do mundo. Na passagem pelo Brasil, os responsáveis pela apresentação foram Tony e Paavo que, em conversa exclusiva com o Omelete, confessaram o porquê do trio não viajar junto para todos os shows, falaram sobre fazer música para quem gosta de música e, principalmente, faixas que possam ser ouvidas em qualquer momento da vida. Leia abaixo.

Conversar com os integrantes do Above & Beyond é, sem dúvida, a necessidade de tentar entender como é possível fazer músicas climáticas e repletas de sentimentos, serem tocadas para um público cada vez maior, mesmo com um mercado cada vez mais direcionado para um modelo musical de faixas rápidas e de trajetos curtos. Afinal de contas, é quase impossível lembrar quando um grupo eletrônico de sonoridade tão distinta foi atração principal em um mainstage, não é mesmo? Sobre isso, Tony faz questão de comentar que o trio é realmente muito sortudo. “Somos capazes de fazer músicas que ressoam na gente, que expressam o que a gente sente e que conseguem encontrar uma audiência. Eu acredito que nós nunca tentamos fazer música para que fosse sucesso, este não era o plano. O plano sempre foi fazer a música que nós gostássemos de fazer e a coisa mais estranha é que nós estamos neste lugar na cena eletrônica no qual criamos faixas honestas e emocionais e ninguém mais está fazendo isso. Parece que existe um pequeno espaço, no meio da cena, com todo mundo tentando fazer barulho, colocando as mãos para o alto e esse tipo de coisa, e a gente está fazendo esse som leve sem que ninguém pense em nos copiar. Nós estamos em um lugar muito bom na cena musical, mas não estamos na cena. Isso é muito bacana pra gente”.

Paavo complementa a ideia ao falar que o sentimento e a honestidade que eles colocam na música é, possivelmente, o que faz a conexão entre os fãs e eles ser tão forte, e aproveita para revelar o porquê de somente dois deles viajar para os shows: “Eu acho que grande parte disso é que muitas das nossas músicas são realmente ligadas à vida normal, cotidiana, nós somos um trio no Above & Beyond, mas são sempre dois na estrada, que se alternam. Então, conseguimos ter bastante tempo como pessoas normais, com nossas famílias e tudo mais. E isso é algo raro no mundo dos DJs, pois normalmente eles estão viajando tanto que não têm a chance de estar conectado com suas raízes e, ao mesmo tempo, voando ao redor do mundo. Eu acho que isso, talvez, também seja uma forma de fazer com que as nossas músicas se relacionem e sejam sobre uma vida normal. Eu acho que esta é a parte central do que a gente faz”.

Tony segue a linha de raciocínio e afirma, “Este é um ponto realmente interessante. Eu acho que se fôssemos uma pessoa e nossa vida fosse na estrada, o tempo todo, nosso som poderia ser sobre estar na estrada. Nós escrevemos sobre como é estar no Above & Beyond, mas grande parte do tempo a gente escreve sobre como é estar apaixonado ou não estar apaixonado, ou ter um momento estressante, ou alguém morrendo. Coisas que acontecem na vida real. Pra nós, esses são os temas sobre os quais você deveria escrever músicas. Música de festa, sobre fazer festa, da forma como é feito atualmente, é muito limitante. É irrelevante na segunda, terça, quarta, quinta. Talvez na sexta-feira esse tipo de música funcione pra você, mas eu acho que pra mim, a música que ressoa em mim, não é sobre um momento específico, é sobre a vida, são histórias completas. Não é só vamos nos divertir um pouco e colocar as mãos para cima”, enfatiza.

Toda essa necessidade de contar histórias completas, com trajetos cheios de nuances, leva a conversa para o lançamento do próximo álbum, Common Ground, em janeiro. Algo que poucos produtores de música eletrônica têm apostado.

Sobre a necessidade de lançar um disco, Paavo é categórico ao destacar a sorte que o grupo tem com seus fãs. “Eu acho que uma das coisas que a gente conseguiu perceber é que somos muito sortudos por termos fãs que vêm com a gente quando fazemos coisas malucas, como discos acústicos com 16 músicos no palco, ou fazemos um esquema de Yoga, como a gente realizou no Gorge [local no qual realizaram no mês passado uma apresentação comemorativa pela marca de 250 programas Group Therapy], fazemos coisas malucas para clubes ou faixas mais emocionais. É muito gratificante pra nós, saber que podemos fazer seja lá o que nos estimula, justamente por termos a confiança das pessoas. Estar nesta situação é algo realmente incrível, sabe? Muitos músicos estão lutando pra conseguir mostrar o que fazem e a gente está confortavelmente tentando ir além. [Para este disco] Nós estamos fazendo algo que nunca fizemos antes”.  O trio, em 2014, apresentou um set de yoga como parte de sua passagem pelo Burning Man - ouça abaixo:

Música para a vida e não só para o agora

Ainda sobre música, Paavo comentou em uma entrevista, que o grupo tem como meta criar músicas que sejam interessantes daqui a 25 anos ao invés de música só para o agora. Quando perguntados se esse objetivo estava sendo alcançado, Tony foi direto ao ponto: “Nós estamos na estrada há 17 anos e eu acho que nós chegamos muito perto daquela estrutura de música clássica. Nós temos muita sorte de trabalhar em uma área da dance music que nos permite inserir uma grande dose de informação melódica. Afinal de contas, nós não estamos fazendo minimal, techno, nós não estamos tentando fazer música pop, que é como fast food. Nós estamos trabalhando em uma área que, historicamente, quando o Trance começou, a estrutura musical era diferente, você tinha tempo para se expressar, para construir uma história, para construir uma jornada na música. Eu acho que as músicas sempre foram assim e acredito que este é ponto que nós temos esperança de chegar. Talvez o som de um club mix produzido em 2001 pode não ser mais relevante hoje, mas o som de 2001, eu espero, que ainda continue relevante e é isso que a gente tem tentado alcançar”.

O que falta para o Above and Beyond?

E com todo esse tempo de estrada, turnês, discos com diversas linguagens, qual é o próximo objetivo do trio? Qual é a próxima fronteira a ser transposta? Essa poderia ser a pergunta de um milhão de dólares, mas Paavo, mais uma vez, se mostra muito pé no chão e fala do agora. “Nós estamos tentando terminar nosso próximo álbum de inéditas, antes de acabar essa turnê em que estamos agora. Nós precisamos fechar datas limite para reservar uns lugares muito loucos. Agora nós temos outra grande tour se aproximando e o álbum ainda não está pronto. O disco se chama Common Ground e deve ser lançado em fevereiro do ano que vem [oficialmente o disco foi anunciado para chegar às lojas em janeiro], a gente não sabe. Ultimamente nós temos feito menos shows do que o normal para podermos finalizar a produção, a mixagem e toda a composição das letras”. Tony complementa que mesmo com essa corrida para finalizar o novo projeto, o grupo  já mostrou três novos singles em alguns shows e que a sonoridade desses singles ainda está “com cara de garagem, mas a gente precisa levar elas para um test drive”. Ouça o single “My Own Hyme”:

Para fechar a conversa, já que as músicas criadas pelo trio conseguem essa conexão tão direta com seu público e a preocupação de Tony, Paavo e Jono está em um futuro imediato, vale saber: Será que eles estão felizes com os rumos da carreira e da música deles?

Paavo destaca que perceber as pessoas interessadas na música que eles fazem o deixa muito feliz e “ser um músico nesta situação é algo realmente incrível. Eu conheço tantos músicos excepcionais que não estão em uma situação tão boa quanto esta e é importante que a gente não ache que o jogo já está ganho”. Tony complementa comentando sobre a apresentação do trio no Gorge, nos Estados Unidos, e faz questão de enfatizar que a alegria deles não vem somente da arte que eles produzem, mas também das conexões possíveis com seus fãs, graças a momentos diferentes que a carreira do A&B proporciona. “Nós tivemos uma experiência rara e incrível [no Gorge], pois normalmente nós fazemos shows à noite e tocamos em locais grandes. A gente costuma ver um grande número de fãs na escuridão, acenando, gritando e se divertindo. Então vamos pra casa e vamos dormir. Neste evento, foram três dias: Na sexta à noite nós mostramos um filme, no sábado nós fizemos um show especial de seis horas e, no domingo de manhã, Paavo tocou e as pessoas fizeram yoga. Foi à luz do dia! Todas aquelas pessoas vieram de diversas partes do mundo por nossa causa e vê-las com cara de sono, ao meio dia, pra mim foi uma das coisas mais bonitas e surpreendentes de toda a nossa carreira. Eu estava no palco atrás dele, vendo as pessoas fazendo yoga, todas elas com camisetas do Above & Beyond caminhando à luz do dia e então comecei a chorar, pois isso estava acontecendo ali, na nossa frente. Essa família, nossos fãs da Suécia a Buenos Aires, do Rio a Singapura, da Austrália a Londres, todos eles vieram para isso. Estavam lá, 25 mil pessoas e foi algo realmente único. Você não vê as pessoas assim com frequência. Normalmente é como hoje: Nós estamos agora no backstage, vamos pro palco, tocamos e saímos, é como se fosse algo instantâneo. Foi um momento muito humano. Eu me sinto muito sortudo por termos conseguido criar essa família que existe fora dos festivais, fora da música pop, fora da mídia mainstream. Nosso pequeno clube. Isso é grande, mas é algo nosso e isso é incrível”, finaliza.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.