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Crítica

Crítica: A Comédia Trágica ou a Tragédia Cômica de Mr. Punch

Diferenças culturais prejudicam a leitura da graphic novel de Neil Gaiman e Dave McKean

09.11.2010, às 21H43.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H11

É óbvio que, quanto mais fama mundial ganha Neil Gaiman - prêmios de literatura, dirigindo curtas, duas obras adaptadas para o cinema (Coraline e Stardust) e mais uma a caminho - mais as editoras cavocam a bibliografia do autor inglês de olho em lançamentos. A Panini Comics relançou Sandman, acompanhado da quadrinização de Lugar Nenhum na revista Vertigo. A Rocco vai trazer a quadrinização de Coraline e seus livros infantis.

E a Conrad, por sua vez, além de completar o livro Coisas Frágeis - aqui dividido em duas partes -, foi buscar nos anos 90 Mr. Punch e Signal To Noise (que deve sair em breve), duas graphic novels que Gaiman fez com o frequente colaborador Dave McKean.

Punch - ou melhor, A Comédia Trágica ou a Tragédia Cômica de Mr. Punch - saiu em 1994 na Inglaterra, quando a dupla já estava encerrando Sandman. O álbum integra uma sequência de graphic novels que começou com Violent Cases e segue até hoje com filmes (Mirrormask) e livros infantis (Crazy Hair).

Assim como Violent Cases, Mr. Punch trata de memórias, mais especificamente memórias de infância. Um garoto que passa uma temporada com os avós, na costa britânica, descobre estranhos segredos de sua família, como os problemas mentais - e morais - do avô e um tio cuja doença não pode ser mencionada. E tudo parece se juntar ao teatro de bonecos que ele assiste na praia.

O teatro com o casal de bonecos Punch e Judy é uma tradição britânica pelo menos desde o século XVII. A história varia um pouco, mas quase sempre envolve Mr. Punch não conseguindo cuidar do bebê do casal, e aí levando pauladas da esposa Judy, até que chega um policial para resolver o caso...

Esta questão cultural é um dos principais problemas na hora de ler a graphic novel. Grande parte dos ingleses conhece a narrativa de Punch e Judy tão bem quanto, digamos, nossos "escravos de Jó que jogavam caxangá". Fica difícil entender se Gaiman e McKean respeitam ou distorcem o original - se a história é realmente violenta ou se foi apimentada para os fins da graphic novel.

Esse estranhamento se estende para o resto do álbum, o que o torna o tipo de publicação em que caberia uma nota explicativa sobre as referências da cultura britânica pelo texto. Sem isso, você sente que perde parte da história.

Deixando essa consideração de lado, é claro que o álbum é um espetáculo visual. É o David McKean “clássico”, de meados dos anos 90, quando seu estilo começava a fazer escola. Para quem vai ficar só com a arte, não há dúvida de que é um grande álbum. Para quem quer uma história de Neil Gaiman para acompanhar, só tendo algumas aulas de cultura inglesa antes.

Mr. Punch está nas livrarias. O preço sugerido é de R$ 49,90. Compre aqui com desconto.

Nota do Crítico
Bom

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