HQ/Livros

Crítica

Piteco - Ingá | Crítica

Shiko cria uma mitologia para o personagem que mistura história e folclore

20.12.2013, às 18H50.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 15H11

De todas as HQs que fazem parte da coleção Graphic MSP, nenhuma foi tão longe na criação de uma mitologia para os personagens de Mauricio de Sousa quanto Piteco - Ingá. Astronauta - Magnetar é uma grande aventura sobre a solidão no espaço; Turma da Mônica - Laços é uma comovente história de amizade (que chegou a brincar com a origem dos personagens, é verdade); e Chico Bento - Pavor Espaciar é uma comédia com toques de ficção científica.

O trabalho do cartunista paraibano Shiko foi meticuloso. Ele conseguiu transformar o Piteco em um personagem tipicamente brasileiro ao buscar inspirações em sua própria origem nordestina para contar a história do homem da idade da pedra. Os locais visitados são reais: a Pedra do Ingá realmente existe, é um dos monumentos arqueológicos mais importantes do mundo, e tem uma aura mística que serviu de inspiração para gente como Zé Ramalho, que lançou em 1975 o disco Paêbirú, baseado nas lendas sobre a região.

Os seres fantásticos encontrados no livro vêm do nosso folclore. Estão lá o Curupira (ou Arapó-Paco, na versão de Shiko), o Boitatá (ou M-Buantan), o Anhanguera, o ser que assumia muitas formas e protegia os animais nas florestas, e o Camazotz, um morcego gigante da região dos Andes, todos devidamente reimaginados pelo quadrinista. Cada tribo que aparece na HQ também ganhou uma identidade visual única: a tribo de Lem, o povo de Ur e os homens-tigre têm vestimentas, armas e até maneira de se mover específicas.

Essas bases não se sustentariam se a história fosse fraca. Seguindo a linha das Graphic MSP anteriores, Ingá parte de uma premissa bem básica: Piteco precisa resgatar Thuga, sequestrada pelos homens-tigre, enquanto seu povo faz uma jornada em busca de terras férteis. Acompanhado de Ogra e de Beleléu, o protagonista enfrenta diversos perigos até encontrar sua amada. A trama linear ajuda a valorizar as constantes cenas de ação e os encontros com seres mitológicos.

E os desenhos de Shiko, coloridos com aquarela, dão vida a esse mundo fantástico de tribos inimigas. Dá vontade de passar um bom tempo apenas curtindo as páginas, reparando nos detalhes das roupas e armas criadas pelo quadrinista, na maneira como ele usa as cores para dar o tom da história. Os extras no final do livro, com esboços, storyboards e diversas opções de capa, dão uma boa ideia do processo criativo de Shiko e enriquecem a experiência.

Ingá é a HQ mais adulta das quatro lançadas até agora pela linha Graphic MSP. Há muitas cenas de pancadaria, com direito a sangue espirrando, olhos perfurados e homens esmagados. Shiko não poupa nas cenas de violência nem na sensualidade de Thuga e das outras personagens femininas, como M-Buantan. O resultado é ótimo, mas a HQ é mais indicada para os leitores adultos (e os fãs mais antigos).

A aventura de Piteco é a última da primeira leva com releituras da Turma da Mônica em formato de graphic novel, lançada em 2013. Pelo menos seis novos títulos estão previstos para sair entre 2014 e 2015.

Nota do Crítico
Bom

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.