Chegamos no meio do ano! Como tem sido o seu 2023 musical? Por aqui, seguimos lotados de novidades todos os meses, como a lista de junho pode atestar: da melhor canção do álbum de luto do Foo Fighters às pérolas mais recentes do k-pop (EXO! Stray Kids! SHINee!), passando por novos e surpreendentes lançamentos de Anitta, Janelle Monáe e Niall Horan, não falta versatilidade por aqui. Vem conferir!
“But Here We Are” - Foo Fighters
Longe de mim perpetuar o mito que arte de qualidade só pode nascer do sofrimento, mas… o novo disco do Foo Fighters, que medita sobre a morte do baterista Taylor Hawkins e outras tribulações na vida do vocalista Dave Grohl, é o melhor da banda em muito tempo. Bom exemplo disso é a canção título, “But Here We Are”, temperamental em sua estrutura melódica e produzida com garra expressiva que raramente vimos na discografia do Foo Fighters. Os rugidos de Grohl no refrão, cercado por guitarras rítmicas graves remanescentes do emocore, dão o tom visceral e honesto que faz o disco se elevar dentro da carreira da banda.
“Reality” - AB6IX
Dentro da pérola pop que é o novo disco do AB6IX, intitulado The Future is Ours: Lost, a faixa “Reality” é talvez a destilação mais poderosa das forças do grupo. A voz cristalina dos integrantes Woong e Daehwi são pareadas perfeitamente com uma mescla de sintetizadores limpa e perfeitamente rítmica, acompanhando uma melodia sincopada à perfeição para não sair da cabeça do ouvinte. É o sofisticado ponto alto de um disco que também mostra brilhantismo em outras áreas do synthpop, vide a propulsiva “Blaze” e a noventista “Eden”.
“Voices” - Jake Shears feat. Kylie Minogue
A extravagância disco do novo álbum solo de Jake Shears, intitulado Last Man Dancing, parece sempre estar no lusco-fusco entre brilhante e exaustivo - mas, em “Voices”, a adição de Kylie Minogue faz todos os pontos se conectarem para 4 minutos e meio de puro deleite. Sintetizadores graves, pacotes de cordas luxuosos e corais entoados no tom esganiçado (mas perfeitamente afinado!) da diva australiana mostram que Shears tem faro de produtor na hora de usar os talentos de seus colaboradores. Talvez esteja aí o caminho adiante para o ex-frontman do Scissor Sisters.
“Let Me In” - EXO
Retornar com uma balada R&B que parece saída direto dos discos solo do membro Baekhyun é um movimento inesperado para o EXO, mesmo do alto de seus 11 anos de estrada no k-pop. A aposta funciona muito bem, no entanto, por causa da produção delicadamente abafada - atenção para as batidas distorcidas que embalam os versos, e para os sintetizadores guturais que fazem fundo para o refrão. O novo álbum do grupo, Exist, sai em 10 de julho.
“Phenomenal” - Janelle Monáe feat. Doechii
“Estou olhando para mil versões de mim mesma/ E todas nós somos gostosas pra c*ralho”. A declaração multiversal de autoestima abre “Phenomenal”, a melhor e mais balançada faixa do álbum The Age of Pleasure, que traz Janelle Monáe para a pista de dança liberada dos conceitos de ficção científica que marcaram o começo (brilhante) de sua carreira. É um ajuste para os fãs, sem dúvida, mas a forma como Monáe usa a produção cheia de batuques e sopros que marca o R&B contemporâneo para criar alguns dos melhores ganchos pop do momento não é nem um pouco menos genial do que qualquer outra coisa que ela já fez.
“Super Bowl” - Stray Kids
No álbum 5-Star, a mais recente viagem pela noise music do Stray Kids, nada empolga mais do que “Super Bowl”, com sua progressão de refrão alongada - corais perfeitamente harmonizados, vocais solo cheios de filtros, sussurros melódicos, e de volta outra vez. É verdade que “Topline”, a colaboração intrincada do grupo com o rapper Tiger JK, e “Collision”, no qual o Stray Kids empresta elaborações instrumentais do nosso pagode, são boas desafiantes… mas é “Super Bowl” que você vai acabar ouvindo no repeat.
“Meltdown” - Niall Horan
Apesar de Harry Styles ser o maior popstar criado pelo One Direction, não devemos subestimar as habilidades de trovador folk-pop de Niall Horan, que caiu nas graças da crítica com o seu álbum mais recente, The Show. Pudera: é a melhor coleção de ganchos melódicos e a maior concessão do artista aos sintetizadores e baterias programadas do pop radiofônico até hoje. Minha favorita no disco é “Meltdown”, que faz Horan subir seus vocais uma oitava para combinar com uma linha de baixo propulsiva e toques de guitarra sintetizada. Pena que tudo acaba em só 2 minutos e 33 segundos, né?
“Designer” - VAV
O pianinho no começo de “Designer” avisa: esse não é só mais um k-pop sintetizado. No seu novo single, o VAV mistura cadências tropicais (mais especificamente, do mambo cubano) com toques de produção que aproximam a canção do ideal radiofônico da indústria sul-coreana. É um equilíbrio delicado, que o grupo - já em seu oitavo ano de atividade - alcança com excelência treinada, provando mais uma vez que as melhores misturas pop da atualidade estão na indústria sul-coreana, movida por uma cultura menos preciosista em torno das expressões culturais que a compõem.
“All Day Every Day” - Eden xo
Como pode uma popstar pronta para os holofotes, como Eden xo, ter permanecido tanto tempo sem o reconhecimento que merece? A artista americana já passou por vários pseudônimos (Jessie Malakouti, Jessie and the Toy Boys) em busca do sucesso, e em todos eles seguiu fazendo música pop de brilhantismo melódico e impecável senso teatral. “All Day Every Day” continua nessa tradição, explorando o tom anasalado (pense em Gwen Stefani ou na jovem Madonna) da cantora para criar uma balada de tons discretamente tropicais sem perder sequer uma batida.
“Broken Melodies” - NCT Dream
Quem diria: uma canção pop que entrega o que promete no título. “Broken Melodies”, ou “melodias quebradas”, abusa dos versos recortados no refrão, mas ainda assim encontra uma coesão melódica que é simplesmente um bálsamo para os ouvidos. Com uma letra sentida sobre relacionamentos à distância e toques de produção imersivos - vide os corais declamando um “ahhhhh” deliciado no pós-refrão -, é a canção perfeita para abrir o apetite do público para o próximo álbum do NCT Dream, intitulado ISTJ e marcado para 17 de julho.
“Sweet Misery” - SHINee
Não tem nenhuma chance do SHINee lançar um novo álbum e não vir parar nessa lista. “Sweet Misery” é o maior achado do novo disco do grupo, Hard, que começa com uma simulação bem-humorada de tendências contemporâneas do k-pop e logo se volta para o passeio de dance music e R&B que o SHINee faz como ninguém. “Identity” é a canção de autoestima para pista de dança do ano, enquanto “Insomnia” e “Gravity” tem melodias para lá de assobiáveis, mas é o sussurro de “Sweet Misery” que pega de surpresa o ouvinte, especialmente na primeira virada do verso para o refrão. Coisa de quem sabe o que está fazendo.
“Te Quiero” - Elza Soares
O primeiro álbum póstumo da eterna Elza Soares, No Tempo da Intolerância traz vários sambas carregados com a contundência social que é indefectível da artista - mas, talvez até pela surpresa, a faixa que se destaca nas primeiras audições é a balada romântica “Te Quiero”. Uma das várias canções coescritas por Elza no disco, ela conta a história de um amor perigoso, ao qual a narradora custa a se render. Exercitando sutilezas há muito escondidas na voz, a cantora mostra que a Elza ativista é só um dos lados de uma artista que ainda faz muita falta… e, pelo jeito, sempre vai fazer.
“Barbie World” - Nicki Minaj & Ice Spice
A Warner não perde tempo e está colocando todos no hype para o lançamento de Barbie. Após trazer a vibe disco com "Dance The Night", de Dua Lipa, foi a vez de "Barbie World" ganhar uma versão remix com Nicki Minaj e Ice Spice. O novo single, para alinhar com o longa, traz muito cor-de-rosa, brilho e refrões-chiclete para ficar na cabeça - inclusive aquele, da música do Aqua, sampleada aqui. (Giovanna Breve)
"Funk Rave" - Anitta
A nova faixa da cantora celebra o funk carioca e mistura elementos da música eletrônica com melodias de ritmos latinos - passando por letras em português, inglês e espanhol. Este lançamento sinaliza uma nova era para Anitta. Afinal, é o primeiro pela Republic Records, após rompimento com a Warner Music, que até então gerenciava sua carreira. (Giovanna Breve)