HQ/Livros

Entrevista

Omelete Entrevista: Brian Azzarello

Uma longa conversa com o quadrinista de 100 Balas, Batman: Cidade Castigada e Superman: Pelo Amanhã

14.12.2010, às 00H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 14H04

Brian Azzarello ficou conhecido no mundo dos quadrinhos na linha Vertigo da DC Comics, onde escreveu a popular série 100 Balas. O sucesso da HQ policial rendeu-lhe convites para trabalhar em personagens já consagrados, como John Constantine (HellBlazer), Batman ("Cidade Castigada") e Superman ("Pelo Amanhã"), além de ajudar a criar o selo First Wave, dedicado a heróis pulps.

O Omelete conversou com o quadrinista durante a convenção Crack Bang Boom na Argentina. Na entrevista, Azzarello falou sobre seus gêneros favoritos, suas influências, a série First Wave, as mudanças na DC Comics e vários outros trabalhos. Confira!

Vertigo Crime

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Vertigo Crime

100 Balas

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Joker

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Joker

100 Balas

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Luthor e Coringa

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Luthor e Coringa

First Wave

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First Wave

Hellblazer

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Brian Azzarello

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Brian Azzarello

Você fala muito das suas influências, que você não lia quadrinhos de super-heróis. Então por que você escolheu trabalhar com HQs desse gênero?

Eu gosto do imediatismo dos quadrinhos. É um processo muito rápido, desde a criação da ideia até a publicação. E é muito legal trabalhar com pessoas, eu adoro colaborações e trabalhar com outros artistas.

Você já pensou em trabalhar com literatura ou cinema?

Já fiz cinema e também já escrevi algumas histórias. No momento, meu agente está negociando um romance, então veremos.

É um romance que você já terminou?

Não, não terminei. Eu realmente não vejo os quadrinhos como forma de se autopromover, uma maneira de sair dos quadrinhos para o cinema. Eu realmente gosto de quadrinhos. Enquanto me pagarem para escrever quadrinhos, eu vou escrever.

Você já falou que sua gênero favorito de literatura é o policial. E no cinema?

Eu gosto de filmes antigos, acho que o cinema dos Estados Unidos dos anos 1970 é o melhor.

E quais são seus diretores favoritos?

Eu gosto de Kubrick, Samuel Fuller... eu gosto daquilo que você acha que eu gostaria. Sou muito previsível. Mas o último filme que eu gostei de assistir foi Machete. Sou fã desses filmes tipo Grindhouse.

O que você gosta na literatura e nos quadrinhos que estão sendo produzidos agora?

O que tenho lido agora...? Acabei de ler um livro chamado Savages, de Don Winslow, que eu realmente gostei. O livro novo de Victor Gishler, The Deputy, foi ótimo. Também leio muitos livros sobre crimes verídicos, mas esses são quase sempre muito mal escritos. E leio quatro jornais por dia, o que leva bastante tempo.

E James Elroy, é uma influência no seu trabalho?

Não. Eu gosto muito dele, mas não diria que é uma influência. Suponho que sou influenciado por tudo que eu leio e vejo, não dá para evitar, mas nunca o citei como uma das minhas influências.

Você propôs alguns trabalhos de fantasia para a Vertigo, antes de começar a escrever 100 Balas?

Eu nunca escrevi fantasia. Eu propus Vingador Fantasma, mas era mais um livro de horror. Mas sabe, não dava para fugir de alguns desses elementos de fantasia na época, porque a Vertigo estava fazendo quase que apenas esse tipo de fantasia sombria - é por essas histórias que eles são conhecidos. Então, sim, você precisa colocar algumas dessas porcarias aqui e ali. Hahahahaha. Mas eu consegui manter essas coisas fora de Hellblazer, que foi uma história bem direta. Tinha magia acontecendo? Talvez sim, talvez não.

Antes, em Hellblazer, ninguém sabia se ele era mesmo um mágico. Ele apenas dizia que conseguia fazer coisas e as pessoas acreditavam.

Isso se aplica a grande parte da história dele. Ele era um mágico, tinha amigos mágicos. Mas todo esse lado golpista meio que desapareceu desse personagem. Para mim, a melhor abordagem possível era levá-lo de volta à sua origem, quando você não sabe o que ele está fazendo.

Mas e as coisas que você escreveu para a First Wave? alguns personagens tinham elementos fantásticos e sobrenaturais.

Não! Nenhum! Cite um.

Doc Savage tinha algumas...

Não. É fantástico, mas é tudo baseado em ciência. Ele não tem superpoderes nem nada assim, não há nenhum elemento sobrenatural. Não há magia. Ninguém consegue voar nesse universo. É igual ao nosso.

Essa série, a First Wave, foi algo que você propôs?

Não, a DC me procurou. Dan DiDio já falava disso há anos, ele estava tentando comprar os direitos sobre esse personagem. Eu falei para ele bem no começo que, se ele conseguisse, eu estava interessado E ele estava querendo que eu trabalhasse no Universo DC há algum tempo, mas nunca fiz grande coisa lá. Aí quando ele conseguiu ele disse, "Consegui aqueles personagens, acho que agora você vai ter que trabalhar na DC, seu linguarudo. Você disse que iria".

Depois de Luthor e Coringa você tem planos de trabalhar com Lee Bermejo, fazendo outras graphic novels de vilão?

Sim, eu e Lee vamos fazer alguma coisa.

Com um vilão da Mulher-Maravilha agora, depois dos inimigos do Superman e Batman?

Talvez! Hahahahaha Quem, a Cheetah? Olha, nós acabamos de tirar a Maserati e a Lamborguini da garagem para dar uma volta. Não há outros carros que cheguem perto disso. A próxima coisa que vamos fazer... bom, eu e Lee estamos fazendo uma coisa que vai fazer vocês surtarem!

No universo DC? Na Vertigo?

DC.

E aquela HQ de Lex Luthor e Coringa que homenageia Calvin & Haroldo, que você fez com Bermejo, para uma edição de Superman & Batman? Como veio essa ideia?

Eddie Berganza era o editor. Ele me ligou e disse que estava montando uma edição de aniversário e que seria ótimo se Lee e eu fizéssemos alguma coisa, usando outros pares de personagens. Ele disse, "seria legal se vocês uma coisa em que Lex Luthor e o Coringa conversam um com o outro, sobre Batman e Superman". E eu achei que essa era a ideia mais ridícula que ouvi na minha vida. Hahahahahaha. No meu ponto de vista, esses dois caras nunca iriam conversar. Lex Luthor não ia querer nada com um louco, sabe. Porque é isso, não importa o que ele faça, quantas pessoas ele mate, o Coringa ainda será um louco, o tipo de pessoa a quem Lex não daria importância. Então eu disse "você está louco, Eddie". Mas aí eu pensei melhor e disse, "bom, são só duas páginas". Aí pensei que poderia funcionar se fizéssemos isso como se fosse Calvin & Haroldo, porque não é como se eles fossem se conhecer de verdade... são só dois personagens juntos. E um deles é louco de qualquer maneira. Mandei um e-mail pro Lee explicando, e ele não se animou muito. Primeiro eu contei a ideia do Eddie e ele também achou bobo, aí expliquei a minha e decidimos que tínhamos que fazer. A United Features, que distribui as tirinhas do Calvin, amou a paródia.

A DC Comics está passando por algumas mudanças no momento, com a DC Entertainment e você é um dos principais criadores da editora. Já te pediram para criar coisas novas para eles, coisas que funcionariam em outras mídias? Você já teve essa conversa, sobre abordagens para cada mídia?

Não acho que uma mudança de abordagem é algo tão grande como vocês pensam que vai ser. Quanto à criação de quadrinhos, eles não estão sendo criados para serem levados para outro lugar. As histórias não estão sendo escritas porque podem virar bons filmes. As histórias estão sendo escritas porque vão dar bons quadrinhos. Isso é algo no qual estou envolvido. Mas nós não nos tornamos um "braço" da Warner Bros. A maneira como interagimos com eles mudou, mas o nosso jeito de criar não mudou. Vai mudar? Eu não sei. Sabe, a imprensa pula nisso e faz parecer o fim dos tempos, dizendo que a Warner comprou a DC e agora tudo vai ser criado só para cinema. Também disseram isso quando a Disney comprou a Marvel e o que aconteceu? Nada.

E a Vertigo é tratada diferente, nesse quesito?

Sim, é tratada de maneira diferente. Basicamente, quando eu faço coisas no Universo DC, eu brinco só um pouco. Mas a Vertigo é a minha casa.

Você tinha mencionado, em uma entrevista anterior, que só aceita trabalhar com um personagem se você vê nele uma boa história. Você acha que todos os personagens podem render boas histórias?

Não, nem todos os personagens podem ter boas histórias. Isso porque alguns personagens são derivados de outros. Ok, estou sendo meio extremista dizendo que não dá. Talvez pensando bem, você consiga. Mas você deve considerar se a ideia é atraente e ainda precisa se manter fiel à essência do personagem. Alguns personagens não me atraem e cheguei num ponto de minha carreira em que posso recusar projetos. Quando eu fizer alguma coisa muito diferente, vocês vão saber que eu estava muito perto de ser despedido. Hahaha.

Como é seu contato com artistas brasileiros, como como Rafael Grampá e os gêmeos, Moon e Bá? Grampá disse que foi você que o convidou para trabalhar em Hellblazer.

Nós nos conhecemos em San Diego, na Comic-Con. Grampá me entregou Mesmo [Delivery] e disse que queria me conhecer. Eu achei aquele livro incrível e disse, "Meu Deus, por que eu nunca ouvi falar disso antes?". E ele disse que se houvésse uma oportunidade, ele gostaria de trabalhar comigo. E eu disse, "Nós vamos fazer essa oportunidade aparecer". E quando aquela história do Hellblazer apareceu, e seriam só oito páginas, eu pedi ao meu editor para entrar em contato com ele para ver se ele queria fazer Hellblazer [veja Constantine por Rafael Grampá]. Então sim, eu o convidei para fazer Hellblazer, mas também já tínhamos conversado um pouco e queríamos trabalhar juntos. E os gêmeos, já fazia tempo que eu queria trabalhar com eles.

Você já leu outros quadrinhos do Moon e do Bá que estão saindo, como Daytripper?

Não, não li. Sou um cara que espera para as coisas saírem. Eu conheci Moon e Bá há muito tempo, quando eles estavam fazendo aqueles quadrinhos indies e iam para a Comic-Con todos os anos. Foi muito legal ver a evolução deles, e quão fortes eles se tornaram nos últimos anos. Conheci eles há 15 ou 16 anos.

Você pretende lançar novas histórias de crime, futuramente?

Estou trabalhando em um novo gibi de crime, sim. Olha, acho que não faço nada que não tenha um certo elemento de crime. Coringa foi uma história sobre crime. Haverá um crime em Spaceman. Hahahaha. Haverá um crime, alguém vai quebrar a lei. Hahahaha.

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