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Artigo

O começo do fim de The Walking Dead

Chegada de Negan marca o fim do tribalismo e a maior virada na vida de Rick

08.04.2016, às 15H48.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H48

Se The Walking Dead (atualmente no ano seis) terá 12 temporadas na TV, como preveem os executivos da AMC, ou se a HQ da Image Comics (atualmente nas 150 edições) chegará mesmo até o número 300, como o criador Robert Kirkman já esboçou em entrevistas, por enquanto não importa. Pelo teor que a saga adquire depois da entrada do vilão Negan, já fica evidente que estamos assistindo ao começo do fim de The Walking Dead.

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Porque não é por acaso que os sobreviventes do apocalipse zumbi tenham transformado Alexandria na sua residência mais duradoura na série. Estamos nos arredores de Washington, a capital dos EUA, e aos poucos o desespero pela sobrevivência está sendo substituído por um esforço de recriação de uma ordem social, de refundação da sociedade. A relação entre Negan e Rick Grimes e a forma como esse duelo se encerra nos quadrinhos são fundamentais para delimitar essa busca por uma nova civilidade.

No desfecho do arco de Negan e da guerra entre feudos que tomou a HQ por um ano inteiro, até a edição 126, chegamos ao ponto mais crítico da reorganização social que o leitor já percebia desde que o grupo de Rick descobriu em Hilltop a esperança de um futuro de subsistência, harmonia, comércio, segurança. Esse ponto é crítico, sublinhado pela forma como Rick subjuga Negan, porque é a decisão mais difícil de ser tomada: abdicar da violência, do tribalismo, da forma como as coisas se resolviam até agora, em nome de um legalismo. The Walking Dead ainda não chegou ao cúmulo de propor uma nova Constituição, ou mesmo uma nova Tábua de Testamentos, mas definitivamente há agora uma lei em vigor, e é da lei que parte toda sociedade.

Que essa lei seja decisão única e exclusiva de Rick é algo já esperado numa HQ que desde o início tratou o ex-policial como o caubói incumbido de carregar a bandeira da consciência americana adiante, o John Wayne mutilado e combalido que já disse que "isso aqui não é uma democracia" mas ainda assim continua guiado por seus valores e seu senso de moral. Estamos assistindo ao começo do fim não só porque Rick envelheceu demais nas HQs com o salto temporal pós-Negan (me parece muito improvável que a trama continue com Carl e Cia. depois de uma eventual morte de Rick) mas principalmente porque o nosso herói tomou, com Negan, sua decisão mais importante em direção à restauração da ordem.

O dilema que estamos acompanhando agora nos quadrinhos, então, com o arco dos whisperers, soa como um problema típico do Estado moderno: os sussurradores que se disfarçam de zumbi são ameaças sem rosto como os terroristas fundamentalistas de hoje, tribalistas despidos de sua individualidade e reunidos como seita em nome de uma regressão (a fé na redenção dos céus, no caso dos jihadistas reais, e a crença no retorno à vida selvagem, no caso dos whisperers). Rick mal fundou um novo país - e ele cada vez mais se parece com um político orador, com os moradores de Alexandria gritando seu nome durante um discurso - e já tem que encarar ameaças à sua "segurança nacional" muito mais complexas do que simples zumbis.

Aliás, outro elemento que evidencia o início do desfecho é que os zumbis, que eram a regra, viraram uma exceção. Da mesma forma, causa desconfiança e estranheza a cena recente nas HQs em que Eugene consegue um misterioso contato exterior por rádio. Soa estranho porque o leitor talvez tenha deixado de esperar uma ajuda ou um contato de uma ordem política ou militar maior, à medida em que The Walking Dead foi criando ao redor de Rick Grimes a esperança da refundação. É como se agora não houvesse mesmo, numa suposta hierarquia no mundo da série, ninguém acima de Rick, nenhum general do exército, nenhum presidente, nada.

E o peso que vem com essa noção, a de que aquele dono de um bando de pessoas agora carrega nas costas, de fato, a responsabilidade da retomada da diplomacia, transforma Rick de um jeito muito interessante. Se estamos entrando mesmo na metade final de The Walking Dead, essa virada do personagem pode sem dúvida dar um vigor capaz de conduzir a história até o seu desfecho.

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