Música

Entrevista

Paulo Miklos mistura gerações e sonoridades em "1º disco solo"

Com nomes como Emicida, Erasmo Carlos, Céu, Guilherme Arantes e ex-parceiros dos Titãs, A Gente Mora no Agora chega no dia 11

10.08.2017, às 15H57.
Atualizada em 11.08.2017, ÀS 12H42

Paulo Miklos (ex-Titãs, ator, compositor e intérprete) integra o panteão dos músicos brasileiros capazes de surfar por ondas distintas, mas sem perder a qualidade e a relevância de seu trabalho. O artista de 58 anos, um dos fundadores da banda que o tornou conhecido em todo o Brasil, lança nesta sexta-feira (11) o que ele considera seu primeiro disco solo, A Gente Mora no Agora. O projeto conta com participações de nomes como Emicida, Erasmo Carlos, Céu, Guilherme Arantes, Silva, Mallu Magalhães, Nando Reis, Arnaldo Antunes, Russo Passapusso (vocalista do BaianaSystem), Lurdez da Luz em diversas funções do novo projeto e de acordo com o criador, “é focado na sonoridade brasileira” em conjunto com as suas misturas de sons e gerações. Miklos conversou com o Omelete alguns dias antes do lançamento do projeto e contou um pouco sobre o processo de criação, os convidados especiais, composição e criação por WhatsApp entre outros detalhes que permeiam seu primeiro projeto após deixar os Titãs.

De entrada, Miklos comenta o porquê de tanto tempo para fazer o seu disco solo, agora, fora dos Titãs. E abre a conversa comentando que, “É divertido isso, pois na verdade é o terceiro. Mas eu considero o primeiro por ser o primeiro da carreira individual e tem uma força de chegada o que você vai fazer depois de 34 anos com a banda e tantas fases diferentes”.

Paulo Miklos e Nando Reis novo disco

Para entender um pouco do percurso de Miklos na música vale destacar que durante o tempo em que fez parte da banda que ajudou a criar, ele lançou dois discos solo, Paulo Miklos (1994) e Vou Ser Feliz e Já Volto (2001), porém ele conta que considera A Gente Mora no Agora, seu primeiro disco solo por ter chegado a hora de se colocar por inteiro em um novo trabalho: “O desejo era de falar por si, de fazer um trabalho inteiro, íntegro. Já não é mais em comparação [com o Titãs], embora sempre vai ser. [É a hora de ter] Experiências individuais, paralelas, de colocar o meu traço, de brincar”. E comenta que a “demora” para colocar na rua um projeto só seu, aconteceu principalmente porque “[...] Nós fizemos tantas coisas interessantes com os Titãs. Sempre mudando e experimentando, e foi por isso, pela satisfação artística mesmo de estar junto com eles, com essa carreira tão longa, de muito sucesso com os fãs”, e cita o exemplo de seu primeiro álbum pensado fora da banda, “Meu primeiro disco é todo acústico. Ele foi gravado justamente quando a gente tava gravando Titanomaquia (1993), um dos álbuns mais pesados dos Titãs e serviu como um contraste pra época”.

Logo, sobre essa necessidade de usar suas próprias cores para criar suas músicas, Miklos conta que para chegar ao resultado que ele buscava no novo projeto, ele uniu um conceito que tinha em mente (som brasileiro) mais a experimentação em busca de outros elementos. “Eu tinha uma premissa básica, queria fazer uma sonoridade brasileira, queria que isso estivesse na célula do trabalho, na raiz da coisa”. E para chegar neste resultado o ex-Titãs convidou Pupillo, da Nação Zumbi, “conhecedor e estudioso dos ritmos brasileiros”, para ser produtor do álbum, Apollo Nove, na coprodução, que entrou com teclado e sintetizadores, “a área dele”, para dar alguns arremates sonoros na faixa e Marcus Preto, na produção artística. Com essa trinca encabeçando o projeto, Miklos enfatiza que “O violão de nylon, o meu violão, é a linha condutora do disco. A partir daí as coisas foram se desenvolvendo…”. E ai fica claro o processo com uma ideia que guiava o conceito do disco, “Isso é algo que você precisa fazer deliberadamente. Você tem que chamar as pessoas, saber o que você quer e propor. Agora o que vai acontecer de todos esses encontros é mistério”. E isso coloca em destaque a mistura entre “uma busca consciente para chegar a um lugar” e a “necessidade de deixar as coisas em aberto para que as ideias acontecessem, para colher os frutos e lidar com o que pudesse acontecer durante o período”, enfatiza.

Os convites e a banda
Após passar pelo trajeto da ideia sonora, Miklos comenta ainda que Marcos Preto foi uma figura muito importante no processo de criação e para a realização das parcerias do álbum. “Ele facilitou todos os encontros e foi com quem eu conversei muito sobre os rumos do disco e com quem compor, como propor essas parcerias. [Sobre] O material que eu já tinha. Então eu enviei letras, enviei músicas, recebi as pessoas no estúdio e todo esse processo foi muito rico”. E como surgiram os nomes para integrar essa jornada musical? Miklos confessa que tudo aconteceu de forma natural. “Tem uma coisa meio que orgânica. Primeiro as pessoas próximas a mim, os meus ídolos; no caso do Erasmo Carlos e do Guilherme Arantes. E as pessoas com quem eu convivo e que eu já admiro, que são os novos. Com alguns eu tinha um pouco de proximidade. Com outros, eu tinha admiração. E foi assim que as coisas foram se articulando. Afinidade, admiração, por achar que poderia render uma história”.

Sobre a mistura de gerações organizada para integrar o disco e gerar o interesse nas gerações de ouvintes mais novos, Miklos comenta que “a música brasileira vai de Emicida, Lurdez da Luz até Erasmo Carlos. É muito rica e muito atual. A gente tem a coisa mais interessante da eletrônica e das misturas. Eu tô explorando tudo isso neste disco. Então eu acredito que tô falando uma linguagem que é meio que universal. E o fato de ser intérprete é meio que uma ponte pra poder tocar e dialogar com gerações diferentes. Eu acredito nisso”.

Em conjunto com todos os nomes convidados para participar no processo de criação musical e composição, Miklos também contou com nomes conhecidos da música brasileira para gravar o projeto em estúdio: Dadi (no baixo), “o cara mitológico dos Novos Baianos, tocou com os Tribalistas, Jorge Ben. É o cara que tem o pulso a levada pop brasileira”, Pupillo (na bateria), Maurício Fleury (no piano), “integrante da Bixiga 70”, e Everson Pessoa (no violão), “ex-Quinteto Em Branco e Preto, cara do samba”. E, depois de montar o quarteto que seria a base de todas as músicas, os arranjadores de cordas e sopros foram convidados (Letieres Leite, Miguel Atwood-Ferguson, Maestro Duda) e o Apollo 9, outro produtor, "que entrou com teclado e sintetizadores".

O processo criativo
Trabalhar com tantas pessoas em locais e tempos diferentes exigiu que Miklos partisse para ferramentas que o ajudassem a ganhar tempo na troca de ideias. Isso fez com que o músico, além das reuniões clássicas, também usasse bastante o Whatssap para compor e trocar ideias.

O novo projeto contou com um estilo diferente de composição, com faixas criadas por meio de mensagens pelo Whatssap entre outras formas que auxiliaram Miklos a entrar em contato com os parceiros de cada música. “Realmente foi uma coisa diferente pra mim, foi muito interessante. O Emicida mandou um áudio cantarolando sobre a base que eu enviei pra ele. E quando ele desenvolveu mais a letra, ele mandou um áudio cantarolando. E eu fui muito fiel às coisas que eu ouvi e recebi. Cada pequeno detalhe de melodia e tal”, e segue comentando sobre como o fato de ter tudo registrado em áudio ajuda a não perder nada do que foi criado, sem alguns dos devaneios do processo de criação. “O aplicativo me ajudou a ser muito fiel com o que eu recebi”.

E claro, em conjunto com o auxílio da tecnologia, o músico também precisou trabalhar com a inevitabilidade da criação conjunta, algo que ele afirma que mudou um pouco em relação ao processo com os Titãs, mas mantém a proximidade em alguns detalhes. “Com a banda sempre foi essa de trabalhar em grupo, de desenvolver ideias diferentes com gente diferente. Agora, depois dessa escola, eu parti pra fazer isso pro mundo, pra fora. Antes eu contava com os talentos do meu lado, dentro do grupo. Agora eu conto com eles, também, mas com outras conexões”. E ressalta que todo esse novo processo de composição conjunta com pessoas que não convivem o tempo todo juntas e por ferramentas que eliminam distâncias geram o fato de não se ter controle sobre o resultado. “[O resultado das parcerias] são coisas que não estão no seu controle. Como vai ser a música que eu vou fazer com o Emicida? Não sei se ele vai resolver e ele também não sabe. Mas ele já sabia o que ele queria dizer, quando partimos para a conversa”. Ainda, sobre esse processo, Miklos destaca o momento da criação da parceria com Lurdez da Luz. “Eu queria falar sobre o amor nas manifestações. Um espaço tão controverso [...]. E ela fez algo genial que é o ‘Afeto Manifesto’, uma faixa na qual ela retrata as situações da luta urbana, das manifestações como se fosse uma coisa amorosa. Ela fez uma canção meio híbrida, meio rap, meio baião… E isso que eu acho mais interessante, o encontro, a proximidade e aí você gera uma terceira coisa, sabe?”.

Paulo Miklos e Emicida, novo disco A Gente Mora no Agora

Sobre a mudança de nuances, de uma pegada mais elétrica para algo guiado pelo violão de nylon, Miklos comenta que esse tipo de situação nova, valoriza muito as canções. “Se por um lado a gente não tem aquela pegada rock n roll, que o som é muito importante, por outro lado o que fica muito evidente são as canções. Melodia, letra vem tudo muito pra frente. É um desejo meu de experimentar e ter uma sonoridade que traz uma novidade”. E destaca que esse novo momento é muito rico e cheio de possibilidades, “quando eu parti para me lançar nessa empreitada foi como ter uma página em branco na frente. Você pode fazer de um tudo. E pra onde que eu vou? Eu vou bater na porta do Erasmo, o máximo que pode acontecer é tomar um não”.

O show
O ex-Titãs comenta que as apresentações que irão apresentar o repertório para o público serão um outro capítulo. “Para o show eu estou montando uma banda [...] e vamos criar arranjos de uma maneira bem orgânica, já que nós não vamos ter todas essas pessoas [que participaram no estúdio] no palco. Mas vamos buscar uma execução bem orgânica”. E encerra a conversa falando um pouquinho sobre o repertório que deve mostrar em suas primeiras apresentações: “O repertório do show é fortemente baseado no disco, mas eu canto uma música do Adoniran Barbosa, Chet Baker. Eu também contemplo coisas que eu vim fazendo nos últimos tempos. Que misturam atuação com música. Eu sou interprete, meu instrumento principal é a voz, então é o que eu mais gosto de fazer, interpretar”.

A primeira apresentação de A Gente Mora no Agora acontece na próxima quinta-feira (17), na casa Natura Musical (Projeto focado na produção artística brasileiras e que já apoiou mais de 1200 shows, 132 CDs, 26 DVDs, 21 livros e 5 filmes) e os ingressos já estão disponíveis aqui. Em seguida, Miklos parte para um show no Rio de Janeiro no dia 22 de agosto, no Theatro NET, e encerra a excursão com um show em Salvador, no dia 1 de setembro, no Teatro Castro Alves.

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