Depois de quase duas décadas de seu lançamento, Os Sete, livro de estreia de André Vianco, ganhará uma nova edição. O livro, originalmente autopublicado em 2000 e que ao longo dos anos se transformou em um clássico da fantasia nacional, ganhou uma nova edição, agora pela Editora Aleph. Em entrevista exclusiva ao Omelete, o autor comenta sobre o relançamento e as expectativas de crescimento da ficção nacional.
Omelete: Qual o sentimento em ver seu primeiro livro, com todo o significado que ele carrega, ser relançado por uma editora como a Aleph?
André Vianco: Apesar de tantos anos de estrada, estou muito ansioso. Esse relançamento tem muito significado para mim. A Aleph é uma editora que tem fãs, eu sou um autor que tem fãs. Essa união vai ser ótima.
Omelete: Nos últimos anos percebe-se que as obras de ficção dentro da cultura pop foram marcadas por forte influência de gêneros como terror, ficção científica e fantasia. Você acha que o relançamento dos Sete pode se beneficiar deste movimento?
Vianco: Sim, sem sombra de dúvida. Além disso, os leitores estão mais receptivos para autores nacionais. Apesar de eu ter cavado esse caminho na marra lá em 2000, ainda sou um autor a ser descoberto por muitos leitores do gênero.
Omelete: Diferentemente de outros autores que escrevem ficção nacional, a sua obra traz uma ambientação no Brasil. Como é esse processo de criação e quais são os principais desafios?
Vianco: É pura birra! Eu sempre me ressenti por Manhattan ser destruída um zilhão de vezes e nada acontecer aqui no Brasil. Dai eu criei minhas feras, meus monstros, para destruir Osasco. Missão cumprida. O pior desafio, no começo, era o preconceito do leitor com obras de terror e fantasia onde as personagens flanavam nesse cenário brasileiro, usando bonés da 51 e falando de problemas que reconhecemos, pernoitando no Rancho da Pamonha para fugir de vampiros e coisas do tipo, mas os meus leitores logo sacaram que o barato das histórias não era onde, mas o que ia dentro dos personagens e logo essa escolha do cenário nacional se tornou um atrativo e não um obstáculo.
Omelete: Fora os vampiros e outras criaturas sobrenaturais, você acredita que tenha algum tema que permeie toda a sua obra?
Vianco: Acho que o que costura tudo que eu escrevo seja a nossa percepção de finitude, o chamado "memento mori". Sou um melancólico de raiz, sempre fui seduzido pela estética do gótico, é onde sinto conforto em transitar com meus textos e sentimentos por mais melodramáticos que pareçam.
Omelete: Você sente que a fantasia nacional, depois de 16 anos de lançamento do livro, é uma realidade mercadológica no Brasil? Você vê isso partindo para outros formatos, como o audiovisual em breve?
Vianco: Eu acho que temos poucos autores e autoras ainda, acho que temos muito espaço a ser conquistado, que esse movimento da fantasia nacional ainda está só no começo. Fico orgulhoso de ajudar a fortalecer o gênero, mas temos muito o que fazer ainda para chamarmos de "nossa literatura de fantasia" a começar por criar uma literatura com mais cara de Brasil e não apenas ficar imitando a forma que vem de fora. Nós, fãs e autores de fantasia, terror e ficção científica, estamos com a faca e o queijo na mão. Agora o leitor escolhe direto na fonte o que quer ler, não precisamos mais da validação de uma editora. Antes escritores sonhavam em aparecer no Jô Soares, na capa da Veja, hoje o bom é estar conectado com o mundo. Estou sempre com a mente ligada em outras plataformas. Ainda sonho com um seriado do Vianco arrebentando.
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