Música

Entrevista

Art Department | A união perfeita entre House, Techno e uma causa nobre

Uma das atrações do Ultra Rio, o projeto traz boa música e luta pela defesa de espécies em extinção

11.10.2017, às 17H58.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

O projeto Art Department está na ativa desde 2009 entregando uma sonoridade coesa e que tem, na quebra de fronteiras e na união entre gêneros da e-music, alguns de seus principais trunfos. Com músicas que apresentam elementos que transitam por nuances distintas e interconectadas, o AD, formado em 2009 por Kenny Glasgow e Jonny White, se apresenta como um transgressor de sons da música eletrônica. Vale lembrar que desde 2015 o projeto canadense conta somente com White, mas mantém suas raízes inquietas e voltadas à sonoridades puras e estimulantes.

Em conjunto com essa nova configuração, o projeto canadense, além de ser reconhecido como um dos mais provocativos dentro do segmento eletrônico, também se destaca por levantar a bandeira da causa da não crueldade contra os animais - MAAC (Music Against Animal Cruelty) - algo que pouco se vê no cenário artístico ao redor do mundo.

Art Department, que já esteve no Brasil este ano, é uma das atrações do palco Resistance no Ultra Rio (no dia 13 de outubro) e conversou com o Omelete sobre sua música, novas faixas ainda em 2017, e sobre como é defender uma causa tão importante em meio a uma indústria crescente como a da música eletrônica.

Para entender o Art Department atual, é importante saber como a saída de um dos membros do projeto, levou White a uma direção ainda mais inventiva. O canadense, pouco tempo depois de assumir o comando do AD foi categórico ao afirmar que se dedicaria a tocar House e Techno em suas formas mais puras, algo que ele confessa estar conseguindo, graças à posição e o reconhecimento que conquistou com seu público: “As pessoas confiam bastante em mim depois de todos esses anos na estrada. Eu acredito que elas estão abertas para qualquer coisa que eu toque, mas isso acontece graças ao boca a boca em conjunto com o trabalho realizado com promoters e agentes que estão cientes do que o artista está fazendo e como isso vai funcionar no evento deles”. White afirma ainda que as pessoas “simplesmente se identificam com música autêntica, principalmente com o House e o Techno mais direto de onde esses novos sons e subgêneros vieram”. Essa mudança em busca de forma mais profundas de fazer e entregar música está diretamente ligada à saída de Glasgow, algo que White afirma ter transformado sua forma de criar, já que “[...] não ter um sistema colaborativo e estar no controle da visão sonora do início ao fim do processo, sem considerar outra opinião para isso, altera bem as perspectivas”.

No entanto, recentemente, a dupla se encontrou para realizar algumas apresentações conjuntas em festivais europeus, o que White diz ter sido incrível. “É simplesmente sensacional como nós ainda estamos na mesma vibe sonora depois desses anos trilhando caminhos diferentes. De alguma forma nós acabamos interessados pela mesma música novamente, mesmo com jornadas tão distintas nos últimos anos”, pondera.

O Big Room (EDM) e o retorno da cena mundial ao Techno

Não dá pra negar que grande parte da popularização da música eletrônica vem do subgênero conhecido como Big Room, ou ainda conhecido como EDM (que na verdade funciona como uma etiqueta para todo o segmento). De qualquer forma, esse crescimento do consumo da e-music, principalmente nos Estados Unidos, fez com que outros gêneros mais complexos também fossem capazes de angariar novos fãs. White/Art Department comenta que vê essa massa de pessoas que esta se voltando para o Techno e para o House de forma positiva: “Existem muitos jovens crescendo e atravessando o EDM que os introduziu à música eletrônica, com certeza. Sem dúvida, isso é uma coisa boa”. No entanto, o DJ aproveita o tema para fazer uma ressalva: “Mas eu gostaria muito de ver Techno e House com uma pegada mais profunda e com os DJs do mainstream menos focados nesse estilo ‘EDM vibe mãos para o ar’. Essa é a única coisa que posso dizer que é uma desvantagem quando reflito sobre o crescimento vertiginoso do mercado: Baixo controle de qualidade sobre o todo”, enfatiza.

Sua colaboração para essa mudança de rumo da cena, caminhando em direção de sons mais profundos, acontece por meio de sua gravadora a No.19, em atividade desde 2008. White destaca que este empreendimento, sem dúvida, mais reflete seu estilo musical do que o ajuda a sair de sua zona de conforto criativo. “Eu faço toda a pesquisa de repertório e de novos artistas, no fim das contas eu acho que meu gosto pessoal acaba afetando a gravadora mais do que qualquer outra coisa. Não é necessariamente música que eu toco, mas são sempre músicas que eu gosto e de artistas que eu gosto de trabalhar junto”. Com essa busca por novas músicas e artistas, será que algum produtor brasileiro está no radar? Ele afirma que recentemente começou a trabalhar com uma dupla de produtores chamada Senzala e que um dos membros é brasileiro. “Eles estão fazendo coisas de muita qualidade que relembram a velha Peace Division. É realmente muito bom”. Ouça abaixo um dos lançamentos mais recentes do duo.

Os clubes preferidos e os long sets

White, após todo esse tempo de estrada, conta que escolher um lugar preferido para executar seus sets ainda é uma tarefa bem complicada, mas que valoriza a possibilidade de tocar longas durações e desenvolver jornadas sonoras. “Você nunca sabe quando uma festa qualquer em uma cidade qualquer com som e pessoas incríveis vai transformar o seu dia”, e destaca que o ponto alto dessa última temporada foram os sets com duração de uma noite na festa El Row no club Amnesia, em Ibiza. “Eu realmente adorei tocar algumas noites lá por sete horas, já que na maioria das vezes, durante a temporada de verão, os sets têm só 1h30.”

O produtor, durante a temporada, não assumiu responsabilidades somente nas cabines ao redor do mundo, e confirmou que tem passado um bom tempo em estúdio criando seus próximos lançamentos. “Tenho trabalhado muito em estúdio. Eu não quero apressar as coisas, mas vou lançar o primeiro de diversos EPs antes do final do ano. Possivelmente um pela No.19 e outro pela Social Experiment, pra começar”.

A dedicação à causa animal

White também é conhecido no mercado da e-music por desenvolver o projeto MAAC (Music Against Animal Cruelty), uma maneira de chamar a atenção para a causa e também de se posicionar de maneira clara dentro de um segmento que quase não aborda temas como este. Sobre o desafio de falar de um assunto tão específico em um mercado como o da e-music, White comenta que “a oportunidade de ter a indústria da música por trás de uma causa tão importante e urgente, como a da conservação da vida selvagem, simplesmente se tornou muito óbvia”.

Ele também segue afirmando que as pessoas são o ponto-chave para que o projeto seja interessante neste meio: “é incrível trabalhar em uma indústria com tantas pessoas apaixonadas e artistas que estão dispostos a se envolver em algum nível com o tema”. A plataforma desenvolvida para o MAAC, criada no ano passado, busca conscientizar as pessoas sobre animais em extinção, entre outros fatores ligados à vida selvagem e desde o início conta com a realização de eventos beneficentes com seus embaixadores espalhados por diversas partes do planeta. Algumas informações sobre o projeto estão disponíveis na página oficial no Facebook. Aproveitando o momento, White faz questão de destacar que as pessoas podem ajudar a causa de diversas formas: “Se for um artista, ele pode se tornar um Embaixador MAAC e se envolver em uma das diversas formas possíveis dentro do projeto”. Essas opções incluem ações como criar consciência sobre o problema entre os artistas que ele conhece e em suas mídias, tocar em eventos para arrecadar fundos ou ainda doar música ou outros materiais, como sua marca, para serem inseridos em merchandising que serão usados para arrecadar fundos. Mas White enfatiza ainda que, caso você não seja um embaixador, “é possível fazer doações, de qualquer valor, mas compartilhar o conteúdo que a gente posta e ir aos eventos é tão importante quanto qualquer outro tipo de contribuição. Nós precisamos do apoio de todos”.

Por fim, o produtor encerra a conversa com um recado para os fãs brasileiros: “Eu mal posso esperar para retornar ao Brasil, eu não estive muito por aí este ano, mas eu sinto saudade de vocês. Muito amor”.

Art Department toca no Ultra Brasil no próximo dia 13 e segue para duas apresentações na Argentina nos dias 14 e 15. Pra ir aquecendo, ouça abaixo a apresentação do AD no BPM Festival:

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Confira os destaques desta última semana

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