Kim Kardashian em American Horror Story: Delicate (FX/Divulgação)

Créditos da imagem: FX/Divulgação

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Delicate pode ser o grande retorno de American Horror Story

Respirando por máquinas há temporadas, franquia de terror de Ryan Murphy pode voltar à relevância com a ajuda de uma estrela inusitada

Omelete
5 min de leitura
20.10.2023, às 19H09.
Atualizada em 27.11.2023, ÀS 08H04

Houve um tempo quando American Horror Story era um dos projetos mais "cool" da televisão. Enquanto boa parte das séries, especialmente as dramáticas, estava em busca de atingir o status quo que Mad Men e Breaking Bad estabeleceram para o meio, eis que Ryan Murphy decidiu que iria colocar no ar uma antologia de terror com grandes atores e temas absurdos. A manobra deu certo durante um tempo: a série ganhou prêmios, conseguiu reviver a carreira de muitos astros (Jessica Lange é o principal exemplo) e trouxe uma espécie de respaldo para o criador. Hoje em dia, American Horror Story é quase a série que faz com que as pessoas se perguntem: "nossa, isso ainda existe?". No entanto, Delicate, o 12º ano da produção, que encerrou sua primeira metade nesta sexta-feira (20), pode ter a chance de recolocar o título de volta às graças do público. Vale frisar, antes de continuarmos, que a produção de Delicate foi impactada pela greve dos atores e roteiristas, e teve seu lançamento foi dividido em duas partes.

À primeira vista, Delicate não tem muito a seu favor para justificar tanta promessa. Levemente baseada no romance Delicate Condition, da autora Danielle Valentine, a trama segue a atriz Anna Victoria Alcott (Emma Roberts) em um momento bastante delicado – como o nome já indica – da vida. Após anos trabalhando em séries teens, ela finalmente parece ter a grande chance da carreira quando seu novo projeto nos cinemas a impulsiona como uma possibilidade na disputa pelo Oscar de melhor atriz. Enquanto isso, na vida pessoal, ela e o marido Dexter (Matt Czuchry) estão tentando conceber um bebê por Fertilização In Vitro (FIV) e passando por dificuldades no processo. Com o tratamento, Anna percebe que está cada vez mais esquisita, neurótica e alucinando. No entanto, conforme os dias passam, suas alucinações se tornam cada vez mais perigosas e intrusivas, ao ponto dela se sentir perseguida por entidades diabólicas.

Sim, é basicamente o Bebê de Rosemary dos anos 2020, só que com a assinatura clássica da franquia, com aqueles sustos fraquinhos e metódicos, a estética regada a preto e sangue, a edição quase esquizofrênica e abafada nas sequências assustadoras e todo o circo que já conhecemos. O que American Horror Story tem de diferente este ano, e que talvez seja a grande salvação, tem duas palavras: Kim Kardashian. A imagem da estrela da Keeping Up With the Kardashians se expandiu na última década ao ponto que sua relevância no centro da cultura pop não é mais tão questionada como antes. Suas empreitadas comerciais seguem rentáveis, e seu sobrenome permanece fixo no epicentro das fofocas e do entretenimento. Até o seu anúncio na nova temporada foi capaz de relembrar daquele caos generalizado que tomou conta das redes quando Lady Gaga se juntou ao elenco de Hotel, quinta temporada da franquia, em 2015. E quando digo que Kim faz a primeira metade de Delicate valer a pena, não é um exagero.

Kardashian dá vida a Siobhan Corbyn, a implacável agente de relações-públicas de Anna Victoria durante a campanha pelo Oscar. Siobhan personifica os estereótipos sujos dos empresários do mundo do entretenimento, com falas agressivas e sem o menor medo do cancelamento ("Você quer um Oscar? Você deseja isso tanto quanto um bebê?", exemplifica seu tom na trama). Coincidentemente, Siobhan também está no centro da trama mais empolgante de Delicate: a maratona de imprensa para o prêmio da Academia e toda a publicidade intensa que cerca os esforços de um ator em busca da vitória. Já que American Horror Story não entrega tanto terror como antes, a metade da temporada pelo menos exerce o seu papel como um produto voltado ao público LGBT e abraça o lado camp como nunca – afinal, uma trama focada em uma jovem atriz se preparando para fazer campanha para o Oscar não poderia ser mais gay friendly.

Assim como todas as outras produções de destaque assinadas por Murphy, a trama injeta cada miligrama de referência pop na veia e corre sem medo. Em apenas cinco episódios, somos imersos em diálogos sobre nepo babies – um episódio dirigido por Jennifer Lynch (filha do diretor David Lynch), vale notar –, insinuações sobre vestidos históricos que são despedaçados no tapete vermelho, a presença de agentes de relações-públicas lutando para conter o cancelamento de astros e toda e qualquer menção ao absurdo que é o mundo do entretenimento. Conscientemente ou não, o texto, pelo menos nesse arco, oferece perspicazes insights sobre a indústria e lança críticas contundentes ao machismo estrutural enfrentado pelas atrizes para prosperar nesse ambiente.

Já o lado Bebê de Rosemary da trama não traz perspicácia alguma. Tudo é comprometido por um roteiro fraco que leva a personagem de Roberts por diversos caminhos desconexos e subtramas desnecessárias — adicionando ainda os coadjuvantes mais desinteressantes da temporada para acompanhá-la nesses segmentos. O que agrava a situação é perceber que, mesmo com metade da temporada ainda pela frente, já está mais que claro que a personagem de Kim Kardashian está claramente relacionada à trama da gravidez de alguma forma. Ou seja, o mistério da vez já não tem muito impacto, enfraquecendo a tensão e o terror que a trama pretende alcançar. Pelo menos, o último episódio da primeira parte da temporada deixa um gancho muito interessante, que obviamente tem a ver com a trama hollywoodiana. Mas tudo indica que a sátira do mundo do entretenimento e o terror da gravidez vão finalmente se encontrar.

No final das contas, Delicate funciona como se duas séries diferentes estivessem tentando impulsionar uma única história, porém, apenas uma delas consegue ter um impacto suficiente para tornar cada episódio digno de ser assistido.

American Horror Story: Delicate está disponível no Star+ e a segunda metade da temporada ainda não conta com previsão de estreia.

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