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Artigo

A criação do Homem de Ferro nas histórias em quadrinhos

Super-herói era reflexo dos conflitos da política mundial

04.03.2013, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H35

O ano era 1963. O período era bastante conturbado. Praticamente recém-saído da crise dos mísseis de Cuba, o governo norte-americano, então sob a presidência de John Fitzgerald Kennedy, havia decretado, em fevereiro, a ilegalidade de qualquer viagem, negócio ou transação comercial de cidadãos estadunidenses com a ilha de Fidel Castro. Acirrava-se, assim, a Guerra Fria, que dividia o mundo entre duas proposições ideológicas distintas - o capitalismo, de um lado, e o socialismo, de outro - e levaria a vários golpes de estado no continente latino-americano, a intervenções em conflitos armados em várias partes do mundo, a uma corrida armamentista que parecia não ter fim. Ela duraria até o início da década de 1990, com a extinção da União Soviética.

É nesse clima, em março de 1963, que surge mais um super-herói das revistas em quadrinhos, fruto da mente privilegiada de dois ícones da indústria norte-americana: Stan Lee e Jack Kirby, auxiliados pelo roteirista Larry Lieber e pelo desenhista Don Heck. Sensíveis ao momento que viviam, os dois autores lançaram no número 39 da revista Tales of Suspense, de março de 1963, o Homem de Ferro (Iron Man), herói que combatia os malfeitores com o uso de uma armadura metálica, dotada de vários artefatos tecnológicos.

Tony Stark

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Homem de Ferro

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O Mandarim

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O Mandarim

Homem de Ferro e Capitão América EBAL

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Primeira aparição do Homem de Ferro no Brasil

Os Vingadores

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Os Vingadores

Homem de Ferro

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Dínamo Escarlate

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Dínamo Escarlate

Tales of Suspense

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invincible iron man

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A gênese do Homem de Ferro está situada em um ambiente de confronto característico da Guerra Fria, o Vietnã. Na época, os Estados Unidos alimentavam o conflito com homens e armamentos, mas não se encontravam ainda em envolvimento aberto. É no fornecimento de armamentos que atua o bilionário Tony Stark, industrialista que, ao inspecionar o uso de uma arma projetada por sua fábrica, é vítima de um acidente que aloja estilhaços de bomba em seu coração, gerando uma situação de perene ameaça. Encontrado pelos vietnamitas, Stark é aprisionado e forçado a desenvolver uma arma para eles, contando para isso com a ajuda de um velho cientista. Enganando seus carcereiros, Stark desenvolve uma armadura de ferro à base de transistores, que lhe possibilita manter seu coração batendo normalmente e representa uma arma inigualável. Derrotado o inimigo, ele retorna ao seu país e inicia sua carreira como super-herói.

As Armaduras do Homem de Ferro: Conheça as versões que marcaram a história do herói

Os primeiros vilões do Homem de Ferro

Desde seu início, o Homem de Ferro foi uma personagem marcada pela contradição. Tratava-se de um bilionário e fabricante de armas, alguém não apenas indiretamente responsável pela morte de milhões de pessoas mas que também se beneficia pessoalmente disso. Constituía, assim, alguém que dificilmente poderia ser considerado um herói pela maioria dos leitores. A fórmula encontrada por Stan Lee para aproximá-lo de seu público foi colocar-lhe uma debilidade sobre a qual não tinha controle - a constante ameaça dos estilhaços de bomba em seu coração -, e situá-lo no centro de um triângulo amoroso. Desta forma, embora declaradamente um playboy, Tony Stark na realidade tem sentimentos de amor por sua secretária Pepper (no Brasil originalmente batizada Pimentinha), que por sua vez é apaixonada por Happy Hogan. Dramalhão mexicano, é certo, mas que atendia bem às expectativas da época e foi um dos responsáveis pelo sucesso inicial do herói.

Infelizmente, o aspecto político foi o elemento mais forte nas primeiras aventuras do Homem de Ferro. Invariavelmente, seus maiores adversários vincularam-se à divisão entre capitalismo e socialismo. Assim, vilões como o Mandarim, o Dínamo Escarlate, Bárbaro Vermelho, Homem de Titânio e outros são carregados de teor ideológico, deixando evidentes as tendências políticas do protagonista. Não faltam, inclusive, veladas referências à realidade dos países sob a égide da doutrina socialista, cujos mandatários são freqüentemente tratados por denominações como terroristas ou tiranos. Esse maniqueísmo do herói só seria suavizado no final dos anos sessenta, quando crescia entre o povo estadunidense a rejeição à participação do país na Guerra do Vietnã. Nesse período, Tony Stark tornou-se pacifista e negou-se a continuar inventando armamentos, entrando em uma nova fase de sua vida.

Os vilões de Homem de Ferro: Mandarim, Justin Hammer, Obadiah Stane, Homem de Titânio, Dínamo Escarlate, Fin Fang Foom

Homem de Ferro ganha revista própria

Em 1968 o Homem de Ferro ganha uma revista própria, passando a dividir-se entre os dois títulos, Tales of Suspense e The Invincible Iron Man Iron Man. No entanto, em essência, as tramas não variam tanto de uma publicação para outra. Em geral, suas histórias giravam em torno dos conflitos pessoais de Tony Stark (seus desencontros amorosos com Pepper Potts ou com outras namoradas eventuais), a constante ameaça à sua vida (devido aos estilhaços de bomba em seu coração) e o aparecimento de vilões que, de um modo ou de outro, tentavam solapar o mundo capitalista (incluindo aí organizações como a IMA e a Maggia). De destaque, na época, a mudança de cor e design da armadura de cinza para dourado, que lhe deu maior mobilidade e atrativo gráfico e, por tabela, valeu ao herói a denominação de Vingador Dourado.

Com histórias medianas, o Homem de Ferro não chegou a ter o mesmo impacto na indústria de quadrinhos que tiveram outros heróis da Marvel, como o Homem-Aranha ou o Quarteto Fantástico, embora se possa dizer que foi importante em sua colaboração para equipes de heróis, como foi o caso dos Vingadores. No entanto, ele contou com bons desenhistas, que apresentaram um trabalho meritório nas histórias que ilustraram, devendo-se destacar especialmente as atuações de Gene Colan e John Romita Jr., indiretamente responsáveis pela permanência do Homem de Ferro nos quadrinhos.

A chegada do Homem de Ferro ao Brasil

O Homem de Ferro começou a ter suas aventuras publicadas no Brasil a partir de julho de 1967, quando a EBAL, do Rio de Janeiro, iniciou a publicação dos novos heróis da Marvel Comics no país. No entanto, a EBAL, começou a publicar as histórias somente a partir do número 67 de Tales of Suspense, quando o herói passou a dividir as páginas da revista com o Capitão América.

A aventura do Homem de Ferro que narra sua origem só foi publicada apenas no número 100 da extinta revista Heróis da TV, da Editora Abril, em 1987, depois republicada, juntamente com as histórias publicadas na revista Tales of Suspense 40 a 42, em Grandes Clássicos Marvel 1, da Editora Mythos, de 2006. Dois anos mais tarde, em 2008, a Panini Comics apresentou todas as primeiras aventuras do herói cronologicamente em Biblioteca Histórica Marvel - O Invencível Homem de Ferro - Volume 1.

Leia também sobre o Homem de Ferro no cinema clicando aqui

Bibliografia complementar
DÍAZ, Lorenzo F. Diccionario de superhéroes. Barcelona: Glénat, 1998.
DÍAZ, Lorenzo F. Superhéroes Marvel: del cómic a la pantalla. Madrid: Alberto Santos Editor, 2004.
MARIN, Rafael. Los cómics Marvel. Madrid: La Factoria de Ideas, 2001.
THE MARVEL ENCICLOPEDIA: the definitive guide to the characters of the Marvel Universe. London: DK Publishing, 2006.

Artigo originalmente publicado em 2008 para os 45 anos do herói e atualizado em 2013

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