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HQ: <i>Arrepio: quadrinhos aterrorizantes</i>

HQ: <i>Arrepio: quadrinhos aterrorizantes</i>

05.01.2004, às 00H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 16H06

As histórias de terror já foram o ponto alto das nossas histórias em quadrinhos. Durante as décadas de 1950 e 1960, os maiores autores do país à época - como Jayme Cortez, Flávio Colin, Eugenio Colonnesi, Flávio Lima, Julio Shimamoto, Gedeone Malagola e Nico Rosso, para só mencionar alguns deles -, dedicaram-se ao gênero, criando obras antológicas. Anos depois, na década de 1980, as revistas Calafrio e Mestres do terror, capitaneadas por Rodolfo Zalla, da Editora D´Arte, dariam nova vida às histórias horripilantes, criando espaço para os traços de Rubens Cordeiro, Mozart Couto e Benê Nascimento, além de muitos dos astros da velha guarda, acima mencionados.

No entanto, o tempo passou. As revistas de terror aos poucos perderam seu fascínio junto ao público, mais interessado em outras formas de entretenimento. De certa forma, foram substituídas por revistas de outros gêneros, desde os sempre presentes super-heróis à novidade dos mangás japoneses. Nos últimos anos, as histórias de terror só vieram a público em antologias especialmente preparadas para celebrar o gênero ou alguns de seus mestres mais destacados, como Flávio Colin, Júlio Shimamoto ou Rodolfo Zalla, geralmente em edições de baixa tiragem. As revistas de linha, aquelas com o compromisso de trazer histórias de terror made in Brazil com certa periodicidade às mãos dos leitores, pareciam ter se retirado definitivamente de campo. Mas isso pode ter se modificado.

No final do mês passado, chegou às bancas a revista Arrepio: quadrinhos aterrorizantes, publicação mensal da Editora Noblet Ltda, de São Paulo. À frente do título, o veterano quadrinhista Paulo Hamasaki, provavelmente também responsável pelo roteiro e desenhos de todas as histórias do primeiro número - à exceção de uma delas, onde aparece explícita a indicação de autoria dos desenhos como sendo de Marcos Roberto Santos. Para os amantes do gênero, trata-se de uma notícia alvissareira. Afinal, pode representar o renascimento do gênero no país, que, no passado, proporcionou ótimos espaços para artistas e empreendedores.

Talvez a realidade esteja madura para a volta dos quadrinhos de terror (considerando-se o tema, talvez falar em nova encarnação fosse mais apropriado...). Ou talvez ainda seja cedo demais para essa retomada. Impossível dizer com certeza, pois o novo título da Editora Noblet deixa esta questão ainda não devidamente respondida.

De uma maneira geral, trata-se de uma publicação de qualidade mediana, seja em termos gráficos como de histórias. Ainda que os desenhos em preto e branco e tons sombrios pareçam adequados para a temática, é quase impossível afastar a sensação de uma obra com acabamento insuficiente e histórias às vezes demasiadamente previsíveis, abordando temas tradicionais do gênero, como a caça aos vampiros, o bebê gerado por intervenção demoníaca (qualquer semelhança com o filme O bebê de Rosemary com certeza não é mera coincidência...), o pacto com o demônio, o lobisomem e o monstro de Frankenstein. Nesse sentido, tudo parece indicar que a editora preferiu fazer uma aposta segura, investindo em temáticas já familiares e arriscando o menos possível. Uma questão de prudência, que até merece ser louvada sob certos aspectos, ainda que tudo pareça indicar que os leitores atuais anseiam por temáticas arrojadas, que mergulhem profundamente nas águas do desconhecido, percam-se pelas névoas do mistério e surpreendam até mesmo os apreciadores mais recalcitrantes. A revista Arrepio, com certeza, ainda que constitua uma produção em quadrinhos com relativo grau de eficiência, está longe desse tipo de produção, representando uma opção editorial para leitores mais tradicionalistas.

Por outro lado, embora a revista não colabore para arrancar gritos de otimismo daqueles que admiram o viés brasileiro de terror nas histórias em quadrinhos, há que se louvar o retorno à atividade da Editora Noblet, de São Paulo, que tantos títulos interessantes ofereceu aos leitores no passado, como a longa série da personagem Akim, produção italiana nos moldes de Tarzan, os heróis de faroeste Giddap Joe e Tex-Tone, a introdução do boneliano Mister No, no Brasil, entre outros. Nos últimos tempos, dedicando-se apenas à publicação de HQs eróticas (para não dizermos pornográficas), contos eróticos para adultos ou revistas de atividades para crianças, ela havia até mesmo se apagado da memória dos leitores de quadrinhos (os mais novos, provavelmente jamais ouviram falar dela).

Seu retorno à área onde atuou durante longos anos pode significar que o mercado de quadrinhos voltou a se tornar atrativo e que bons tempos se abrem para os quadrinhos brasileiros. Neste sentido, só resta torcer para que as pequenas falhas detectadas no primeiro número da revista Arrepio sejam corrigidas em edições futuras e ela possa representar, realmente, a linha de frente de uma nova arrancada do gênero no país que muitos desejam.

Arrepio: Quadrinhos Aterrorizantes é publicado no formato magazine, em preto e branco, e custa R$ 3,00.

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