HQ/Livros

Entrevista

Omelete Entrevista: Becky Cloonan / Vasilis Lolos

Quadrinistas falam sobre seus trabalhos, como se conheceram e a relação com os brasileiros

08.12.2009, às 00H00.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 04H10

Becky Cloonan e Vasilis Lolos são primeiro parceiros nos quadrinhos, depois um casal.

Ela, nascida na Itália, foi criada nos EUA, mora no Brooklyn, mas está sempre viajando pelo mundo. Ele é grego, e atualmente está decidindo se fica no país natal ou se muda de vez para os EUA - "por causa dos quadrinhos e por causa da Becky", nesta ordem, explica na entrevista abaixo.

Vasilis Lolos

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Vasilis Lolos

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Becky Cloonan

O primeiro trabalho da parceria foi Nebuli, uma HQ em formatinho lançada em 2007 nos EUA, que publicaram sozinhos e vendiam em conveções. São histórias curtíssimas sobre dois astronautas conversando no espaço: um quieto no seu canto, outro elétrico e cheio de imaginação. São respectivamente Vasilis e Becky, pelo que se viu dos dois pessoalmente durante a passagem pelo 6º FIQ, em Belo Horizonte, em outubro.

Não que Vasilis seja totalmente soturno. Seu primeiro grande trabalho, a trilogia The Last Call, mostra uma dupla de adolescentes em altas aventuras a bordo de um trem fantasma (apenas o primeiro volume foi publicado). The Pirates of Coney Island, que ele fez ao lado do roteirista Rick Spears, é outra aventura movimentada em Nova York. E nada tem mais força que uma luta de vikings, que ele desenhou em detalhes técnicos para uma edição de Northlanders.

Cloonan, porém, certamente é mais agitada. Começou fazendo um monte de minicomics para distribuir em convenções, ficou amiga do escritor Brian Wood, os dois estouraram juntos com a série Demo, em 2004, que levou à sua primeira graphic novel (East Coast Rising) e ao trabalho de desenhista regular em uma série da Vertigo (American Virgin) e a muitos, muitos convites.

Os dois ganharam ainda mais proeminência quando, junto aos brasileiros Fábio Moon, Gabriel Bá e Rafael Grampá, ganharam o prêmio Eisner de Melhor Antologia pela pequena 5. Era o resultado de uma amizade que virou parceria, e que levou a Pixu, o álbum que quatro deles (Grampá ficou de fora) publicaram recentemente no Brasil. No momento, todos estão carregados de trabalho nas grandes editoras dos EUA e ainda não falam em novas colaborações.

Na entrevista abaixo, gravada durante o 6º FIQ, Lolos e Cloonan explicam como se conheceram e no que estão trabalhando atualmente. Os dois já prometeram que voltam ao Brasil para o próximo FIQ, então, quem ainda não os conheceu pessoalmente, tem a chance de saber um pouco mais sobre o casal.

* * *

Li Pixu há pouco tempo. A impressão que dá é que vocês escolheram qual era o maior medo de cada um e juntaram todos numa única história.

Lolos: Sim, é uma descrição precisa, faz sentido. Não é o meu maior medo, mas é um dos grandes medos que eu tenho: enlouquecer e morrer sozinho.

Cloonan: Eu fiz a história de Claire e seu namorado Omar. Tem uma parte em que ela corta as unhas e joga na sopa dele. Isso aconteceu mesmo: eu comi as unhas de uma pessoa, uma vez. E foi nojento, assustador. Mas não comi muito. Foi um acidente, ela provavelmente cortou as unhas na mesa e acabou caindo. Mas ela era um pouco louca, então talvez fizesse isso às vezes... Nem tudo é verdade, mas tem alguns acontecimentos estranhos reais que tentei colocar na história.

Li que Moon e Bá conheceram o trabalho de vocês em Nebuli. Como vocês se conheceram pessoalmente?

Cloonan: Eu conheci eles antes. Não lembro se foi em 2003 ou 2004, na San Diego Comic-Con. Na época eu estava trabalhando em Demo, com Brian Wood, e eles tinham acabado de publicar Ursula (versão americana de 10 Pãezinhos: Meu Coração, Não Sei Por Quê), com a mesma editora, a AiT/Planetlar. Nos conhecemos no estande, ficamos amigos e nos vimos de novo no próximo ano. E aí virou aquela coisa de nos encontrarmos todo ano, até que eles propuseram que a gente trabalhasse junto.

Lolos: Eu os conheci em 2005, na minha primeira vez em San Diego. Foi muito bom. São caras bem legais.

Vasilis, você mora na Grécia atualmente?

Lolos: É complicado... Eu meio que moro e não moro, vou muito pros EUA, fico lá quase metade do ano, se não mais. Eu gosto de lá por causa dos quadrinhos e por causa da Becky [risos]. É um lugar legal, penso que talvez me mude pra lá, em breve.

E como vocês dois se conheceram?

Cloonan: Nos conhecemos através dos quadrinhos, quando o Vasilis me escreveu uma carta de fã [risos]. Brincadeira. Ele me escreveu e só disse que gostava do meu trabalho e aí eu acabei...

Lolos: Que eu gostava da sua HQ.

Cloonan: Estou falando a verdade!

Qual HQ?

Cloonan: Ah, foi Demo, não? Oitava edição? É, eu nem tinha terminado de desenhar Demo ainda, mas a oitava edição tinha saído [a série completa teve 12 números] e ele me escreveu dizendo que gostava. E aí uma vez eu estava conversando com um amigo meu, Rick Spears [roteirista de HQ] em Nova York e não lembro bem o que estávamos fazendo, acho que só estavámos lá conversando, e eu disse a ele que tinha conhecido um artista muito legal. Aí um dia eles começaram a trabalhar juntos, e o Vasilis começou a vir no verão para as convenções, então...

Lolos: Foi uma época estranha pra mim porque eu estava bem triste com os quadrinhos. Não conseguia encontrar nada que eu gostasse e aí vi o trabalho dela e achei muito bom. Achei no mesmo estilo, com os mesmos aspectos do meu trabalho. Então falei "Oi, e aí, eu tô fazendo isso, dá uma olhada, espero que goste, eu gosto do seu, me mostra o teu..." [risos]

Quando sai The Last Call 2, Vasilis?

Lolos: Acho que até o Natal eu já terminei, então deve sair alguns meses depois. Porque essas coisas levam um tempo, é assim que as editoras trabalham. Eu estou trabalhando nela, já estou trabalhando há alguns meses. Tive uns problemas... eu não queria mais desenhar, nem fazer mais nada. Mas agora eu voltei ao batente e está ficando muito bom. Eu tinha medo, porque tinha gostado muito do primeiro e não tinha muita certeza quanto ao segundo. Mas ficou melhor que o primeiro, o que é uma ótima surpresa.

É uma trilogia, certo?

Lolos: Sim, infelizmente terei que fazer mais um. [risos]

Você está trabalhando em alguma coisa além de quadrinhos?

Lolos: Sim, faço muita ilustração. É uma coisa que eu tinha parado e que agora estou retornando. Quero fazer um daqueles livros de arte, que já comecei a desenhar. Também espero que saia logo. Também tenho uma coleção de HQs curtas, coisas ótimas, tipo ficção científica, que vão sair pela Oni em breve. Ainda não tem um nome definido.

E Becky, no que você está trabalhando agora?

Cloonan: Eu tenho tipo um milhão de projetos agora. Muitos são pequenos, mas estou envolvido em projetos maiores. Tipo a continuação de Demo, na Vertigo, que começa a sair em fevereiro. Agora estamos trabalhando na quarta edição.

Você está escrevendo? Desenhando?

Cloonan: Brian escreve, eu desenhno. É o mesmo conceito do Demo antigo. Histórias individuais, superpoderes... Se você gostou de Demo, vai ter algo muito parecido. Talvez eu não devesse dizer parecido... É o mesmo tema, mas mais evoluído, mais sombrio. Mais maduro, acho que essa é a ideia. Ficou mais maduro com o tempo. Você tira uns anos de férias de uma série e quando você volta, volta com uma nova perspectiva e novas ideias. Esse é um dos projetos grandes em que estou trabalhando. Também estou fazendo True Life of the Fabulous Killjoys, com Gerard Way. Ainda não sei quando vou começar isso, mas estou trabalhando no design e em coisas iniciais.

Você também faz webcomics, certo?

Cloonan: Sim. Eu faço uma tirinha semanal, chamada The Comic Attack, que é a minha autobiografia. Só histórias verídicas.

E você está escrevendo uma webcomic também, não?

Cloonan: Sim, meu amigo Hwan Cho e eu estamos fazendo uma HQ chamada KGB. Nós fazemos isso como tirinha semanal, e sai toda quarta-feira em kgbcomic.com. Nós sentamos juntos, pensamos na tira, aí pegamos caneta e lápis e desenhamos. Ele é meu vizinho, mora a poucas quadras da minha casa. É divertido ir até a casa dele para desenhar quadrinhos.

Para encerrar, o que vocês estão achando do Brasil? Principalmente dos quadrinhos no Brasil.

Lolos: O Brasil se parece muito com a Grécia. Tem uma coisa da proximidade, da fama não importar tanto. Hoje é meu primeiro dia, então ainda não vi muita coisa. Mas soube que tem muita gente que gosta de quadrinhos e isso é uma coisa boa.

Cloonan: É, eu soube que eu faço muito sucesso no Brasil [risos].

O Omelete agradece ao casal Becky e Vasilis por nos conceder esta entrevista.

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