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Crítica

Thanos #1 | Crítica

Jeff Lemire escolhe a tragédia na nova série do Titã Louco

23.11.2016, às 13H34.
Atualizada em 16.02.2017, ÀS 13H56

Com o sucesso da fase Superior do Homem-Aranha, estrelada pelo Doutor Octopus, e da HQ solo de Darth Vader, a Marvel Comics parece ter despertado para o potencial de seus vilões como protagonistas. Doutor Destino agora é o novo Homem de Ferro e Thanos acaba de ganhar uma nova série solo. Mas como gerar empatia por um tipo como Thanos, com seu perfil de divindade intocável? O roteirista Jeff Lemire faz a opção pela tragédia.

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A julgar pela primeira edição escrita por Lemire e desenhada pelo brasileiro Mike Deodato Jr., é uma opção que soa não só justa como até incontornável. Com os anos, Thanos se cercou de novos personagens que fizeram crescer o núcleo cósmico da Marvel ao seu redor, como seu irmão Starfox e seu filho Thane, e desde o começo essas relações se desenharam como um teatro grego, com Starfox (ou Eros, como oportunamente também é chamado) fazendo o oposto dionisíaco ao perfil mais apolínio de Thanos, superior, distanciado. Se a comédia grega sempre envolveu os mortais, o mundano, é na tragédia que os deuses operam.

Na HQ, descobrimos que o Titã Louco retorna aos seus domínios no espaço, o Quadrante Negro, depois de ter sido derrotado em tantas sagas Marvel universo afora. Ao invés de ser recebido com ovação, porém, Thanos descobre que seu antigo lacaio Corvus Glaive assumiu o trono. Esse começo de trama se assemelha tanto a tragédias shakespeareanas - com seus conflitos de sucessão de trono, como em Rei Lear, peça que aliás traz um componente testamental de filiação e legado que já é evidente nesta Thanos #1 - quanto às gregas. Corvus surge encurvado, velho, no desenho de Deodato como se fosse o cego Tirésia de Édipo-Rei, e talvez Corvus até tivesse um conselho ou outro para o Titã, mas seria sempre o portador de más previsões que Thanos, já em curso de tragédia, certamente ignoraria.

O design escolhido por Deodato - as páginas se enchem de quadros nas bordas, mas a ação fica toda concentrada no meio - é particularmente eficiente para impor esse isolamento de Thanos, o rei sem reino, e para ambientar de forma claustrofóbica essa pequena trama de intrigas palacianas e familiares (que como toda intriga palaciana negligencia todo o impacto que provoca no vasto mundo à sua volta). Combinado com recordatórios escritos por Lemire de forma solene, como um coro grego onisciente, esse design permite que a HQ transcorra sem peso, e a ação se funde com o drama de forma harmoniosa. É um ótimo começo de série, embora o futuro seja negro para os personagens de Thanos.

Nota do Crítico
Ótimo

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