Música

Entrevista

“É bom para o rock estar longe da TV aberta”, diz Di Ferrero, do NXZero

Em entrevista ao Omelete, vocalista fala sobre participação no The Voice, sua rede social de música e mais

30.04.2016, às 12H00.
Atualizada em 11.11.2016, ÀS 18H03

Em frente ao conhecido trono dos jurados do The Voice e uma tela verde, Di Ferrero, vocalista do NXZero, grava comerciais para as semifinais da versão americana do programa, que é exibido pelo canal Sony, às terças e quartas, às 21h55. Foi lá que o cantor recebeu o Omelete para falar sobre o programa de jurados - tanto o brasileiro quanto o americano - quanto para falar da nova fase da banda e do cenário de rock atualmente.

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À frente de uma das poucas bandas de rock brasileira a estourar no rádio e na TV aberta nos anos 2000, Ferrero acha que o fato de o estilo estar afastado do mainstream não é ruim. ”Quando eu comecei, era o axé que bombava, depois virou sertanejo, agora o funk… é cíclico. Pode ser o rock um dia. Mas acho que o rock não depende disso”, diz o vocalista. Confira a entrevista completa abaixo:

O que você está achando dessa temporada do The Voice? Está gostando dos jurados?

Estou. Eu gostava muito da Gwen (Stefani) e da Christina (Aguilera), gostei muito da dinâmica. A Christina está com um time muito forte. Gosto muito da dinâmica do programa inteiro, o Blake (Shelton) com o Adam (Levine). Eles já estão mais entrosados. Acho que deixa o programa mais relaxado, porque nesse final (o reality show está nas semifinais) é uma tensão.

Você está fazendo esse trabalho de apresentar o The Voice americano na Sony e já participou do The Voice brasileiro como assistente do Lulu Santos. Quais diferenças voce vê entre ambos os trabalhamos e quando vamos te ver como jurado?

Nesse, além de ser o The Voice americano, eu faço os extras mesmo, eu comento e falo de curiosidades e ponho também a minha cara. No outro, eu sou meio que um jurado, assistente, como a Miley Cyrus nessa temporada. É diferente, porque para julgar alguém para qualquer coisa é difícil, ainda mais alguém talentoso e na frente de todo mundo. É complicado. Você tem que achar as palavras certas. Sobre ser jurado, quero muito. Agora, são caras consagrados como o Lulu, mas tenho certeza que uma hora vou chegar lá.

Você lançou recentemente um aplicativo chamado Fleeber, que coloca músicos em contato para formar bandas, o que é uma mão na roda, já que quem é músico sabe o quanto pode ser difícil achar alguém pra formar uma banda, por exemplo. Você acha que o aplicativo é uma adaptação desse lado da produção musical aos tempos modernos?

Acho que é pra ser uma facilidade como os outros aplicativos são. Quem é músico é quase religioso. Geralmente a gente encontra as pessoas indo nos lugares. Era assim antes. Tinha o show de tal pessoa, e dessas conversas você conhecia o baixista, o baterista, o guitarrista da banda. Mas não é mais assim. As pessoas se encontram na internet. É mais ou menos para isso que o Fleeber foi feito. É um software complicado de fazer, mas rolou muito bem. As bandas estão se formando. As vezes tem um cara no seu prédio que gosta de tocar. Agora, estamos expandindo para outros postos da indústria: compositores, letristas, DJs, casas de show. Sei que parece difícil criar uma rede pra músicos, mas a gente tem que tentar, até porque já passei por essa dificuldade. O NXZero ficou independente por cinco anos. Foi muito complicado. Agora dá pra fazer essa curadoria, facilitar o caminho das pedras para quem está começando.

tamo expandido. O cara que compõe, o cara que faz letra, a casa de show, o DJ que quer tocar… essa é a ideia. Sei que é algo difícil, mas tem que tentar, até porque eu já passei por dificuldade, o NX ficou independente por cinco anos. Foi muito complicado. Agora dá pra rolar uma curadoria, facilitar o caminho das pedras do começo.

Tem alguma banda do Fleeber que você está curtindo?

Sim. Tem um cara chamado Tauan, que toca sozinho mas está formando uma banda. Inclusive já tive a ideia de ajudar os caras a registrar as músicas. Estamos procurando parceiros, porque você precisa de terceiros pra fazer isso é custa uma grana, então se ajudarmos os caras a registrar o som… e por aí vai. Apesar de não ser meu estilo preferido, tem uma dupla sertaneja que canta muito. Mas não lembro o nome deles. É demais porque eles estão bombando e se conheceram no Fleeber. Tem bastante gente aderindo.

Que nomes do rock mais recente você tem acompanhado?

Nacionais tem algumas, como o Selvagens à Procura da Lei, o Boogarins… É legal que eles têm essa onda psicodélica como o Tame Impala lá fora. Sempre gostei de Arctic Monkeys, achei legal o último disco. Minha escola é o hardcore, que eu escuto desde os 15 anos, então sei todas as bandas da Califórnia. Mas agora tenho ouvido coisas diferentes. Agora esse fim de semana (a entrevista foi realizada em 19 de abril) toquei com o Vespas Mandarinas, o Glória, que o Gee (Rocha), guitarrista do NX, já fez parte… Sinto que tem uma cena se formado, tá acontecendo de novo, com a ajuda dos aplicativos. Eles estão servindo para reconciliar a união das bandas de rock.

Legal você ter falado isso, pois nos leva à próxima pergunta. Existe uma cena, mas mal vemos essas bandas indo para o rádio ou para a TV aberta - dá até para dizer que o NXZero foi uma das últimas. Por quê você acha que isso aconteceu?

Falando especificamente do rock, acho que ele é contra tudo isso, se você for ver. Para começar pela atitude. No programa de TV aberta por exemplo, a gente batalha muito para não fazer playback, e me orgulho de dizer que nunca fizemos. Mas é muito difícil. Deixamos de ir em muito mais programas por causa disso. É caro, é uma dinâmica diferente. E até, por um certo lado, (estar fora da TV) é bom pro rock, porque muitas pessoas assistem televisão e acabam gostando por osmose. Mas tem muita gente que nem está mais vendo TV. Tenho um enteado, visito ele toda semana e a gente conversa direto. Ele nunca vê TV, está sempre nos aplicativos, vê os vídeos, conhece todas as bandas. Existem vários programas na internet que, se você ver, tem audiência de milhões. Às vezes a TV aberta não dá mais isso. Tá tudo diferente. O mundo tá de ponta cabeça.

E o rock é um estilo de vida. Tem estilos que estão na moda, e eu já vi estarem fora. Quando eu comecei, era o axé que bombava, depois virou sertanejo, agora o funk… é cíclico. Pode ser o rock um dia. Mas acho que o rock não depende disso. Acho que é por aí o pensamento, em vez de estar fora da TV e tal. Quando a gente vai nos programas, a gente indica o máximo possível de bandas. A gente tem feito algo legal no NX que, quando vamos tocar, pedimos que as bandas locais mandem seu material e chamamos elas para o backstage. Entrevistamos eles, falamos da banda, indicamos, acho que isso fortalece. O CPM fez isso com a gente.

É legal que isso é bem característico do rock, com as bandas que conquistaram mais espaço dão força para quem está começando.

A galera do rock ou se ama ou se odeia. É meio que isso. É um estilo de pessoa. Eu gosto de vários estilos, e nem mais escuto tanto rock em casa. Acho que é uma atitude. Tem uma galera no rap que tem uma atitude punk. Estou vendo mais por esse lado. Por isso, acho que (o rock) está em todo lugar, querendo ou não. Tem sempre algum guitarrista colocando drive em algum lugar, numa música pop...

O NXZero têm passando por várias mudanças no som, especialmente no disco mais recente, Norte, que saiu no ano passado. Que influências podem vir para um próximo disco?

O Norte veio de um hiato de três anos. Então, a gente mudou. Saímos de uma gravadora por opção. Mudamos de empresário por opção. Escolhemos um caminho, e de repente se abriu um leque de coisas. É tanta coisa que a gente quer fazer agora, porque nesse disco tocamos tudo ao vivo, gravamos em cima de um ritmo, de um groove. Fomos para os anos 1970, na Motown, mas também quisemos modernizar. Para você ter noção, a gente começa a fazer a música em cima de uma viagem de som mesmo, em cima de um ritmo, e eu vou colocando as letras que tenho em cima. Temos outros elementos agora, vários sintetizadores, coisas que estamos experimentando. Também acabamos com esse conceito de ter dois guitarristas, baixista, baterista, vocal. Não tem mais essa. Somo um grupo de pessoas querendo fazer um som diferente. Nem sei mais o que é o NXZero, qual estilo, e nem quero saber, para não rotular minha cabeça para as próximas músicas.

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