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Canalha Especial

Canalha Especial

14.08.2002, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 05H01

Depois de uma vida curta e atribulada na Editora Brainstore, a revista Canalha está de volta, pela Opera Graphica. Agora em um formato maior e mais luxuoso (e com tiragem limitada de 1000 exemplares, não muito maior do que sua encarnação anterior parecia estar vendendo) e vendida pelo HQ Club, a publicação tenta ser mais atraente para o público-alvo selecionado que sempre visou.

A revista contém seis histórias curtas e fechadas, metade delas de artistas brasileiros e a outra de estrangeiros (predominantemente espanhóis). Duas das histórias gringas possuem personagens estabelecidas, ainda que pouco conhecidos do grande público - Morgan e Dieter Lumpen. A única constante das histórias é a amoralidade de seus protagonistas, bem de acordo com o lema da Canalha, a revista pra quem não torce pelo mocinho.

A bela capa e a história a que esta corresponde, Tempestade sobre a montanha são cortesia do editor da revista Wander Antunes (roteiro) e do nosso colega do Omelete, José Aguiar (ilustração). A título de imparcialidade, não farei uma avaliação qualitativa da história.

As outras histórias nacionais são Serviço de profissional, por Antunes (Roteiro) e Spacca (ilustração), em que um matador de aluguel dá uma aula sobre sua profissão (e que eu poderia jurar que já foi publicada em alguma outra revista, mas não consigo recordar qual) e Colors, de Laerte e Angeli, uma trama curta e genial da talentosa dupla. Duas boas narrativas, embora a segunda já tenha vários anos de estrada.

Do material importado, destaque para a história de Morgan, da sempre excelente dupla Antonio Segura e José Ortiz (criadores de Burton e Cyb, conhecidos dos leitores da revista Heavy Metal, e colaboradores habituais dos títulos da Bonelli). O roteiro inspirado de Segura e o magnífico traço de Ortiz garantem que esta seja a melhor história da revista (continuando, portanto, a tradição da encarnação anterior da Canalha). Obrigatória para todos os fãs dos criadores.

A força do hábito, escrita por Sanchez Abuli (Torpedo) e desenhada por Darko Petrovic (croata, pelo nome), é uma tradicional história estilo mundo cão de Abuli. A sólida arte de Petrovic é um ponto positivo, mas o roteiro não tem o mesmo impacto dos melhores trabalhos do roteirista.

Por fim, temos uma história do detetive Dieter Lumpen por seus criadores, Jorge Zentner e Ruben Pellejero. A bela arte de Pellejero (reminiscente do mestre Hugo Pratt!) e o roteiro que coloca a personagem em um dilema de consciência (sim, ao contrário das demais da revista, este tem consciência!) tornam esta obra o destaque da edição. O único problema é que ela é visivelmente continuação de outra que não saiu no Brasil (ou foi publicada em alguma publicação obscura, anos atrás).

Há também um artigo sobre o Lobby dos Ratos. Exatamente o tipo de peça que costuma ser publicado em HQs alternativas (lembram dos da revista Animal?). Deve ter seus fãs, mas eu considero desperdício de páginas.

O grande problema da edição é seu preço. Mesmo com bom papel e capa cartonada, 10 reais é um preço alto por menos de 50 páginas de quadrinhos! Ainda mais se considerarmos que, como toda publicação da Opera Graphica, é visível que a edição foi escaneada. Não chega a prejudicar a arte, como aconteceu nos primeiros trabalhos da editora, mas o preço e formato da publicação exigem um trabalho mais cuidadoso! O leitor brasileiro já não agüenta mais ver pixel em suas HQs!

No geral, uma série de boas narrativas prejudicadas apenas pelo mesmo fator que as uniu em uma única revista: Todas são com personagens amorais e movidas apenas pela ambição (e, ocasionalmente, pela crueldade mesmo). Depois de ter lido um punhado de histórias assim, elas se tornam tão formuláicas quanto as HQs americanas de super-herói, já que, de seu modo, seus protagonistas têm um comportamento tão previsível quanto o dos aventureiros de colante! Um pouco mais de equilíbrio (como na última história) seria bem-vindo! No fim das contas, o todo da revista torna-se menor que a soma das partes, o que é uma pena.

Canalha especial
Ed. Opera Graphica - formato 21 x 28 cm Edição especial - 52 páginas
P&B; - R$ 9,90

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