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3% tem um conceito fascinante, mas falhas na execução prejudicam a série

Assistimos a dois episódios da primeira produção brasileira da Netflix

23.11.2016, às 17H30.
Atualizada em 04.07.2019, ÀS 17H43

"Vai ficar tudo bem. Você é o criador do seu próprio mérito." Essa é uma grande frase de efeito de 3%, a primeira série brasileira da Netflix. Ela é usada para receber todos os candidatos do Processo, seleção através da qual um pequeno grupo de jovens é selecionado para deixar a pobreza e fome do Continente e ir até o Maralto, uma terra de riqueza, beleza e conforto.

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Enquanto muitas distopias deste tipo - como Jogos Vorazes Divergente - falham em estabelecer "o sistema" como algo convincente, são momentos como este que ajudam a diferenciar 3% das diversas outras obras de ficção científica que exploram um futuro quase apocalíptico onde a sociedade está dividida entre os opressores e opromidos. Aqui, você realmente se questiona. Talvez o processo seja realmente justo. Afinal de contas, no Continente não há nem água para tomar banho. Talvez isso esteja acontecendo porque as pessoas presentes ali não são merecedoras, não conseguem contribuir em nada. Já no Maralto, só há alegria.

Isso, claro, é uma grande mentira. A meritocracia apresentada na série é completamente falsa, o sistema é corrupto e injusto e há maneiras melhores de governar o povo. Mas o maior mérito de 3% é argumentar tão bem o lado errado para o espectador e para os personagens. A lavagem cerebral é constante e eficaz - entretanto, 3% acaba chutando a bola na trave quando está na cara do gol.

As provas da série e todos os aspectos do processo contribuem para criar uma forte atmosfera de tensão e suspense. Quando um teste acaba, ficamos tão aliviados quanto os personagens. Ao contrário de algo como Jogos Vorazes, o teste apresentado aqui é realista e parece ser algo que veríamos em um reality show totalmente perturbado e insensível, aplicado à toda sociedade com uma conotação muito pior e permeado de um humor negro.

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3% é uma série que vai se beneficiar muito do formato Netflix de lançar tudo de uma vez. Mas como tantas obras de ficção científica, ela vai precisar ter personagens tão competentes e fascinantes quanto os mistérios de sua trama para sobreviver.

Assim como os atores precisam trabalhar para nos convencer das personalidades e atitudes dos seus personagens, 3% também tem um desafio parecido. Não fica claro o quão grande é a diferença entre o Continente e Maralto. Os personagens repetem, constantemente, que um é terrível e o outro é lindo, mas essa é a hora que 3% precisa aplicar um pouco da regra "mostre, não fale."

O Continente é claramente desfavorecido, mas a tecnologia, riqueza e vida dos habitantes lá do Maralto que estão gerenciando o processo não são avançadas ou impressionantes o suficiente para compensar esta falta de desenvolvido do "lado de cá." Talvez isso seja um problema que surgiu por limites na produção, mas ainda é um problema.

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Felizmente, 3% continua com um saldo positivo depois disso tudo. A série tem diversos pequenos detalhes, como escolhas interessantes de design de figurino nas roupas dos habitantes do Maralto e tecnologias avançadas que também parecem ser reais, que contribuem no lado sci-fi da mitologia estabelecida pelos roteiristas. E apesar dos limites, a produção tem um bom nível e impressiona quando comparada a outras produções nacionais.

Os habitantes do Maralto que aplicam o processo para selecionar quem passará para o "lado de lá" dizem que os participantes têm tudo para conseguir o sucesso. Na série, isso não é necessariamente verdade, mas 3% certamente tem todas as chances para virar um fenômeno.

3% estreia na Netflix em 25 de novembro.

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