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Lá fora: Os lançamentos norte-americanos

Lá fora: Os lançamentos norte-americanos

06.12.2003, às 00H00.
Atualizada em 31.12.2016, ÀS 02H02

Na seção "LÁ FORA", o Omelete lê e comenta todos os grandes lançamentos em quadrinhos nos Estados Unidos.

Será que aquele projeto que foi tantas vezes notícia aqui rendeu alguma coisa boa ou foi decepcionante? Quais são as novas séries que estão agitando os leitores americanos? Onde estão surgindo os novos nomes, seja de escritores ou ilustradores?

Vamos conferir aqui, sempre atentos às lojas especializadas americanas, as respostas para estas e outras perguntas.

Alias 28

Antes de escrever cinqüenta gibis por mês, Brian Bendis era o autor de um quadrinho independente chamado Jinx. Jinx era o nome de uma caçadora de recompensas que passava o tempo bebendo café e reclamando da vida. Mas a série é importante porque foi nela que Bendis começou a fazer experimentos de diagramação, estrutura e desenho inéditos nos quadrinhos, que aos poucos foram descobertos por gente como Joe Quesada. O resto é história.

Alias, que só agora começou a sair no Brasil, tem quase tudo que o autor fazia em Jinx. Apesar de algumas raízes fincadas no mainstream, é quadrinho experimental dos mais legais. Bendis faz seu desenhista Michael Gaydos usar muita fotocópia, criar páginas duplas com dezenas de quadros e manter uma estrutura interessante em diálogos que avançam por páginas e páginas. Ele até usa outros artistas - como Mark Bagley - para realçar certos temas, fazendo jam sessions na página.

Alias tem outra relação direta com Jinx nas similaridades entre os trabalhos das moças: Jinx, caçadora de recompensas; Jessica Jones, investigadora particular. Jones também é uma ranzinza, humanamente fraca e falível. O mais interessante da série foi ver como Bendis desencavou lentamente o passado de sua personagem, até chegar em seus traumas mais profundos.

Sim, eu usei "foi" ali em cima. Alias termina aqui, quando Jessica Jones abre um novo capítulo na sua vida. Ela será personagem de The Pulse, série que começa em fevereiro fora da linha Max - ou seja, ela vai trocar seus "Fuck!" por "%&*@!" -, mas que é centrado mesmo na redação do Clarim Diário. Não cheira bem. Infelizmente, acho que temos que dizer adeus ao experimentalismo e a um dos quadrinhos mais bem escritos da década...

Mas é claro que eu espero estar errado.

Rex Mundi 6

No mundinho mezzo independente mezzo mainstream da Image Comics, criadores que só teriam chance de lançar seus trabalhos independentemente ganham algumas vantagens de distribuição e promoção. Ou seja, mais chance de ganhar grana. Mas o que acaba acontecendo é que a Image despeja tanto gibi de qualidade duvidosa nas comic shops que os bons ficam perdidos e as vendas se nivelam por baixo.

Arvid Nelson e EricJ, respectivamente escritor e desenhista de Rex Mundi, deram um jeitinho e criaram uma exceção. Têm uma revista consistente, com roteiro e desenhos bons, lançam tudo no tempo previsto e, através de uma boa campanha publicitária online, conseguiram chamar a atenção dos principais críticos. E aí estão: não vendem milhões de edições, mas ficam acima da média na Image.

Rex Mundi se passa em Paris na década de 30, num mundo que não conheceu a Reforma Protestante, e em que a Inquisição e as monarquias feudais ainda estão ativas. O médico Julien Saunière é chamado às pressas na madrugada pelo padre Gerard Marin, do qual foi roubado um misterioso pergaminho medieval. Tentando ajudar o amigo, Julien percebe que se meteu onde não devia, envolvendo-se numa conspiração milenar que vai até os Cavaleiros Templários.

Ok, pode parecer chato para muita gente, e na verdade não é dos meus gêneros prediletos. Mas Nelson e EricJ são excelentes quadrinhistas. Cada edição é uma aula de narrativa - clássica, mas bem feita - do tipo que falta a muitos desenhistas contemporâneos. EricJ tem desenhos detalhados, nos quais você percebe que há uma dedicação a cada quadro - o traço lembra Phil Jimenez. As cores e efeitos de Jeromy Cox complementam sobriamente cada edição.

É um quadrinho com tudo no lugar certo. Não muda o mercado, mas tem a consistência para se manter nele.

Danger Girl: Viva Las Danger

Você já leu a primeira minissérie de Danger Girl? Ainda não entendi por que nunca foi publicada no Brasil. Não é "o maior quadrinho de todos os tempos", mas é uma aventura extremamente divertida com bom roteiro, bons diálogos, boa estrutura e - convenhamos, o cara é muito bom - excelentes desenhos de J. Scott Campbell. Era toda comédia e aventura de Indiana Jones jogadas numa paródia de 007. Entretenimento muito saudável.

Hoje, Campbell não chega mais perto da prancheta para desenhar páginas de quadrinhos. Está vendendo suas criações para cinema, TV, videogames ou seja lá o que for, e só acha tempo para desenhar pin-ups e capas (como as ótimas que faz pra Amazing Spider-Man de vez em quando). Nas minisséries e edições especiais de Danger Girl, só colabora no roteiro com o parceiro Andy Hartnell. E faz muita falta nos desenhos.

Veja o exemplo de Viva Las Danger, especial que acaba de sair. Phil Noto, que tem um estilo legal e tudo mais, não consegue transmitir toda a emoção em cores chocantes que Campbell fez na primeira série. O roteiro parece não ser dos melhores, carregando no clichê, mas dá pra sentir que o problema maior é a falta dos desenhos do seu criador. Afinal de contas, Danger Girl é sempre carregada nos clichês e o que cativa mesmo é o traço.

Ou talvez eu só esteja reclamando porque Noto não salienta todas as curvas que as Girls merecem...

Superman/Thundercats

Thundercats em Metrópolis? Sim! Super-Homem atacando Lion-O ? É claro! Super-Homem dando um murro em Mun-Ra? Óbvio! Snarf conversando com Jimmy Olsen? Bom, essa ficou de fora...

Bem-vindo a mais um dos cross-overs incrivelmente previsíveis. Roteiros re-re-re-re-recauchutados, todas as splash pages para fanboys babarem, um desenhista medianamente conhecido mas não muito caro (Alé Garza) e um argumentista pau-para-toda-obra (Judd Winick). A fórmula se repete sem parar desde a década de 70 e aparentemente não encheu o saco de todo mundo.

Existem cross-overs bons, sim. Superman/Gen13 e Batman/Capitão América são os primeiros que me vêm à mente. Surpreende que Winick, que não é um roteirista ruim, não tenha pensado em nada mais criativo para algo tão retumbante e popcultural como o encontro entre o homem-de-aço e os filhos de Thundera. Oportunidade desperdiçada.

Superman: Blood of my ancestors

E mais Super-Homem. Na edição especial, Super enfrenta um monstro espacial na Nova Zelândia que o domina e começa a sugar memórias que o herói nem sabia que tinha. De Krypton, meio milhão de anos atrás, quando um de seus ancestrais também carregava um "S" no peito e tinha superpoderes.

História fraquíssima (Steven Grant), que parece ter saído dos anos 50. O especial só chama atenção por um detalhe: é o último trabalho de dois dos maiores desenhistas que já passaram pelos quadrinhos, Gil Kane e John Buscema. Kane, que também colaborou no roteiro, deixou a obra inacabada ao morrer em 2000. Buscema assumiu o trabalho com mais de metade das páginas faltando e completou-o antes de nos deixar, no início de 2002. O arte-finalista Kevin Nowlan se encarregou de realçar o trabalho dos dois mestres.

Kane fazia vilões com cara de mau como ninguém. Buscema é o rei da anatomia e da ênfase dramática. Os dois foram bem servidos no último trabalho, bastante teatral e cheio de clichês. Mas não mereciam um trabalho mais empolgante para encerrar suas vidas?

Importante: nenhuma página da edição lembra que este é o trabalho derradeiro dos desenhistas. Mais um descuido monumental da DC?

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