HQ/Livros

Crítica

Black Widow (2016) | Crítica

Dupla premiada de Demolidor faz uma HQ que está à altura da popularidade da Viúva Negra

06.04.2017, às 18H23.
Atualizada em 21.03.2019, ÀS 14H48

Um dos pontos centrais da elogiada fase de Mark Waid Chris Samnee à frente da série do Demolidor era o dinamismo (leia a nossa crítica). Contar uma história essencialmente visual continua sendo um dos objetivos da dupla em Black Widow, mas ao final de suas 12 edições - que passam voando como uma cena de abertura de algum filme de 007 - a série da Viúva Negra mostra que esse objetivo foi radicalizado.

A HQ escrita por Waid não é só uma rara história que está à altura da popularidade da personagem hoje nas telas, como também é um espaço privilegiado para Samnee testar soluções de layout e design (como transformar andares de uma instalação subterrânea em quadros verticais na página) e basicamente solar como um guitarrista virtuoso com sua coreografia de ação. Toda a premissa simples dessas 12 edições - Natasha Romanoff está em fuga e continua acertando contas com o passado - se desenrola em função de oportunidades diferentes de ação, desde fugas em queda livre até perseguições na Lua.

Antes de mais nada, a ação se renova a cada edição porque Waid não se preocupa obsessivamente com o compromisso da continuidade e executa algumas elipses sem pudor. Entre uma edição e outra há saltos de tempo, espaço e contexto, como se assistíssemos a pequenos filmes autocontidos de uma série de antologia. Há um fio condutor ligando as 12 edições, em direção ao grande duelo final, mas os desfechos de cada edição são tão climáticos e satisfatórios em termos de ação que os autores, assim, conseguem desarmar qualquer expectativa superdimensionada que os leitores venham a criar (como me parece ter acontecido com Daredevil, numa fase que teve um miolo excepcional e perdeu um pouco de fôlego no fim).

Black Widow não tem grandes pretensões além de ser uma vitrine para os talentos de Natasha. A comparação com James Bond vem a calhar porque Viúva Negra também bebe na fonte das fantasias de Guerra Fria, com seus matadores infalíveis e seus contratos trágicos de fidelidade com a pátria. Todo cenário é um espaço de ação em potencial, que Samnee explora com ângulos e pontos de vista de thriller com segurança. E os gadgets parecem saídos do arsenal de Bond não só nas referências mais diretas (como uma chave de fazer ligação direta no carro esporte europeu que parece um Aston Martin) mas também nos braceletes de choque de Natasha, que brilham como nunca.

Embora essa fase da série seja marcada pelo lado lúdico, alguns flashbacks bastante fortes e sangrentos nunca deixam de manter em cena a gravidade, para nos lembrar da letalidade da personagem. Esses momentos são mais pensados para fornecer contexto e "bookends", porém. No geral Black Widow é uma série que tenta funcionar como um bom filme do gênero, em que toda a dramaturgia se resolve na ação. A dupla faz uma rara HQ que se desenrola sem recordatórios ou caixa de narração. Isso significa não apenas que se acelera o ritmo, mas principalmente que não há um narrador onisciente que nos coloque dentro da cabeça da protagonista. Isso seria, de certa forma, uma traição de principios (como boa espiã a Viúva Negra depende de seus segredos) e seria certamente uma forma de enfraquecer a narrativa, tão dependente dos mistérios de raciocinio de Natasha para executar suas reviravoltas.

As páginas sem diálogo são as mais expressivas, cenas grandiosas de ação com explosões, fumaça e estilhaços que terminam frequentemente com a lembrança de que Natasha sangra, é apenas humana. Ao mesmo tempo, ela é a profissional por excelência, vulnerável quando interessa ser, apenas por uma questão narrativa, como James Bond. A diferença é que não existe a figura da Inglaterra como presença materna, protetora, e sim a maldição da criação russa, que deve ser vencida como o arco do filho que mata o pai para se reafirmar - o que só ajuda a tornar a Viúva Negra mais forte e mais trágica.

Nota do Crítico
Ótimo

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