Música

Artigo

Poison on The Rocks

Pílulas Venenosas (doses menores, mas não menos poderosas, da coluna)

19.02.2008, às 00H00.
Atualizada em 07.01.2017, ÀS 04H11

*Ressuscitar pode...*

Eu acho engraçada a incapacidade de autocrítica de alguns artistas. Muito engraçada. A cantora Natalie Cole, se você bem lembra, fez um baita sucesso no início dos anos 1990 por conta de uma colaboração com o pai morto em 1965, Nat King Cole. Em "Unforgettable", Cole, o pai, foi ressuscitado eletronicamente e fazia um duo com a filha, transformando uma regravação em sucesso absoluto. Por quê? Porque Nat King Cole é um tremendo talento e é reconhecido como tal. O mérito de Natalie? Forgettable. Antes e depois do milagre, Cole, a filha, foi/é apenas mais um nome na imensa enciclopédia jazzística, restrita, portanto, a um gênero específico.

poison on the rocks

None

amy winehouse

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Mas Natalie resolveu sair da clausura para dizer que dar à cantora Amy Winehouse cinco prêmios Grammy é errado. No raciocínio simplista de Cole, alguém que usa drogas não pode ganhar um Grammy, afinal está explicitamente divulgando que mau comportamento também pode ser recompensado.

Alguém precisa avisar Natalie Cole que o Grammy premia (ou tenta) os melhores músicos, as melhores faixas, os grandes álbuns de determinado ano, e não os melhores escoteiros. Música, péssimo comportamento e drogas sempre andaram juntos (Cole, ex-usuária, que o diga!) e se o não uso de entorpecentes fosse pré-requisito para vencer prêmios, iriam sobrar troféus e faltar artistas para recebê-los.

O que Amy Winehouse faz fora do palco não me importa. A mulher provocou uma verdadeira revolução feminina na música e canta tão bem que até dói. Cinco prêmios Grammy? É pouco!

*900 reais? Nem se o impossível acontecesse e o show fosse dos Ramones*

OK, Bob Dylan é o cara. É história viva, é compositor incrível e um cantor mais ou menos. Mas é o cara. Ou um deles.

Agora, pagar 900 reais para ficar enlatado que nem sardinha, vendo passar risóleos, dry martinis (cafona...), coxinhas e o garçom que as leva durante "Like a Rolling Stone", é, no mínimo, uma afronta. Pois este é exatamente o esquema de shows paulistanos em que a platéia fica sentada depois de ter pagado quase três salários mínimos para ver o velhinho estadunidense ou qualquer outra "lenda viva". Preguiça.

Sou mais ver um DVD no conforto do meu lar... Ruga a mais, ruga a menos, é só me olhar no espelho.

Tem coisas que nem o Mastercard faz por você.

*About an asshole*

É duro de admitir. Este é um cara com um legado pelo qual eu torcia para que continuasse irretocável. Mas é só mais uma... Pessoa. Confusa, egoísta, umbiguista e, principalmente, dotado da capacidade de ver erros em todo mundo menos em si mesmo.

No filme About a Son, entrevistas com Kurt Cobain servem como narração para o filme, que nada mais é que um conjunto de imagens (bem feitas, verdade) de lugares por onde o cantor do Nirvana passou. E infelizmente não há como refutar que Cobain, o ídolo, serviu apenas como músico, jamais como exemplo. É com o resultado das próprias palavras do cantor que se chega a essa conclusão.

Entrevistas concedidas em uma das fases em que o cantor atravessava um bom momento fazem com que ele diga coisas como " Nossa geração cresceu fazendo o mesmo tipo de questionamento. Nossos pais devem ter feito algo errado... Começaram a beber com 30 anos... Era como uma epidemia. Por este motivo, comecei a fumar maconha..."; "como é possível duas pessoas se casarem e se divorciarem sem pensar no mal que vão fazer aos filhos?"; "se eu enfrentasse uma situação parecida com a Courtney (esposa) e a Frances (filha), faria de tudo para manter contato. Meu pai simplesmente desistiu".

Primeira observação: GET A LIFE! Todo mundo tem histórias tristes, viver é isso aí. Culpar eternamente seus pais por você ser um completo otário não alivia em nada. Se todo mundo que fosse filho de pais separados e/ou alcoólatras acabasse por se suicidar, o mundo estaria praticamente inabitado.

Agora vamos às entrelinhas: se você julga um erro seu pai começar a beber aos 30, por que diabos é OK começar a fumar baseado na adolescência? Vai ver seu pai começou a beber porque o pai dele cheirava. E assim vai, o círculo vicioso do "a culpa é de quem".

Mas o melhor mesmo é "meu pai simplesmente desistiu". Um ano depois de dar essas entrevistas, Kurt Cobain meteu um balaço na cabeça. Frances tinha dois anos. Respeito os suicidas, mas se morrer desta maneira não é desistir, eu não sei o que é...

Nem vou comentar o retrato que ele faz dos companheiros de banda e o fato de julgar justíssimo ganhar mais do que os outros membros do Nirvana... Enough is enough.

Ah, sim: a trilha é ótima.

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DOSE EXTRA!

Atendendo a pedidos, aqui está a Dose Extra de Veneno, espaço reservado aos internautas do (o), que enviam missivas nem sempre educadas à colunista. Por que será, hein? ;-P

Sobre CSS, Bonde do Rolê e Foo Fighers - coluna de 29/12/07
Por Junior Saiani

Só escrevendo para comentar a última Poison do ano, e externar toda a minha contentação em ler o que muitos ainda não tiveram os colhões necessários para falar:

O Cansei de Ser Sexy é muito RUIM. E de inglês eles só têm a pretensão, sem de fato ser bom o mínimo necessário para pleitear tal direito.

Sensacional, estou acostumado a tomar o nosso veneno on the rocks, mas hoje ele vai descer é cowboy mesmo. (afinal de contas além de querer saborear letrinha por letrinha, é ano novo certo?)

Lu, espero que o saldo do ano que termina tenha sido positivo para você, mesmo com tanta porcaria que tentam enfiar pela nossa goela abaixo. Um ótimo ano novo e que 2008 nos traga bons ventos em forma de rock ´n´ roll.

Grande Beijo,
Júnior Saiani

Obs.: Posso te perguntar uma coisa? O que você achou da reunião do Led Zeppelin? Eu nunca vi essas reuniões com bons olhos, sempre me soou como um monte de dinheiro caindo nos fundos de um cofre completamente vazio. Confesso que eu tentei, mas com o Led não consegui sentir isso. Eu achei legal, sem exageros, somente interessante, porque parece que eles não atraíram a atenção por estar de novo tocando aqueles clássicos do rock. Parece que a galera estava mesmo era interessada no circo da coisa: Olha o Tiranossauro Plant, o Brontossauro Page, o Mastodonte Jones. Além, é claro, do filho do "hómi".

Fiquei triste com a reunião deles (além da decepção do Robert Plant estar a cara do Inri Cristo) porque parece que a música ficou em segundo plano, mas poxa, o Led é o Led.

Beijo e feliz ano novo.

Resposta

Tudo bom, Júnior, espero que contigo também.

Que bom que você concorda comigo. Curioso é que não foram poucos os leitores que disseram que faltava alguém dizer o que muita gente compartilhava... Por que tanto medo, né?

Retorno do Led: pelo primeiro show ter sido um tributo acho que a coisa toda não soa como caça-níqueis. Uma turnê posterior a este show? Não sei como soaria, mas de qualquer forma, a gente tá tão carente de coisas sólidas que até que cairia bem... Mas pelo show, sem novos álbuns, por favor...

Beij(o) e um grandíssimo 2008 pra você também.
Lu

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Sobre Amy Winehouse e Britney Spears - coluna de 29/12/07
Por Mayara Ribeiro

Lu, Lu Toffolo, só tu mesmo pra me fazer rir tanto num dia de domingo como eu ri (digo isso porque os domingos me dão vontade de chorar, já que é o pior dia da semana) desses lendo umas Poison de 2003, acho. A galera aqui pensou que eu tava tendo uma crise; eu até tentei explicar a causa das risadas, mas eles não iam entender mesmo...

Quanto à Poison desse mês passado, sobre Brit e Amy, eu fiquei sem saber o que falar, já que eu não suporto a primeira (de todo o meu coração) e só conheço a segunda de nome.

Enfim, me resta esperar pra rir muito (já sei que vai ser massa) esse mês. Só quando eu li o finalzinho da Poison eu já tava rindo, imaginando o que vem por aí.

Uma última pergunta: a música brasileira não merece uma Poison só pra ela? Me refiro à batizada MPB mesmo e não ao que o povo daqui ouve e vira popular. Pensa aí com carinho, por favor.

Um bjão, Lu, e não desista do seu bronzeado mediterrâneo! Eu devia fazer o mesmo (não mediterrâneo, mas daqui mesmo, minha terra, terra de Bandeira, Lenine e muita gente boa), mas me falta coragem pra pegar um solzinho.
Xau!

Resposta

Demorou pra conhecer a Amy. Espero que a essa altura você já tenha se deparado com o talento da cantora...

Vou pensar na Poison MPB, juro.

Vai pegar um sol, menina! Sai deste computador!!!

Beij(o), até breve!
Lu

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Sobre CSS, Bonde do Rolê e Foo Fighers - coluna de 29/12/07
Por Léo Cendron

Rio Negro e Solimões e Sandy e Junior são tão bons que sumiram, né querida? Aliás, Sandy e Junior fingiu que ia acabar pra ter ibope, que nem vc que finge que entende de música pra ganhar emprego.

E sinceramente, eu sei que é uma crítica, mas ta mal construída.

Sandy e Junior teve capacidade de criar suas próprias letras de música agora no final da carreira, eles não tocam nada, quem faz as musicas deles não são eles, quem faz o som naum (SIC) são eles, eles apenas pagam pra alguém fazer as coisas por eles e vc quer dizer que é bom!

Madonna ultimamente anda roubando músicas antigas pra usar como se fossem dela!
(imagine que lá nasce um Arctic Monkeys por dia) sinceramente, cala a boca. ;*

Resposta

Oi, Léo.

Sandy Jr pode até não compor, mas dá um trato fenomenal às músicas que toca, o que já os difere das bandas citadas...

Nasce um Arctic Monkeys por dia se você for na onda da mídia...

Cala a boca não é argumento, né? Deixa pra lá.

Bom 2008.

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Sobre o Tim Festival - coluna de 11/09/07
Por George Ramos

Alguns comentários à margem:

1- Não sei quem é o Antony e pra ser sincero você é a primeira pessoa que eu ouço falar nele (ou neles). É cada vez mais complicado acompanhar tudo que sai: eu tento, lhe garanto que tento; mas conhecer todas as novidades dos estilos que gosto é quase impossível: samba, bossa nova, jazz, música clássica, MPB (ou o que restou dela), rock e heavy metal. Complicado. Procurarei saber.

2- Quem é Cat Power? Isso é sério? Sempre achei agregar adjetivos para substantivos (vide os nomes dos filmes) uma coisa muito ruim.

3- Há muito tempo acho que os organizadores de shows não gostam de música, estão nem ai pra arte, só para aquelas que ensinam a ganhar grana. Shows grandes deveriam ser realmente encarados como espetáculos musicais e não em joguetes entre empresários e prefeituras (ou casas de shows) em busca da melhor fatia do bolo. Deveriam ser pensados em um todo, desde o acesso até a cerveja que é vendida. Veja um exemplo que me vem agora à cabeça. Qual a lógica de colocar um show do Chico César no mesmo local onde acontecem shows de Ivete Sangalo ou CPM22? E ainda cobrando o mesmo preço pelo ingressos? Com certeza os cachês são imensamente diferentes, os lugares também têm que ser, bem como a estrutura. Você concorda?

Abraços
George

Resposta

1. Eu conheci o Antony porque li em uma entrevista que David Bowie estava pagando um pau pro cara. Fui checar e achei muito bonito, mas não é famosão não. Nem lá, nem cá.

2. Cat Power. É sério. É tipo uma dama do indie... ai, que preguiça.

3. Claro que concordo. Tem que pensar no bem-estar da criatura que paga 200 reais para assistir ao show e na produção impecável para que o artista possa dar tudo de si sem enfrentar problemas técnicos. Virou negócio, né? Mas por isso mesmo deveria ser mais profissional...

Obrigada pela mensagem, George.

Beij(o)

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Sobre CSS, Bonde do Rolê e Foo Fighers - coluna de 29/12/07
Por Gustavo Petry

Luciana, aposto que tem um mar de gente que pensa como tu, mas não tem coragem de bater de frente com gente "moderninha". Muitos têm medo de criticar ou analisar bandas como Bonde do Rolê e Cansei de Ser Sexy. Me parece que algumas pessoas não querem se sentir "de fora" do assunto e acabam concordando com o próximo, aceitando os adjetivos dado a essas bandas e ficam pensando: "Será que é isso mesmo? Será que eu entendi bem? De repente eles são bons e eu nem sei..."

Pra mim, que conheci as duas bandas no formato puro, original do myspace e no site da trama, e não através de induções "cools" de outros, prefiro estar livre para desgostar a qualquer momento. Quero ser livre e gostar e desgostar do que quiser, e me cansar de algumas coisas quando quiser. Confesso que curti bastante o Bonde do Rolê e Cansei de Ser Sexy. Mas depois que vi como eles se comportam lá fora e aqui, fiquei com a sensação de que eles fazem um som pra gringo ver e que, se gente ouviu, azar é o nosso. Não consigo escutar mais que duas ou três músicas do "Cansei..." na seqüência, parece que não engrena. Perdeu a graça... Mas não tenho vergonha de dizer que gosto daquela ou de outra.

Sou à favor da diversão despretensiosa, sem compromisso. Da música sem motivo e sem mensagem. Mas ponham-se no seu lugar. Certa vez, vi num especial na TV, que o João, do Ratos de Porão, não tá nem aí se não sabe tocar Stairway to Heaven, azar... Mas ele sabe que não sabe, e se comporta como se não soubesse.

Leio sempre a tua coluna, nem sempre concordo com tudo. Continuo gostando e desgostando de coisas e continuo existindo... ufa...

Parabéns pelo texto.
: gustavo : pekeno :

Resposta

Mas medo de quê, né? Medo de não ser aceito? Mas por quem, meu Deus? E daí se não for? Eu ainda acho que mais vale ser do contra bem embasado do que ser maria-vai-com-as-outras...

Quanto a gosto, você sabe, é que nem... Também gosto de música despretensiosa, sem dúvida, só não gosto de gente arrogante, que se acha, e ainda faz uma nháca de som. É como você disse, não prometa o que não pode fazer.

Enfim, obrigada por ler a coluna, volte sempre, discordando ou não!

Beij(o)

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