20 anos de Meteora: o monumento do Linkin Park que sobrevive ao teste do tempo

Música

20 anos de Meteora: o monumento do Linkin Park que sobrevive ao teste do tempo

O segundo álbum de estúdio do grupo deixou uma marca eterna nos fãs e na história moderna do rock

Omelete
8 min de leitura
10.02.2023, às 08H31.

Texto por Gabriela Marqueti

Nenhuma banda de rock dominou os anos 2000 como fez o Linkin Park. Seu primeiro álbum de estúdio, Hybrid Theory (2000) emplacou sucessos como “In The End” e “Crawling” direto nas melhores posições do mainstream e hoje é o álbum de rock mais vendido do século XXI, além de ser certificado de diamante nos Estados Unidos (vendendo mais de 12 milhões de cópias só nesse país). Coisas assim não acontecem todos os dias - especialmente na música pesada.

A ascensão vertiginosa do Linkin Park foi praticamente instantânea. Com suas canções de rap metal mescladas a elementos do hip-hop e música urbana, o grupo ajudou a colocar o nu metal no radar da indústria como um gênero altamente popular e comercial, furando a bolha dos nichos de rock de maneira que mesmo nomes como Faith No More e Rage Against The Machine não tinham conseguido. De uma hora para outra, o rock tinha se tornado pop.

O motivo do sucesso não é difícil de entender: além do som dinâmico e enérgico que cativava os ouvintes, as composições do Linkin Park serviam como ótimos catalisadores para os sentimentos de raiva, confusão, solidão e sofrimento que atingiam, principalmente, adolescentes e jovens adultos. Sem especificar o contexto de suas letras, a banda falava de seus próprios sentimentos de maneira simples e generalizada, o que permitia que qualquer um que ouvisse suas músicas adaptasse o significado das composições para a sua própria realidade e suas próprias dificuldades. A música abrangia a dor de todos do mesmo jeito, mesmo que o contexto de cada pessoa fosse diferente.

Foram necessários três anos até que o Linkin Park lançasse seu segundo álbum de estúdio, Meteora (2003). Atualmente, um intervalo tão grande entre o primeiro álbum e o segundo parece algo impensável, mas o tempo trabalhava a favor do Linkin Park. Até 2003, seu primeiro disco já era certificado multi-platina nos Estados Unidos e o sucesso “In The End” foi considerado pela Kerrang! um dos 100 Maiores Singles de Todos os Tempos, atingindo a 17ª posição na lista. O mundo não se esqueceria deles assim tão rápido.

Os primeiros versos de Mike Shinoda em “Somewhere I Belong”, de certa forma, simbolizam isso: “Quando isso começou eu não tinha nada a dizer e me perdi no vazio dentro de mim / Coloquei tudo para fora e descobri que não sou a única pessoa com essas coisas em mente”. Os integrantes do Linkin Park não estavam sozinhos no que sentiam. Eles tinham encontrado uma comunidade que ansiava por uma banda como eles tanto quanto eles ansiavam por um lugar onde despejar suas angústias. O desafio agora era oferecer algo que fizesse justiça às expectativas que o público tinha criado.

O nome Meteora se refere a uma formação de pilares de rocha na Grécia central onde estão construídos seis mosteiros. A geografia extremamente desafiadora do local desperta muita curiosidade sobre a maneira como essas construções surgiram e como elas sobrevivem ao tempo, sendo classificadas desde 1988 como Patrimônio Mundial pela UNESCO. Para o Linkin Park, a descoberta do monumento serviu como a faísca inspiradora para seu segundo álbum de estúdio:

“Quando vimos o nome ‘Meteora’, gostamos dele porque era épico, cinematográfico, poderoso e dinâmico. Era assim que queríamos que nosso álbum soasse,” comenta a banda no documentário The Art of Meteora. “As fotos eram de tirar o fôlego e épicas. Elas nos inspiraram a tentar criar sonicamente o que estávamos vendo visualmente.”

Para criar um projeto que fosse tão épico e duradouro quanto o monumento grego que o inspirou, o Linkin Park se jogou em sua característica mais importante enquanto banda: o perfeccionismo. Enquanto a figura dos astros do rock era conhecida por sua longa linhagem no estilo de vida “sexo, drogas e rock n’ roll”, o grupo tinha como hiperfoco seu trabalho e a premissa de deixar que suas vidas pessoais se mantivessem o mais afastadas possível dos holofotes da mídia, como é detalhado na matéria de capa da Spin de 2003.

Durante dois anos eles se debruçaram sobre sua música até estarem satisfeitos com o resultado. Um de seus maiores sucessos, “Breaking The Habit”, foi uma canção que Mike Shinoda levou nada menos que seis anos para compor, enquanto “Somewhere I Belong” teve cerca de 40 refrões diferentes escritos durante um ano por Shinoda e Chester Bennington até que eles ficassem felizes com o resultado. A faixa instrumental “Session” também levou um ano até ser finalizada e foi recompensada com uma indicação ao Grammy Awards. A atenção aos detalhes e a paciência de refazer um trabalho múltiplas vezes até ele estar perfeito são características que parecem datadas da época, difíceis de se imaginar na era da internet e das trends virais.

A parte mais interessante do processo é que o trabalho do Linkin Park sempre foi muito além da música. A arte também foi parte integral da identidade da banda, especialmente em seus dois primeiros álbuns. No documentário The Art of Meteora, o grupo mostra como a arte urbana fez parte da essência de seu segundo disco e os ajudou a visualizar e construir conceitos, além de auxiliar na criatividade e na parte lírica do álbum.

Para isso, a banda preencheu quatro painéis gigantescos com os mais variados tipos de arte urbana, fazendo uso de graffiti, colagens e tinturas, e trabalhando em conjunto com o artista Boris Tellegen, que aparece na capa do álbum em uma foto tirada durante esse período de criação. O resultado foi um pedaço de arte monumental, com diversos estilos e conceitos se entrelaçando para criar um cenário que parece estar constantemente em progresso, sempre se enchendo de novas ideias. As fotos desse mural foram usadas no encarte do Meteora e dão uma dimensão visual para aquilo que será encontrado sonoramente no disco.

Em sua totalidade, o Meteora realmente soa como um trabalho em progresso, tomando forma e se reinventando a cada música, mas também completamente conectado pelo mesmo fio condutor. Quase todas as músicas são interligadas por transições praticamente imperceptíveis, trazendo um sentimento de continuidade entre elas, mas apesar de sua conexão umas com as outras, cada uma das faixas constrói seu próprio mundo e se sustenta nele. É nessa montanha-russa que conseguimos passar da euforia de “Breaking The Habit” para a calmaria explosiva de “From the Inside” em um piscar de olhos e não estranhar o contraste em momento algum.

Sonoramente, o álbum é uma extensão e um aperfeiçoamento das ideias testadas no Hybrid Theory e por isso fez ainda mais sucesso com o público e nas paradas - o Linkin Park entregou exatamente aquilo que era esperado dele. Não à toa tantas canções do Meteora performaram bem no mainstream e são consideradas grandes marcos da carreira da banda até hoje, como “Numb”, “Faint” e as próprias “Breaking The Habit” e “Somewhere I Belong”. “Nós provavelmente escrevemos músicas o suficiente para fazer um segundo e um terceiro álbum,” comentou Mike Shinoda na época. “As canções que não entraram no disco - espero que ninguém as ouça nunca porque são horríveis.” 

Vinte anos depois do lançamento do Meteora, porém, a popularidade do álbum exigiu o contrário. Hoje, dia 10 de fevereiro, o Linkin Park disponibilizou uma dessas músicas perdidas, a faixa inédita “Lost”. O Mike de 2003, porém, não tinha como prever as coisas que aconteceriam nos próximos vinte anos e nem a dimensão que seu segundo disco tomaria, mesmo com as ideias bastante firmes da banda em relação a ele. Assim como o monumento que inspirou sua criação, o Meteora resiste ao teste do tempo e se mantém um trabalho histórico, inabalável e relevante, que continua sendo revisitado e redescoberto mesmo duas décadas desde sua criação.

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