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As voltas do Guns n' Roses e AC/DC e a chegada do Libra

04.12.2008, às 01H30.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 16H07

Guns n' Roses - Chinese Democracy
Por Marcelo Forlani

Em janeiro de 2001 escrevi um texto curto, e bastante pessoal, sobre a apresentação do Guns n' Roses no Rock in Rio, que naquela época "estranhamente" ainda acontecia no Rio de Janeiro. Foi uma enxurrada de hate mails que durou cerca de dois ou três anos. Com a chegada de Chinese Democracy às lojas - depois de "apenas" 15 anos de gestação e 13 milhões de dólares gastos! - volto a dar um passo à frente e me apresentar para escrever a crítica da banda (?) do sr. Axl Rose.

Antes que venham novos e-mails, já digo que não tenho mágoas pessoais contra ele, nem nada. Inclusive já tive discos do Guns no passado (Apetite for Destruction e G N' R Lies) e sabia as letras de "Patience", "Paradise City" e "Welcome to the Jungle" na época em que era mais sugestionável ao que tocava nas rádios. Mas evoluí. Troquei os tais discos na Galeria do Rock por algo melhor - Stone Roses, Hendrix, não sei ao certo.

Em 2001 achava que havia mais gente que pensava como eu, que via como era ridículo aquele cara gordo e sem fôlego tentando se segurar em cima do palco. Mas fui xingado de tudo quanto é nome. Bom, hoje, em 2008, eu achava que tudo isso já tinha passado, que as pessoas tinham evoluído, mas pelo que andei lendo por aí ainda tem muita gente que acha que Axl é deus. Se você é um deles, pode começar a juntar suas pedras. Já se você, como eu, evoluiu seu gosto musical, vai entender o que digo abaixo.

Na minha primeira tentativa de ouvir Chinese Democracy tive de parar no meio da faixa 3, a grudenta "Better". Parei, respirei por dois dias e depois retomei dali para frente. E a boa notícia é que pior não fica. É a partir de "Better" que a voz do Axl começa a aparecer no meio de tantas guitarras. No começo achei que esses efeitos eram para esconder a falta de fôlego ou tom. Mas ouvindo o disco todo percebi quer era mesmo falta de estilo na hora da edição e isso não é surpresa, pois o disco passou por várias mãos e diversas mesas de som nesta década e meia de produção.

E esse tempo todo cobra seus dividendos. Eu também poderia ficar 15 anos escrevendo este texto, pinçando as palavras exatas para descrever cada música, mas isso tornaria o artigo datado, cheio de vícios e modismos já em desuso há muito tempo. É exatamente esse o mal que sofre Chinese Democracy, um álbum que ficou tanto tempo no forno sendo requentado que perdeu qualquer frescor que um dia teve - se é que teve.

Há faixas por ali que soam como o velho Guns de outros tempos, como "Riad n' the Bedouins" e "I.R.S.", mas tem também as músicas "genéricas", em que até o vocal do Axl está irreconhecível, caso das canções que abrem e fecham o disco, respectivamente "Chinese Democracy" e "Prostitute". A melhor canção é "If The World", que usa um wah-wah para ganhar um jeitão funk. A música está na trilha sonora do filme Rede de Mentiras. Curioso é que é "Madagascar" que tem mais "jeitão" de trilha feita para tocar enquanto os créditos sobem e tudo o que você pensa é sair logo dali para ir ao banheiro. Destaque aí para samples no solo final, inclusive de "Civil War", clássico da banda.

Outro problema do disco são os excessos, algo que marca o grupo desde o seu início e se acentuou na época do lançamento dos dois Use Your Ilusion. Há mais pianos que num disco do Elton John, em tentativas de criar novos "November Rain". Vinte anos atrás eu diria que não ia ter fluido suficiente para segurar os isqueiros por tanto tempo acesos, hoje, com todas essas baladas, vai ser preciso deixar tomadas disponíveis para todos os fãs recarregarem seus celulares no meio dos shows.

Chinese Democracy não seria um disco ruim... se fosse lançado 15 anos atrás. Hoje ele soa datado, pretensioso demais e completamente fora do atual cenário musical. Temos ali, por exemplo, a "Shackler's Revenge" que quer ser Marilyn Manson. Esquecendo que Marilyn Manson já não está na moda faz tempo. Isso sem falar de "Sorry", que é tão 80s que parece uma paródia. Os fãs não têm com que se preocupar. Para eles, a espera valeu a pena. Garanto que muitos deles andam dizendo por aí que esperariam mais 20 anos para ter em mãos outra obra-prima dessas. E eu, coitado, só queria os meus 71min24s de volta.

AC/DC - Black Ice
Por Rodrigo "Piolho" Monteiro

Há 35 anos na estrada, o AC/DC é uma das bandas que criou a fórmula do que hoje se chama de "rock and roll clássico". Enquanto muitas bandas da mesma geração há muito penduraram as chuteiras ou modificaram sua sonoridade mais vezes do que se pode contar visando agradar as novas gerações, o AC/DC permaneceu com sua mesma fórmula de sucesso: os vocais rasgados, ao mesmo tempo roucos e gritados de Brian Johnson (substituto do vocalista original, Bon Scott), os riffs e solos marcantes de Angus Young, escudado pela guitarra base do irmão, Malcolm, e a cozinha precisa de Cliff Williams (baixo) e Phill Rudd (bateria).

Os oito anos que separam esse Black Ice de seu antecessor, Stiffer Upper Lip causaram certas apreensões nos fãs. Com toda a bagunça e mudanças pelas quais a indústria musical como um todo vem passando, havia o temor de que o AC/DC modificasse sua sonoridade, visando alcançar novos públicos mais atraídos pela dita "modernidade" que certas bandas novatas tentam impor ao bom e velho rock and roll. No entanto, basta poucos segundos de audição de "Rock ‘N Roll Train", faixa que abre o álbum, para saber que, apesar de oito anos passados e quase quatro décadas de carreira, o AC/DC ainda continua chutando bundas como antigamente.

"Rock ‘N Roll Train" já começa com aquele riff típico de Angus Young que faz com que qualquer um que tenha escutado pelo menos um dos álbuns do AC/DC reconheça-a como um produto da banda. Alguns podem dizer que isso é ruim, mas o fato é que isso traz uma grande sensação de conforto ao fã. Afinal, a última coisa que o fã de bandas como AC/DC quer é mudanças. Ele quer aquele arroz com feijão ao qual está acostumado e que saboreia com gosto sempre que pode. E é isso que o AC/DC entrega ao longo das 15 faixas de Black Ice.

Aliás, não há muito mais o que se falar. Black Ice é um produto tipicamente AC/DC. É divertido em suas letras, seus refrões são, na maioria, contagiosos e "pegajosos", é alto astral em suas melodias, Angus e Malcolm continuam tocando suas guitarras com a mesma energia de, sei lá, três décadas atrás e Phil Rudd e Cliff Williams continuam competentes como sempre, assim como Brian Johnson, cuja voz ainda não perdeu a potência.

Black Ice traz aquele rock and roll clássico cheio de funk e blues que nos faz sorrir de orelha a orelha logo de cara. É cheio de clichês? Sim, mas são clichês criados pelo AC/DC, então não há nada do que se reclamar aqui. Pelo contrário, há de se louvar esses australianos veteranos por ainda serem capazes de fazer uma música muito acima da média mesmo depois de tanto tempo na estrada. Indispensável para fãs do AC/DC e do rock and roll em geral.

Libra - Até Que A Morte Não Separe

Para início de conversa, o Libra não é propriamente uma banda e sim um projeto de um homem só. O carioca que adotou o nome artístico que dá nome ao seu projeto fez tudo nesse álbum. Escreveu as letras e as melodias, gravou os vocais, as guitarras, o baixo, a bateria e os teclados e ainda foi um dos produtores, o que faz Até Que A Morte Não Separe um trabalho bastante pessoal.

Isso dito, Até Que A Morte Não Separe é um trabalho bastante competente e honesto, até pela sua ousadia, já que investe em um gothic rock com grandes influências de bandas góticas britânicas, como My Dying Bride e The Cure. O que torna Até Que A Morte Não Separe um tanto quanto original, no entanto, é o fato de todas as músicas serem cantadas em português, coisa rara no meio das bandas que enveredam por essa sonoridade. São poucas, como o Imago Mortis e o Zero, ambas famosas no underground carioca, a seguirem o mesmo caminho.

Falando do álbum em si, Até Que A Morte Não Separe é um esforço bastante interessante do Libra. Algumas guitarras são bem colocadas, a bateria soa legal e os teclados colaboram para criar o clima, ora depressivo, ora menos pesado, que as músicas pedem. Ah, e apesar do rótulo dark que querem vincular ao seu trabalho, o fato é que o Libra, apesar das influências góticas espalhadas por todo o álbum, é pop. Um pop rock gótico - que seja - mas, ainda assim, pop. Não que isso seja ruim, já que o pop rock aqui contido tem bastante qualidade e músicas como "Sangue Frio" ou "Desaparecer" poderiam muito bem estar na programação de qualquer rádio FM do país.

As letras trazem aquele clima de decepção/desilusão que vem agradando bastante à nova geração do rock, o que faz com que o Libra tenha tudo para agradá-los. Faixas como "Ninguém Ama Ninguém" e "Meu Inverno Nunca Vai Ter Fim", além das supracitadas, são os destaques positivos do álbum, ao passo que "Cinderela", uma balada desnecessária e um tanto quanto piegas, é seu ponto negativo.

No frigir dos ovos, Até Que A Morte Não Separe revelou-se um bom lançamento nacional e uma boa aposta da Sony, já que são raras as bandas que fazem esse estilo de música que conseguem agradar gravadoras de grande porte.    

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