Não dá pra negar que a cena da música eletrônica em Berlim, principalmente quando se pensa em techno e house, é de encher os olhos. Em meio a toda essa efervescência, em 2012, surgiu o label Steyoyoke, sob a tutela de Christian Legno, AKA Soul Button - DJ, produtor e criador de um projeto acima da média.
O label, em seus seis anos de história, ganhou espaço com uma aposta diferente, trabalhando todo o conceito dos projetos que lança - não só a música -. Isso fica claro na atenção dada às artes das capas dos discos e todo o processo que permeia essas criações. Atualmente, a Steyoyoke conta com um time brasileiro de respeito, composto por BLANCAh, Binaryh e Alex Justino - que têm entregado criações únicas - em conjunto com nomes como Nick Devon, Dahu, entre outros.
Soul Button falou com Omelete, em entrevista exclusiva, sobre o percurso do label, suas apostas em música avançada e a peculiaridade sonora que faz da gravadora um dos ambientes mais interessantes do segmento eletrônico para quem busca a junção entre camadas e audições desafiadoras. Vale lembrar que o time de brasileiros, mais Button, está em tour pelo Brasil, com a Steyoyoke Showcase, que acontece em São Paulo, na D-Edge - nesta sexta (19) - e em São Bento do Sul, no Chakra Club - no sábado (20).
Logo de entrada, nada mais justo do que saber, sob o ponto de vista de seu idealizador, o que faz a Steyoyoke ser tão diferente quando comparada com outros projetos. Button, de cara, afirma que existem dois fatores-chave: O conceito artístico mais o estilo musical único e específico.
“Nós vamos além do lançamento de faixas. Nós trabalhamos no projeto como um todo - pensamos no conceito de cada novo lançamento e mantemos nossos seguidores envolvidos”. E continua, “[...] Nosso estilo musical é completamente diferente de todos os outros labels, até que alguém comece a imitar. Nós não seguimos nada que já existe, nós fazemos nossos próprios projetos e todos têm a qualidade como base”.
Explicando a dinâmica da qualidade, o produtor destaca ainda que nunca vai lançar faixas que não soem perfeitas. “Eu nunca vou lançar faixas que tenham ideias criativas, mas não soem perfeitamente e de maneira apropriada. Eu acho que isso é o suficiente para nos diferenciar”.
Com esses detalhes em destaque, Button também comenta sobre a sonoridade peculiar do label que deu origem ao nome Ethereal Techno, nascido em uma conversa informal durante uma turnê pelos Estados Unidos. Sobre isso, o boss comenta que tem visto cada vez mais pessoas e DJs usando o termo como um gênero musical. “Isso é interessante porque mostra como nós conseguimos dar um nome a um estilo que, no início, não tinha nome nenhum. Algumas pessoas chamavam de Techno Melódico ou de Euphoric Techno, mas eu acho que Ethereal Techno é o nome perfeito”. Ele também mostra que realmente acredita nessa nova nomenclatura e destaca, “Eu só estou esperando o Beatport (principal site de compra de música eletrônica do planeta) criar essa categoria por lá”.
O time brasileiro da Steyoyke
Um dos detalhes que chama muito a atenção do público brasileiro para o label alemão - além da qualidade de suas produções e seus artistas - é o time brasileiro. Contando com três nomes que mostram evolução a cada novo projeto, Button confessa que muitos fatores colaboram para que essa equipe esteja junto com a Steyoyoke. “Eu amo trabalhar com brasileiros por causa de quão tranquilos eles são. Eu preciso de um ambiente pacífico no trabalho. Existem muitas pessoas talentosas no Brasil, eu consigo ver muita dedicação. Os artistas trabalham muito e eles parecem saber o que querem, ao contrário dos artistas europeus, que agora estão passando pelo que eu chamo de ‘período de saturação’ da música eletrônica. Eu gosto do entusiasmo dos artistas brasileiros e geralmente é um prazer trabalhar com eles”.
E claro, nem só de artistas brazucas vive o projeto baseado em Berlim. Porém, vale destacar que todos os nomes que colocam seu material na Steyoyoke entregam peças que impressionam pela qualidade e originalidade. Logo, não dá pra fugir da pergunta: Como o boss seleciona os artistas que irão fazer parte do projeto?
“Eu apenas confio no meu gosto e nas minhas experiências como produtor”, destaca.
“Tenho produzido música por 23 anos e consigo distinguir facilmente faixas bem produzidas de faixas produzidas por amadores. Se eu ouço uma faixa e reconheço um alto nível de habilidade de produção, a gente pode, certamente, discutir ideias criativas”.
Por fim, Button conta qual o principal elemento para selecionar novos artistas: “Em primeiro lugar, eles precisam ser produtores profissionais. Essa é a única forma de colocar artistas nos meus projetos. Não existe um artista no label que não seja um produtor extraordinário. Veja as produções feitas pelo Dahu, Nick Devon e Clawz SG. Eles têm o que é necessário para fazer música e não só juntar loops”.
As influências espirituais para as criações de Button
Button é um italiano que já morou na Inglaterra e está há algum tempo na Alemanha. Dentre todas as suas habilidades para criar e reconhecer criadores de música, um detalhe que chama a atenção é como suas crenças influenciam sua criação musical. Botton já comentou em entrevista que o autor Joe Vitale, um dos nomes integrantes do filme O Segredo, é uma de suas inspirações. “Eu pratico uma disciplina chamada Ho’Oponopono. Ela, basicamente, é a técnica que me ajuda a ouvir a inspiração verdadeira, inspiração que todos temos dentro de nós. Você pode alcançar este nível amando a si mesmo e reconhecendo que tudo que acontece à sua volta é o resultado do que você atraiu com os seus pensamentos. Fácil de falar, difícil de fazer. Porém, uma vez que você aprende a se amar e viver em harmonia com a sua vida, então seu cérebro está vazio e só nesse momento você, finalmente vai estar apto a ouvir sua inspiração real e alcançar sua criatividade máxima”.
O que vem por ai na Steyoyoke?
O label tem seis anos de existência e é uma marca consolidada para os amantes do techno e das vertentes mais melódicas e desafiadoras da música eletrônica, mas qual será o próximo passo? De acordo com Buton, a ideia agora é trabalhar em projetos mais longos, como álbuns.
“A razão para que isso aconteça é porque eu gosto de desenvolver conceitos, e lançar EPs tem se tornado algo muito comum e padrão [na indústria]. Então, eu tenho gentilmente convencido meus amigos a também pensar dessa forma. Montar um EP com 3 ou 4 faixas pode ser um pouco estressante. Não se pode falhar, você tem que ter certeza de que todas as faixas são absolutamente explosivas. Ao mesmo tempo, quando você faz um projeto maior, você tem a chance de expressar melhor seu estilo musical”.
O primeiro passo nesta direção vai acontecer com o disco Aura, composto por 16 faixas e com a data de lançamento - anunciada aqui em primeira-mão - para o dia 26 de fevereiro.
Encerrando a conversa, o boss da Steyoyoke dá duas dicas interessantes para os amantes da música eletrônica - estejam eles nas pistas ou nas cabines:
“Existem duas coisas que eu nunca canso de falar para as pessoas. Para quem gosta de ir às festas: Por favor, peguem leve com as drogas ou, ao menos, tenham certeza do que vocês estão usando. Vá à uma festa, dance e descubra o sentimento incrível de ficar anestesiado com a música. É a droga mais pura de todas e todo mundo se sente incrível no outro dia.
Para os produtores: Não usem loops. Escrevam suas notas e usem sintetizadores. Não copiem melodias, não tentem samplear, não tentem fazer cut loop de outras faixas. Parem de ouvir a faixa dos outros. Quando o público percebe e ama o que você tem dentro de você, é ai que você terá sucesso. Não existe outra forma”.
Conheça um pouco mais do som do label nos canais oficiais da Steyoyoke - Soundcloud, Youtube - e também no site oficial.
