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Justiceiro | A trajetória do anti-herói nos quadrinhos

Da violência nos anos 1970 à reinvenção, 40 anos de histórias memoráveis

15.02.2016, às 14H45.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Ele tem uma caveira no peito, cara de nenhum amigo, uma arma em cada punho e a convicção de que só existe um jeito de acabar com a bandidagem no mundo. O Justiceiro está prestes a estrear na TV como um dos antagonistas da segunda temporada de Demolidor, e com mais de 40 anos de história, três filmes no currículo e várias fases de sucesso, Frank Castle pode voltar a ficar em alta - fala-se até em seriado próprio.

Anos 70: Origem

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Apesar da relação Justiceiro/Demolidor estar na cabeça de muitos leitores, o homem da caveira no peito teve sua estreia na série do Homem-Aranha - em Amazing Spider-Man #129, de fevereiro de 1974. Frank Castle é o assassino contratado por um vilão, o Chacal, para matar o Aranha. O aracnídeo só não morre porque o próprio Chacal interfere na missão.

Um dos personagens mais violentos da Marvel Comics, com sua filosofia de júri e executor, o Justiceiro tem uma trajetória muito particular nos quadrinhos: tinha tudo a ver com a época em que foi criado, passou quase uma década esquecido, chegou a ser um dos personagens mais importantes da Marvel e teve uma queda brusca, recuperada apenas por histórias memoráveis. Na galeria abaixo nós contamos um pouco dessa história.

Anos 70: Inspiração

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A ideia do Justiceiro surgiu do roteirista Gerry Conway, o moleque de 19 anos que sucedera Stan Lee em Amazing Spider-Man. Ele escrevia a revista do Aranha há pouco mais de um ano e estava atento à onda de criminalidade nos EUA do início dos anos 1970, que inspirou Dirty Harry e Desejo de Matar no cinema. Tal como esses vigilantes da época, Justiceiro enfrentaria violência com violência.

A primeira HQ solo

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A proposta do anti-herói chamou atenção. Ele voltou à série do Aranha ainda em 1974, e no início de 1975 estreava sua primeira aventura solo, em Marvel Preview, revista em formato maior, em preto e branco, voltada para adultos. Gerry Conway escreveu a HQ, que pela primeira vez tratava das origens de Castle: ex-fuzileiro no Vietnã, testemunhou esposa, filho e filha serem assassinados durante um piquenique no Central Park, depois que a família deu de cara com uma execução da máfia. Combater o crime é uma missão de vingança por tudo que ele perdeu.

Anos 2000: Marvel MAX

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Garth Ennis viria a ficar oito anos como escritor do personagem. Da abordagem inicial, com mais comédia, ele passou à seriedade total. Primeiro, na minissérie Nascido para Matar, onde mostra que a psicose de Castle começou no Vietnã, antes de ele perder a família. E em seguida na longa e elogiada série para o selo adulto Marvel MAX. A fase Ennis serviu de inspiração para os dois filmes lançados na década, respectivamente com Thomas Janes e Ray Stevenson no papel principal.

O executor

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Anos depois da origem em 1974, Gerry Conway admitiria que a principal inspiração de Justiceiro havia sido Mack Bolan: The Executioner, uma série de livrinhos criada por Don Pendleton nos anos 1960 e 1970. Mack Bolan também era um ex-combatente do Vietnã que perdera a família (pai e irmã, no caso) para a Máfia e deu início a uma missão de vingança massacrando criminosos.

Anos 70: Conceito

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Gerry Conway já tinha usado o nome original do personagem, Punisher, em um supervilão do Quarteto Fantástico. Stan Lee convenceu-o a repetir. Ross Andru, desenhista da série do Aranha, fez os primeiros esboços a partir de orientações de Conway. Nas mãos do diretor de arte da Marvel, o lendário John Romita, o personagem ganhou a caveirona estourada no peito, cujos dentes são o pente de balas no cinto.

Anos 80: Coadjuvante do Aranha

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O Justiceiro seria coadjuvante recorrente nas histórias do Homem-Aranha durante os anos 70 e 80. Não era exatamente um vilão, pois não se opunha e vez por outra ajudava o Aranha. Mas também não era exatamente um herói, pois heróis na Marvel não matam ninguém (pelo menos na época), e frequentemente o vigilante era retratado como um psicopata.

O que vem por aí

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Em outubro de 2015, foi anunciada a nova (e décima) série justiceiriana. Becky Cloonan será a primeira mulher roteirista numa revista do personagem, e vem acompanhada de Steve Dillon, desenhista veterano que trabalhou com Garth Ennis e Jason Aaron em outras fases do Justiceiro. A Marvel ainda não deu previsão de estreia da nova revista, mas com a Netflix falando em Justiceiro a todo momento, as armas de Frank Castle não vão ficar frias nos quadrinhos por muito tempo.

Anos 80: Contra Demolidor

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O paradoxo do anti-herói que é um psicopata veio à tona quando Frank Miller aproveitou o personagem numa história do Demolidor. Hoje clássica, como toda a fase de Miller, a sequência mostra o Demolidor tentando impedir que o Justiceiro mate traficantes responsáveis pela morte de crianças. Matt Murdock acredita que os bandidos devem ser julgados pela Justiça, Castle acredita que a única correção é chumbo grosso. A discussão entre os dois segue até hoje.

Anos 2010: Na Califórnia

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A última investida da Marvel com o anti-herói foi uma nova HQ mensal com o escritor especialista em tramas militares Nathan Edmondson e o desenhista Mitch Gerards. O mote da série foi mudar a base de operações tradicional do Justiceiro para Los Angeles. Com pouca receptividade de público, a série morreu quase despercebida na revitalização de toda a linha Marvel em fins de 2015.

Anos 80: Círculo de Sangue

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Steven Grant, roteirista que estava tentando uma chance de escrever o Justiceiro desde a criação do personagem, finalmente teve uma minissérie aprovada em 1985. Fez dupla com Mike Zeck, desenhista que acabava de sair do megasucesso Guerras Secretas. A minissérie, que ganharia o título Círculo de Sangue, é um marco: definiu o Justiceiro calculista mas com um compasso moral firme contra a bandidagem. Mais do que isso, tirou os super-heróis da vida de Castle, que sempre o impediam de cumprir suas missões como queria: com execuções.

Anos 2010: Nos Thunderbolts

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Também nos anos 2010, mas cravado na cronologia Marvel, o Justiceiro participou de sua primeira superequipe na nova formação dos Thunderbolts. A versão da equipe comandada pelo Hulk Vermelho também incluía Deadpool, Venom e Elektra - e esta acaba virando par romântico de Frank Castle.

Mais licenças na linha MAX

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Em paralelo à fase de Greg Rucka, a versão mais adulta do personagem também foi revista. Como se definiu que a série da linha MAX estava em cronologia diferente e tinha mínima relação com o Universo Marvel, o roteirista Jason Aaron e o desenhista Steve Dillon resolveram contar uma nova versão da ascensão do Rei do Crime em Nova York, inclusive criando novas versões de Elektra e do Mercenário. A trama teve um final trágico.

Anos 2010: Meio a meio

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A década começou com mais uma reformulação. Em nova série (a oitava?), Frank Castle foi entregue ao roteirista Greg Rucka para uma abordagem meio a meio: o Justiceiro voltaria a ser o cara com a missão de acabar com a bandidagem, mas também ficaria plantado firme no Universo Marvel de super-heróis e supervilões.

Anos 2000: Frankencastle

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Durante a volta de Justiceiro ao Universo regular, Rick Remender inclusive deu sequência a essa fase paralela ao selo MAX transformando a missão do herói em matar supervilões e, depois, voltando a elementos sobrenaturais: Justiceiro morreu de novo e virou um monstro zumbi chamado Frankencastle. A ideia não foi totalmente detonada pelos fãs e durou pouco mais de um ano.

Anos 80: A primeira HQ mensal

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O sucesso de Círculo de Sangue rendeu a primeira série mensal do Justiceiro, em 1987. O roteirista Mike Baron criou um coadjuvante, Microchip, gênio da informática que fazia todo o serviço de bastidor para o Justiceiro cair matando na criminalidade. Outra ideia de Baron, muito comentada à época: depois de matar os bandidos, o Justiceiro sempre ficava com as pilhas de dinheiro dos mortos para financiar sua operação.

Reintegrado ao Universo Marvel

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Enquanto Garth Ennis tinha carta branca para fazer o que bem entendesse, a Marvel resolveu usar o Justiceiro em seu universo de heróis. Em 2007, relançou Punisher War Journal justamente com esta abordagem: sem relação com as séries de Ennis, a nova revista mostrava Castle voltando a contracenar com Homem-Aranha, Demolidor, Capitão América, Hulk e supervilões de sobra. Matt Fraction e Rick Remender comandaram essa fase nos roteiros. 

Anos 80: War Journal

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Personagem com duas séries mensais era coisa rara nos anos 1980, mas, um ano depois da primeira, o Justiceiro já estrelava também Punisher War Journal - lembrada até hoje por alguns dos primeiros trabalhos de Jim Lee. Embora a proposta fosse a mesma da outra série, esta até permitia uma e outra participação de super-herói: Wolverine fez uma parceria memorável com Castle nas primeiras edições.

Anos 2000: Ennis, Dillon, Bradstreet

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Detonada pelos leitores, a minissérie "angelical" foi varrida para baixo do tapete. No início de 2000, Joe Quesada e Jimmy Palmiotti entraram na linha: contrararam Garth Ennis e Steve Dillon, dupla do recém-encerrado hit Preacher, para tratar o personagem com o mesmo tom de violência e comédia da HQ da DC/Vertigo. Com Tim Bradstreet nas capas, essa fase é uma das mais elogiadas pela crítica e querida pelos fãs.

Anos 90: A estreia no cinema

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O Justiceiro foi um dos primeiros personagens da Marvel a ir para o cinema - e também um dos primeiros desastres. Justiceiro, de 1989, traz Dolph Lundgren no papel principal e mexe bastante com o conceito original: inclusive tira a marcante caveira do peito. Exibido no cinema em alguns países da Europa, o filme foi vítima da crise financeira da produtora New World e acabou saindo direto em vídeo nos EUA, só em 1991.

Anos 2000: Anjo da Morte

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O mercado e a Marvel Comics começaram a se recuperar no início do novo milênio. Convocados como grande promessa, os autores-editores Joe Quesada e Jimmy Palmiotti receberam quatro personagens para revitalizar numa linha chamada Marvel Knights. Justiceiro era um deles, numa releitura radical: escrita por Christopher Golden e Tom Sniegoski, com desenhos do veterano do terror Berni Wrightson, a minissérie mostra Castle cometendo suicídio e saindo do túmulo com poderes sobrenaturais.

Anos 90: O auge

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Apesar do tropeço no cinema, o início dos anos 1990 corresponde ao ápice do sucesso de Frank Castle. Além das duas séries mensais, o Justiceiro ganhou mais uma trimestral, Punisher Armory, dedicada somente a detalhes técnicos de seu armamento; sua terceira mensal, Punisher War Zone; e a Punisher Magazine, de republicações em formato maior e em preto-e-branco, para público mais adulto (estratégia editorial que se repetiu no Brasil, na primeira série do personagem por aqui). 

Mafioso

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O mercado de quadrinhos dos EUA caiu violentamente no meio dos anos 1990. Justiceiro foi uma das vítimas: suas três séries foram canceladas simultaneamente em 1995. Tentou-se uma nova série logo depois, entre 1995 e 1997, em que Castle virava chefão de uma família mafiosa, mas que durou pouco apesar de roteiros de John Ostrander, cultuado por alguns fãs.

Anos 90: Justiceiro do futuro

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Justiceiro também estrelava semanalmente nos anos 1990 edições especiais, minisséries, graphic novels e republicações de suas histórias de maior sucesso. Era figurinha fácil em outras séries Marvel; conseguir uma participação especial do Justiceiro na sua revista era garantia de subir as vendas. Castle apareceu até na infantil Quarteto Futuro.E tinha sua versão futurista (e mais violenta): o Justiceiro 2099, inserido numa distopia em que até a polícia cobrava da população para oferecer serviços básicos de proteção.

Anos 90: Chuck Dixon faz a festa

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Com tanta série a alimentar, a Marvel tinha que recorrer a dezenas de roteiristas que dessem conta de um personagem que tinha poucos coadjuvantes, quase nenhum vilão recorrente e, por conta disso, era pouco dado a histórias em capítulos - geralmente era só um. Na época, o roteirista mais apto a escrever estas histórias pequenas sem cair numa só fórmula era Chuck Dixon, também prolífico roteirista do Batman no mesmo período (ele escreveu inclusive o crossover dos dois), e americanão conservador aficionado por armas de fogo e história das guerras. Feitos um para o outro.

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