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9-1-1 | Procedural de Ryan Murphy tem estreia discreta, mas cheia de energia e drama

Primeiro episódio foi exibido na última quarta-feira (3), nos EUA

06.01.2018, às 10H36.
Atualizada em 16.01.2018, ÀS 19H18

A primeira pergunta que precisamos nos fazer é o que seriam dos procedurais se não existissem as profissões de alta periculosidade. As séries que sobrevivem de episódios focados em casos isolados sustentaram a TV por muito tempo, dando às redes a falsa impressão de que o público não seria capaz de se dedicar a tramas fragmentadas.

9-1-1/Fox/Reprodução

Médicos, bombeiros, paramédicos, policiais, todas as profissões que lidam com risco iminente passaram a ser a "galinha dos ovos de ouro" do mercado e acabaram por provocar uma espécie de hipnose característica - caso contrário, a franquia CSI não seria tão bem sucedida.

Ryan Murphy e Brad Falchuk são nomes que ficaram conhecidos por Glee e American Horror Story. Mas alguns devem se lembrar que a primeira série de sucesso dos dois se chamava Nip/Tuck e contava a história de dois cirurgiões plásticos que estavam dispostos a operar qualquer caso em troca de muito dinheiro. A série teve três temporadas muito bem sucedidas e premiadas; e outras três extremamente irregulares. Embora a vida pessoal dos médicos costurasse a narrativa, sua força estava no fato de que toda semana apresentaria casos novos que chocariam a audiência. 9-1-1 é como o retorno dos criadores, acompanhados de Tim Minear, ao gênero procedural, agora com a responsabilidade de tornar atraente uma fórmula que já não impressiona o mercado como antigamente.

Shonda Rhymes conseguiu levantar seu império com procedurais que se aproveitavam cada um de um elemento dramático específico, como Grey's Anatomy, que se esforçava em abordar romances e tragédias entre os médicos do hospital onde se passava a história. Outro exemplo é The Good Wife, que segurava as pontas com um texto muito elegante. Hoje em dia, há até mesmo as "temporadas procedurais", com séries que renovam seus planejamentos do zero, como nas antologias, ou apenas colocam seus personagens em novos enredos, a exemplo de O Exorcista e The Killing.

Under Pressure

9-1-1 foca sua estreia naquilo que é importante: o ritmo. Nesse tipo de série, já sabemos que só conheceremos os personagens direito no decorrer dos episódios.

Mesmo assim, sabemos que Abby Clark (Connie Britton) será a "costura" dos enredos, justamente por ser a operadora do serviço de emergência americano. Ela é solitária, a mãe tem uma doença degenerativa e seu trabalho é melancólico, já que nem sempre ela é capaz de ver o final das histórias que lhe chegam todos os dias. A série começa com sua narração em off, um recurso do gênero crônico que foi lançado por Sex And The City lá atrás e que aparece em 80% das produções contemporâneas. Isso causa familiaridade e ajuda a aproximar o público.

Peter Krause é o experiente bombeiro Bobby, que se apresenta como um alcóolatra em recuperação numa cena de confessionário que é 100% Ryan Murphy. Ele é a experiência em contraponto com a inconsequência juvenil de Buck (Oliver Stark), que se diagnosticou como viciado em sexo enquanto tenta convencer o chefe de que pode ainda ser um bom profissional.

Por último, Angela Basset é a policial Athena, que enfrenta o drama de ver o marido assumir-se gay depois de muitos anos de casados. A perspectiva da mulher nesse tipo de relação é pouco explorada e só na sequência que envolve uma discussão sobre isso já fica evidente que esse é um caminho muito válido do roteiro. Os dados sobre cada um dos protagonistas são pequenos, mas o suficiente para estabelecer os aspectos humanos da série.

Dito isso, 9-1-1 é entretenimento da melhor qualidade. Apesar dos dramas pessoais, o texto é cuidadoso. O ritmo é muito intenso, nervoso, sem muito humor, mas completamente condizente com o universo que propõe explorar. Assim como fez com Nip/Tuck, Murphy escolheu um nicho no qual pode explorar todos os mais bizarros casos emergenciais e, já no primeiro episódio, há dois deles que são bem inusitados.

A direção é concisa e sabe estabelecer a ação final de uma maneira eletrizante. Em pouco tempo você já está envolvido com os personagens e as situações, o que é um talento notório dos produtores e essencial para que a fórmula procedural sobreviva. Nem sempre haverá casos interessantes, mas se os protagonistas forem, a série sempre terá uma alternativa de catarse.

Murphy e sua equipe não são infalíveis. Scream Queens, The New Normal e Open (que nem saiu do papel), são exemplos de fracassos - embora tenham também seus méritos. Mas, considerando o público-alvo, o enredo e o digno valor de produção do seriado, é possível prever que 9-1-1 terá grande chances de se tornar outra mina-de-ouro da Fox.

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